Seu smartphone dará ao próximo Cambridge Analytica mais poder para influenciar voto

À medida que cresce a escala e o escopo do escândalo de dados pessoais do Facebook, há muitas perguntas. Por que o Facebook levou tanto tempo para agir? A empresa deve ser responsabilizada? Quantos problemas os executivos da Cambridge Analytica estão enfrentando em várias jurisdições? A FTC abriu uma investigação oficial no Facebook, mas o mais importante agora são as implicações para o futuro. É o que acreditam Justin Hendrix, diretor-executivo do NYC Media Lab, e David Carroll, professor da New School, em NY.

Embora não esteja claro se o perfil comportamental do Cambridge Analytica tiveram algum efeito mensurável nas eleições de 2016, para os especialistas, tecnologias como as usadas pelo Cambridge Analytica estão avançando rapidamente – mais rápido do que os acadêmicos conseguem estudar seus efeitos e certamente mais rápido do que os formuladores de políticas possam responder. A próxima geração de tais empresas quase certamente cumprirá a promessa.

“Em evento que o NYC Media Lab recebeu em 2015, Alexander Tuzhilin, professor de sistemas de informação na NYU Stern School of Business, apontou que a maioria dos aplicativos de segmentação que vemos hoje representa a segunda geração dessas tecnologias. Os dados empregados incluem conscientização de contexto, dados espaço-temporais e móveis, classificações de múltiplos critérios, dados de mídia social, recomendações de conversação e muito mais. Essas são ferramentas padrão do comércio usado na segmentação por profissionais de marketing da Internet, bem como pela Cambridge Analytica em 2016”, revelam eles.

A terceira geração de segmentação já está entre nós. Nos próximos anos, especialistas como Tuzhilin preveem que veremos a convergência de várias disciplinas, incluindo mineração de dados, inteligência artificial, psicologia, marketing, economia e teoria do projeto experimental.

“Esses métodos se combinarão com um aumento exponencial do número de sensores de vigilância que introduzimos em nossas casas e comunidades, de assistentes de voz a dispositivos de internet das coisas que rastreiam as pessoas enquanto elas se movimentam ao longo do dia. Nossos dispositivos ficarão melhores na detecção de expressões faciais, na interpretação de fala e na análise de sinais fisiológicos”, comentam.

Em outras palavras, as máquinas nos conhecerão melhor amanhã do que hoje. Elas certamente terão os dados. Enquanto o GDPR está prestes a entrar em vigor na União Europeia, os EUA estão indo na direção oposta. “O Facebook pode ter restringido o acesso aos seus dados, mas há mais informações sobre os cidadãos no mercado do que nunca”, observam eles.

Recentemente, a Comissão Federal de Comunicações dos EUA permitiu que provedores de serviços de internet vendessem dados sobre comportamento de navegação na web. Esse é apenas um exemplo do que estará disponível por meios legítimos, sem mencionar todos os dados espalhados graças a hacks e uso indevido.

Na visão dos especialistas, o pior cenário é que as tecnologias de segmentação avançadas alimentadas por todos esses dados serão combinadas com novos métodos para gerar automaticamente conteúdo convincente – não apenas texto, mas também imagens, vídeo e áudio, como um relatório sobre manipulação política on-line da European Data Protection.

Em seu depoimento ao Parlamento Britânico, o então diretor-presidente da Cambridge Analytica, Alexander Nix, disse que a empresa gerou milhares de peças de conteúdo criativo para a campanha Trump para seus vários alvos. A maior parte disso foi presumivelmente feita à mão – a empresa incluía serviços criativos. Imagine milhões, se não bilhões, de mensagens precisamente adaptadas, incluindo vídeos sintéticos, em campanhas futuras – todas geradas por computador. Essas ferramentas estão disponíveis agora.

Eles lembram que não é, no momento, possível mensurar se essas tecnologias influenciaram as pessoas. “Os serviços da Cambridge Analytica foram certamente sensacionalistas, mas nós simplesmente não saberemos o impacto deles, a menos que haja divulgação completa nos tribunais britânicos”, refletem.

Em um artigo publicado na Utrecht Law Review em fevereiro os pesquisadores concluíram que precisamos de muito mais dados e transparência para entender o efeito dessas tecnologias. Em particular, são necessários regulamentos para governos e cidadãos saberem o que acontece dentro dos sistemas de “caixa preta” em empresas como Facebook, YouTube, Snap e Twitter.

“Em novas indústrias – da energia aos carros e à produção de alimentos – é preciso tempo para a sociedade reconhecer os efeitos prejudiciais e estabelecer controles para preservar as coisas que importam”, comentam. O mesmo se aplica ao ecossistema da informação e à esfera pública. O futuro da democracia exige que imaginemos essas tecnologias como ameaças potenciais e reconheçamos que a inovação irrestrita nas mídias sociais teve seu auge. Se o escândalo dos dados obscuros do Facebook de hoje for um ponto de inflexão, talvez ainda preveja um futuro melhor, finalizam eles.

Recent Posts

Pure Storage aposta em mudança de paradigma para gestão de dados corporativos

A Pure Storage está redefinindo sua estratégia de mercado com uma abordagem que abandona o…

1 mês ago

A inteligência artificial é mesmo uma catalisadora de novos unicórnios?

A inteligência artificial (IA) consolidou-se como a principal catalisadora de novos unicórnios no cenário global…

1 mês ago

Finlândia ativa a maior bateria de areia do mundo

À primeira vista, não parece grande coisa. Mas foi na pequena cidade de Pornainen, na…

1 mês ago

Reforma tributária deve elevar custos com mão de obra no setor de tecnologia

O processo de transição previsto na reforma tributária terá ao menos um impacto negativo sobre…

1 mês ago

Relação entre OpenAI e Microsoft entra em clima de tensão, aponta WSJ

O que antes parecia uma aliança estratégica sólida começa a mostrar rachaduras. Segundo reportagem do…

1 mês ago

OpenAI fecha contrato de US$ 200 milhões com Departamento de Defesa dos EUA

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos firmou um contrato de US$ 200 milhões com…

1 mês ago