Repetir ações é mais comum que se imagina, avalia Contardo Calligaris

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11:11 am - 25 de abril de 2016

São diversas as situações do cotidiano com as quais podemos exemplificar o medo do ser humano de sair do senso comum, de romper com alguma realidade que, embora cômoda, já não o agrada ou, melhor, já não o faz feliz. Desde um casamento, onde homem e mulher mal conversam ou se olham, passando por descontentamento com amizades, até chegar ao ambiente profissional. Por que isso acontece? E por mais estranho que possa parecer, porque é tão comum?

“O medo da mudança é a dominante”, afirma Contardo Calligaris, escritor, psicanalista e dramaturgo, que participou do IT Forum 2016, realizado na Praia do Forte (Bahia).  A proposta era discutir “Inércia Ativa: olhando para o futuro sem recorrer às respostas do passado”, tema central da agenda de conteúdo do encontro, mas o especialista em comportamento humano quase que joga um banho de água fria com sua visão objetiva e observações cirúrgicas sobre o comportamento das pessoas frente à possibilidade de encarar uma mudança.

“O fato de poder ou conseguir fazer algo que seja um pouco diferente da série de repetições iguais ou quase iguais é um evento ou uma raridade”, provocou Calligaris, enquanto falava para uma plateia de CIOs e representantes das principais empresas da indústria de TI.

Entre idas e vindas, o psicanalista utilizou as relações amorosas para melhor representar esse medo do novo ou o comodismo/conformismo com a situação corrente. De acordo com o especialista, nos consultórios de psicanálise a maioria dos pacientes buscam ajuda para se divorciar. “Um casal médio leva de dois a seis anos para se separar, isso considerando que ambos estejam convencidos de que a relação não tem salvação e já não tem relação sexual ou a tem mas quase nula. Levam uma vida conflitiva, odeiam suas inércias, ou seja, a dificuldade de sair dessa, e culpa um ao outro. E isso cria uma vida cheia de ódio ou resignada”, afirmou. 

É engraçado pensar que sair do trilho – no sentido de buscar novos caminhos – seja algo tão complexo para uma pessoa, porque indo além das relações amorosas, esse comportamento pode ser levado para qualquer ato do cotidiano. Talvez, por essa característica que sejam poucos os inovadores ou aqueles executivos que fazem grandes viradas em seus negócios ou mesmo profissionais que se arriscam num mercado muitas vezes hostil à manobras arrojadas. Como lembrou Calligaris, a valorização do novo e do livre tem pouco mais de cem anos, mas ainda é muito difícil de ser praticado pelas pessoas.

Já na parte final de sua apresentação, Calligaris recorreu a Freud, utilizando a teoria dos dois registros: sexual e ambição, pelos quais as pessoas tentam se firmar. “Na vida profissional, na busca pelo reconhecimento dos outros, vocês sabem a dificuldade de deixar um trabalho quando se atinge sucesso em algum lugar. A força da inércia na vida é enorme.”

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