Notícias

O pensamento linear versus a evolução exponencial de tecnologia e seus impactos

Recentemente li algumas previsões do Gartner para nosso futuro
digital. O foco é a mudança da relação entre o homem e a máquina, com as
máquinas, cada vez mais, adquirindo características humanas para
influenciarem um relacionamento mais personalizado com as pessoas.

Segundo o Gartner, em um futuro próximo, contemplaremos um mundo em que
máquinas e humanos serão colegas de trabalho e, possivelmente, ainda
mais dependentes um do outro. Vários exemplos são citados. Entre eles, o de que, até
2018, as empresas digitais vão demandar metade dos trabalhadores em
processos de negócio e 500% mais funcionários nas empresas digitais,em comparação aos modelos tradicionais”. As geladeiras vão pedir
gêneros alimentícios, os robôs vão registrar isso nos supermercados e os drones vão
entregá-los em nossas portas, eliminando a necessidade de funcionários
nos mercados e motoristas para fazer entregas.

Esse novo ambiente de
empresa digital vai mudar profundamente os processos de negócio,
juntamente com a demografia dos empregos, e a necessidade de
competências mais avançadas para os consumidores e para os provedores em
todas as indústrias.

Outros exemplos? Até 2017, segundo o Gartner, serão
lançadas grandes empresas digitais disruptivas, concebidas por um
algoritmo de computador, e até 2018, o custo total de propriedade das
operações de negócio será reduzido à metade, por meio de máquinas
inteligentes e serviços industrializados.

Ainda de acordo com o Gartner as máquinas
inteligentes não vão substituir os humanos, pois as pessoas ainda
precisarão pilotar navios e usar o senso crítico para interpretar os resultados
digitais. Portanto, as máquinas inteligentes não vão substituir o
trabalho. Em vez disso, vão desalojar a complacência, a ineficiência e
vão acrescentar uma tremenda velocidade às operações dos negócios,
melhorando a experiência dos clientes por meio da simplificação e da
automação, além minimizar as intervenções manuais e permitir que os
consumidores se sirvam sozinhos, via self-service. Assim, robôs  vão gerar
conteúdos como planilhas e relatórios de negócios, objetos inteligentes e
conectados vão nos ajudam no dia a dia, e dispositivos vestíveis estarão
nos textos destas previsões.

É um cenário muito diferente do que
víamos nas previsões de poucos anos atrás. Em um relatório de
tendências, de 2010, as previsões do Gartner eram mais conservadoras,
como “até 2012, as companhias de serviços de TI centralizadas na Índia
vão representar 20% dos principais agregadores em nuvens do mercado (por
meio de ofertas de serviços em nuvem”. Ou, “até 2012, o Facebook vai se
tornar o hub para integração de redes sociais e socialização Web”, “em
2012, 60% das emissões de gases estufa na vida total dos PCs terão
ocorrido antes que o usuário ligue a máquina pela primeira vez” e “até
2014, mais de 3 bilhões de pessoas poderão efetuar transações
eletronicamente via tecnologia de celulares ou internet”. Nada de IoT,
robôs, computação cognitiva ou da mudança da relação homem máquina.

O
que mudou?

Estamos vendo um conjunto de previsões muito mais próximas
das previsões que o futurista Ray Kurzweil vem declarando há anos. O seu
livro de 2005, “Singularity is Near”, Kurzweil já
debatia isso com profundidade. Quando o li, me impressionou muito, e de lá
para cá venho acompanhando bem de perto o que ele fala. Existe uma
estatística interessante, que analisou as previsões de Kurzweil de 1990 para
cá, e que chegou à conclusão que de suas 147 previsões, 115 se mostraram
corretas e 12 “essencialmente corretas”, ou seja, acertou o alvo, mas
com erro de timing de um ou dois anos. Uma taxa de acerto de 86%!

A
dificuldade em absorvermos certas previsões futuristas é que, embora a
tecnologia evolua de forma exponencial, nosso pensamento intuitivo é
linear. Assim, olhamos a evolução do século passado e projetamos
mudanças para os próximos 100 anos baseados na linearidade do nosso
modelo mental. Mesmo o famoso jargão “pensar fora da caixa” nos mantém
presos, pois usa como referência a própria caixa. Portanto, ao nos
livrarmos do pensamento linear e pensarmos exponencialmente
veremos que os próximos 100 anos não serão 100 anos de progresso, mas
20 mil anos de progresso à luz do atual ritmo de progresso da
tecnologia. Inimaginável!

