Por que boas estratégias falham?
Especialistas apontam três tensões estratégicas que podem ser evitadas

O desenvolvimento de estratégias bem elaboradas demanda tempo, esforço, investimento financeiro e comprometimento. E mesmo com todo esse empenho, é comum que os responsáveis por processos de planejamento estratégico se questionem quando os seus planos não funcionam como o esperado.
De acordo com a Deloitte, a pergunta “Por que minha estratégia não está funcionando?” é feita com mais frequência do que muitos executivos gostariam de admitir. Apesar disso, ainda há poucas publicações que ajudem as empresas a solucionar esses problemas, compreender os motivos das falhas e implantar ações corretivas.
As estratégias podem ser melhor articuladas como um conjunto de cinco opções que são capazes de posicionar as empresas para gerar resultados superiores: ambição vencedora, onde jogar, como vencer, recursos e sistemas de gerenciamento. No entanto, os projetos acabam tendo como base informações e influências das crenças da equipe de gerenciamento sobre tendências de mercado, dinâmica competitiva, necessidades do cliente e por questões da organização em si.
Conforme apontado pela Deloitte, essa definição é importante para que as empresas entendam, identifiquem e se protejam contra três pontos comuns de tensão estratégica: incoerência, incongruência e inconsistência.
Incoerência
Uma estratégia incoerente pode resultar de crenças da equipe de gerenciamento que não se alinham com as realidades externa ou interna, levando a percepções, conclusões e escolhas equivocadas. A incoerência está frequentemente enraizada na desinformação, incluindo lacunas de conhecimento, confiança em opiniões sobre fatos e preconceitos que desfocam o pensamento do grupo. Criar uma visão precisa e compartilhada pode ajudar a proteger a organização.
Para os especialistas, as mudanças rápidas também podem criar incoerência. As transformações do mercado podem ultrapassar o desenvolvimento e a execução da estratégia. Na tentativa de enfrentar esse desafio, os líderes empresariais podem adotar um processo de planejamento estratégico mais dinâmico.
Incongruência
A incongruência acontece quando as cinco opções estratégicas não são integradas e não se reforçam. Isso geralmente ocorre quando as organizações adotam uma abordagem fragmentada do desenvolvimento da estratégia, por exemplo quando as cinco opções estratégicas são consideradas de forma sequencial e individual. Para se proteger contra a incongruência, os líderes empresariais devem considerar escolhas estratégicas combinadas, não isoladas.
Se as escolhas estratégicas precisarem ser abordadas em sequência, os responsáveis precisam adotar mecanismos para considerar o conjunto completo de escolhas conforme cada nova decisão é tomada. “O desenvolvimento da estratégia é um processo confuso. O diálogo e o debate presenciais entre os executivos da diretoria – liderados por um forte arquiteto de estratégia, como o diretor de estratégia ou o CEO – são salvaguardas cruciais contra a incongruência”, escreveram Tom Schoenwaelder e Bernardo Silva, da Deloitte.
Inconsistência
A inconsistência ocorre quando o que uma organização diz que fará não corresponde ao que realmente é executado. As empresas colocam estratégias em prática de maneira inconsistente por diversos motivos, incluindo pouca especificidade, excesso de espaço para interpretação, recursos insuficientes, pouca compreensão da estratégia e desalinhamento entre as principais partes interessadas.
Para evitar inconsistências, é fundamental traduzir a estratégia em iniciativas tangíveis com um roteiro que explique restrições de tempo e recursos. Cada iniciativa deve ter objetivos claramente articulados, responsáveis, atividades, cronogramas, investimentos, medidas de sucesso e riscos previstos. Segundo os especialistas, também é importante monitorar a execução de cada iniciativa e revisar se os esforços aplicados permanecem alinhados e se estão produzindo os resultados esperados.
Um plano estruturado de gerenciamento de mudanças também pode ajudar a minimizar inconsistências e a lidar com inseguranças, comunicando claramente os cronogramas, expectativas e métricas de sucesso. “Por fim, seja explícito sobre como garantir a adesão das principais partes interessadas. Gaste tempo para conhecer um a um, entender as preocupações pessoais e avaliar as vantagens e desvantagens. Em seguida, crie mecanismos para incentivar os comportamentos desejados e monitorar o progresso ao longo do caminho”, concluíram Schoenwaelder e Silva.
Fonte: Deloitte