Tecnologia é a parte mais fácil da transformação digital, diz John Chambers

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10:07 am - 09 de junho de 2015

Quando o assunto é disrupção digital, ao contrário do que se pensa, a tecnologia não é o elemento mais importante, segundo o CEO e chairman da Cisco, John Chambers. Para ele, a quebra de paradigmas exige nova cultura e novo posicionamento corporativo.

Durante o Cisco Live, sua última aparição oficial ocupando a principal cadeira da empresa, o executivo, que vai deixar o posto e passará para um lugar no conselho da fabricante, afirmou que a mudança cultural e corporativa são essenciais nesse novo cenário, deixando a tecnologia em segundo plano.

“A era digital vai transformar o que temos hoje e a tecnologia é a parte mais fácil. O desafio é mudar o processo e a cultura. É sobre isso que quero falar”, disse no evento que acontece de 7 a 11 de junho em San Diego (EUA). Ele lembrou que nos próximos dez anos, cerca de 40% das empresas deixarão de existir, não só em razão das mudanças do mercado, como também porque os negócios estão falhando na missão de se reinventar rapidamente ou porque preferem continuar na zona de conforto, optando por não arriscar.

Segundo ele, as empresas falham porque não acompanham as mudanças do mercado. “Líderes têm de reinventar a empresa, algo que tem sido vivenciado por companhias Uber e Airbnb”, afirmou, reforçando que o foco delas não é transporte ou hospitalidade e, sim, TI. “É preciso mudar drasticamente para ganhar. A mudança pode nos fazer sentir um desconforto, mas seremos disruptivos ou interrompidos?”, questionou. Se a companhia não mudar, prosseguiu, não há como evoluir e os silos continuarão a existir.

O executivo apontou durante sua apresentação que CEOs e CIOs entendem que precisam de uma TI mais rápida. “Para 87% dos líderes de empresas, tornar-se digital é crucial, mas apenas 7% têm uma estratégia digital”, apontou Chambers, relatando que a estratégia digital da Cisco é simples: entregar inovações rapidamente, respondendo não mais em anos e sim meses. Chambers apontou uma TI rápida reduz de 20% a 25% o Opex e pode obter cerca de US$ 5 bilhões em crescimento de receita.

Mas se o desejo das organizações é migrar para o digital, até 2020 entre 75% das empresa que vão seguir esse caminho, somente 30% serão bem-sucedidas, porque não obtém sucesso no processo de reinvenção e inovação.

Zona de conforto?

Chambers lembrou que os últimos anos foram de mudanças profundas na Cisco, muito em linha com as transformações do mercado. “Nos últimos três anos nos reinventamos, algo que Alcatel e Nortel não conseguiram acompanhar”, espetou.

As mudanças na Cisco serão agora conduzidas por Chuck Robbins, que assumirá o posto em 26 de julho. Funcionário da fabricante desde 1997, Chambers destacou que Robins contribuiu ativamente para uma renovação significativa na área de vendas, incluindo a construção de um poderoso programa de parceiros, que agora movimenta US$ 40 bilhões em receita para a empresa por ano. “Chuck teve a coragem de redesenhar a área de vendas e tem visão única. Por essas e outras razões que o board o escolheu”, apontou.

Na posição, o novo CEO afirma que vai focar em levar mais inovações ao mercado. “Temos grandes oportunidades especialmente quando o assunto é simplificação, especialmente agora com a era digital”, pontuou.

Chambers e seu legado

Prestes a tornar-se CEO, Robbins lembrou alguns dos momentos mais marcantes de Chambers à frente da Cisco, como o fato de ter previsto que a mudança do mundo para o digital, a importância do vídeo na web e a comunicação gratuita em voz (veja mais no infográfico na galeria de imagens).

Em 20 anos na liderança da Cisco, Chambers ajudou a empresa a saltar de uma receita de US$ 1,2 bilhão para US$ 47,1 bilhões, fazendo com que a fabricante se tornasse número um ou dois em 16 mercados nos quais atua. Além disso, contribuiu para que a fabricante chegasse à marca de 176 aquisições até o momento e saltasse seu número de colaboradores de 4 mil para 70 mil em todo o mundo.

Com o semblante de missão cumprida, Chambers despediu-se da plateia, que o aplaudiu de pé em sua última apresentação como CEO da Cisco. Alguns se emocionaram com aquele que como legado deixou não apenas resultados impressionantes, como também uma gestão sensível e voltada para pessoas.

*A jornalista viajou a San Diego (EUA) a convite da Cisco

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