Na visão do Conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Marcelo Bechara o setor de telecomunicações está acomodado. “As operadoras pensam somente em receber a receita tradicional, baseada em voz, mas não olham além dos dados”, afirmou durante debate realizado hoje (16/10), na Futurecom.
O Conselheiro lembrou movimentação recente do Facebook de comprar o WhatsApp por US$ 16 bilhões, justamente enxergando que o mercado de telecom caminha para a redução da voz e o aumento de dados. “Por que nenhuma operadora comprou o WhatsApp?”, perguntou.
Para ele, as teles têm de se apresentar ao mercado não somente como operadora, mas como provedora de internet. “A operadora não pode ser simplesmente aquela que manda uma fatura em papel ao final do mês para o cliente, mas levar conectividade. Inclusão digital é baseada na internet e a Anatel não pode fazer isso sozinha”, criticou.
Bechara propôs uma reflexão para o setor, que segundo ele é desunido. De acordo com ele, a ampliação da infraestrutura de telecom independe de tecnologia, mas o desafio são os altos investimentos. A união do setor aceleraria a melhoria do segmento. “Não será o 700 MHz ou o Plano Nacional de Banda Larga que vão resolver todos os problemas sozinhos. É preciso satélite e um conjunto de ações. Precisamos discutir, debater e não somente fazer como aconteceu com o Marco Civil da Internet”, observou.
O presidente do Grupo Algar, Divino Sebastião de Souza, disse assinar embaixo da crítica feita por Bechara sobre a desunião do setor. “Por que o setor bancário ficou de fora do regulamento de call center? As mesmas regras não se aplicam aos bancos por causa da força do setor. E em telecom não vemos isso. As operadoras não estão unidas e outros setores estão”, pontou. Souza acredita que uma integração maior do setor poderá levar a uma série de benefícios incluindo a redução significativa da carga tributária.
Outro lado da moeda
Paulo Cesar Teixeira, diretor-geral da Telefônica Vivo, discordou de Bechara, da Anatel, dizendo que não há acomodação e que o desafio do setor é enorme, especialmente em razão dos altos impostos. Segundo ele, a operadora tem uma série de iniciativas para levar internet para mais localidades e aprimorar a qualidade dos serviços prestados. “Estamos muito focados em serviços e capturar todas as oportunidades que o mundo de internet possibilita. Cerca de 37% das nossas receitas já vêm de serviços de valor adicionado”, explicou.
Como exemplo, ele citou o ingresso da tele na cadeia de valor de outros segmentos, como o financeiro. Movimentação recente nesse sentido foi a Zuum, joint-venture entre MasterCard e Telefônica Vivo, que dá acesso ao consumidor em conta bancária pré-paga em qualquer operadora de celular do País. O sistema funciona como uma conta no celular pré-paga e possibilita a realização de pagamentos de contas e transferências de dinheiro por meio de um smartphone e o uso de um cartão pré-pago com bandeira MasterCard para compras e saques.
Atualmente, disse, o serviço está disponível em Sergipe, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul e quatro cidades do interior e será ampliado para todo o Brasil em breve. “Essa é uma grande oportunidade, já que 36% da população no País não é bancarizada”, constatou.