Para MIT, é preciso avaliar impacto social das tecnologias

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9:08 pm - 22 de agosto de 2019

Avanços da computação e inteligência artificial têm o poder de alterar a dinâmica de toda uma sociedade. Por isso, é preciso garantir que as tecnologias pioneiras sejam implementadas de forma responsável, levando em conta valores éticos e morais e garantindo que o impacto para o cidadão, no fim das contas, não será negativo. Pensando nisso a MIT Stephen A. Schwarzman College of Computing, escola de ciência da computação do consagrado MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos, criou um Grupo de Trabalho sobre Implicações Sociais e Responsabilidades da Computação, co-presidido por Melissa Nobles, reitora da Escola de Humanidades, Artes e Ciências Sociais do MIT.

 

O objetivo é fazer com que os alunos consigam pensar no bem comum ao desenvolver uma nova tecnologia. Há uma crescente preocupação do MIT no que se refere às consequências de inovações tecnológicas para a população, incluindo a desigualdade econômica, a falta de diversidade e inclusão, e preconceito em dados e sistemas, e os  impactos dessas questões no mercado de trabalho no futuro.

 

Melissa, que conversou por telefone com o IT Trends e estará em São Paulo no dia 29 de agosto, conta que os estudantes de ciência da computação da instituição começaram a demonstrar cada vez mais interesse e preocupação com o mundo, o meio ambiente, a vida humana e as implicações sociais do que estavam fazendo ou iriam fazer no futuro como profissionais de tecnologia. “No fim do dia os humanos estão criando os computadores, e não o contrário”, diz.

Estudantes de ciência da computação do MIT mostram cada vez mais interesse pelo impacto social das tecnologias que irão desenvolver como profissionais

 

Da mesma forma que os estudantes mostravam cada vez mais interesse nas questões sociais, o MIT também identificava nas empresas e no mercado em geral o interesse em profissionais que tenham preocupação com as consequências de suas criações tecnológicas. Afinal, inovações podem trazer impacto negativo na sociedade, que devem ser avaliados previamente.

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Melissa dá como exemplo de impacto social negativo o caso da Uber: em Nova York, houve uma recente onda de suicídios de taxistas endividados que viram suas ocupações ameaçadas pela chegada do app. O fato fez com que muitos americanos refletissem sobre os impactos dessa tecnologia e fez com que a cidade fosse a primeira a dos Estados Unidos a limitar a circulação de veículos de empresas de aplicativos de transporte.

 

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Com a aprovação recente de leis em Nova York para conter o crescimento dos apps de transportes e suas consequências, como os suicídios de taxistas e o trânsito caótico, Uber e Lyft, app concorrente, não estão mais aceitando novos motoristas na cidade desde o último dia 1º de abril.

 

Para a reitora, outro exemplo emblemático de impacto negativo de novas tecnologias para a sociedade é o Facebook, que, segundo ela,  não levou em conta a questão da privacidade de dados e seus impactos da forma que deveria ao criar a rede social. “Agora todos nós percebemos que talvez não precisemos compartilhar tudo. Há consequências”, avalia.

Pra a reitora do MIT, questões éticas e morais precisam ser levadas em conta logo no início, e não no final do desenvolvimento de um projeto

A ideia é que, daqui para a frente, os profissionais de ciência da computação pensem nesses impactos negativos antes mesmo de uma tecnologia ser disponibilizada, estimulados por uma grade curricular mais humanizada. “Queremos nos certificar que as questões éticas e morais serão levadas em conta no início e não no final de um projeto. Só porque podemos fazer algo, que a tecnologia permite, não significa que devemos fazer. Isso deve ser avaliado”, alerta.

 

Segundo ela, essa  preocupação não se limita ao MIT, e já se tornou uma tendência nas instituições de ensino e nas empresas, para a qual todos os profissionais que atuam com tecnologia devem se preparar.

 

Futuro do trabalho

 

No Brasil, outra preocupação de Melissa é a necessidade de aumentar a exposição dos alunos a disciplinas como ciências e matemática, por meio de iniciativas públicas, desde o ensino básico, para que os profissionais possam estar preparados para os desafios que a automação trará ao futuro do trabalho.

 

Em São Paulo, para alertar profissionais e o mercado, Melissa fará a apresentação “Future of Work Setting: Education, Ethics and AI, etc.” na conferência “The Future of Work” que abordará como as inovações tecnológicas têm o potencial de transformar o ambiente de trabalho. O evento é promovido pelo escritório do MIT Sloan para a América Latina (MSLAO), juntamente com o PageGroup, consultoria de recrutamento e seleção.

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