No nosso dia a dia, intuitivamente,
preservamos as memórias recentes. E destas memórias projetamos o futuro.
Por exemplo, o ano passado provavelmente nos trouxe mais evoluções que
os dez anos anteriores, mas esquecemos destes detalhes. E projetamos os
próximos anos como evoluções lineares do nosso último ano.

Outro
dia, em um exercício simples com um grupo de CIOs, apontei este desafio.
“Como estará a TI dentro de cinco anos? ” Perguntaram. A resposta
foi que no mínimo, de forma conservadora, olhendo para uns dez anos atrás
(idos de 2005) e vendo o que não existia (ou que era rudimentar), não veríamos muitas das tecnologias e produtos que nos desafiam hoje, no nosso dia a dia:  Facebook, iPhone, tablet,
Twitter, YouTube, IoT, computação cognitiva, cloud computing, apps,
shadow IT, BYOD, veículos autônomos…e concorrentes com modelos de
negócio inovadores como Uber, Airbnb, Alibaba, Amazon…

Este é
desafio das empresas, dos seus CIOs e profissionais de TI: imaginar
o futuro e tomar decisões, já.  A dificuldade de fazer isto começa pela
escassez de profissionais. A própria dinâmica do mercado de TI é tão
acelerada que o meio acadêmico não consegue acompanhar as mudanças e as
demandas deste mercado. Continua formando profissionais para um mercado
que velho, ultrapassado. As tentativas de modernização acadêmica são através de
cursos de especialização, mas mesmo estes perdem a corrida para o
conteúdo disponibilizado (muitas vezes gratuitamente) na web.

No setor
tecnológico o conhecimento adquirido tem prazo de validade. O que se
sabe hoje perde valor ao longo do tempo, à medida que novas e inovadoras
tecnologias disruptivas vão surgindo. O próprio conceito de carreira
torna-se mais fluido… Perguntar “qual é a sua profissão?” já não faz muito sentido
em função das demandas plurais no mercado.

O profissional de tecnologia
hoje deve ser avaliado pela sua capacidade de mudança rápida, adaptação e
versatilidade em relação a competências diversas e ao aprendizado
contínuo. E não apenas por seu conhecimento em banco de dados Oracle,
sistema operacional Linux ou se sabe escrever código em Java. Aliás, já
existem novas funções, não profissões, que ninguém sabia que poderiam
existir há alguns anos atrás, como consultor de drones, curador pessoal
de conteúdo, conselheiro de privacidade, terapeuta de desintoxicação
tecnológica e profissionais de nano medicina. E quantas áreas de TI
contratavam “designers de usabilidade”?

Para uma discussão mais
detalhada da questão do pensamento linear versus a evolução exponencial
de tecnologia e seus impactos, recomendo a leitura de um paper do
próprio Ray Kurzweil, de 2001, “The Law of Accelerating Returns”. É um assunto
que não termina neste post. Vale a pena investir tempo para reflexões
mais aprofundadas.

 

(*) Cezar Taurion é CEO da Litteris Consulting, CEO da ThinPost e autor de seis livros sobre Open Source, Inovação, Cloud Computing e Big Data

Recent Posts

Pure Storage aposta em mudança de paradigma para gestão de dados corporativos

A Pure Storage está redefinindo sua estratégia de mercado com uma abordagem que abandona o…

6 dias ago

A inteligência artificial é mesmo uma catalisadora de novos unicórnios?

A inteligência artificial (IA) consolidou-se como a principal catalisadora de novos unicórnios no cenário global…

6 dias ago

Finlândia ativa a maior bateria de areia do mundo

À primeira vista, não parece grande coisa. Mas foi na pequena cidade de Pornainen, na…

6 dias ago

Reforma tributária deve elevar custos com mão de obra no setor de tecnologia

O processo de transição previsto na reforma tributária terá ao menos um impacto negativo sobre…

6 dias ago

Relação entre OpenAI e Microsoft entra em clima de tensão, aponta WSJ

O que antes parecia uma aliança estratégica sólida começa a mostrar rachaduras. Segundo reportagem do…

6 dias ago

OpenAI fecha contrato de US$ 200 milhões com Departamento de Defesa dos EUA

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos firmou um contrato de US$ 200 milhões com…

6 dias ago