Nuvem, social, mobilidade e big data: realidade difere de discurso da TI
O discurso dos fornecedores e consultores de tecnologia centrado nas quatro grandes tendências de social, nuvem, mobilidade e big data ainda mostra uma lacuna considerável entre o cenário ideal disseminado por eles e a realidade do dia a dia do CIO. Os temas vieram à tona durante o painel sobre o estudo “Antes da TI, a Estratégia”, realizado pela IT Mídia em parceria com o consultor Sérgio Lozinsky, com CIOs das 500 maiores empresas do Brasil, apresentado durante o IT Forum 2014 e mediado por ele e pelo consultor César Taurion.
A mobilidade segue como a tecnologia da qual espera-se o maior impacto nos negócios nos próximos anos. Em aproximadamente 46% dos casos, a TI lidera o processo de adoção das novas tecnologias – mas a mobilidade ainda é subestimada, pois somente 21% dos executivos afirmam ter necessidade de investigação, quando há inúmeras possibilidades de impulsionar as operações e o negócio com ela.
“Do nosso lado, temos o parque de dispositivos muito grande. Eu e meus pares investimos em tecnologia para gerir esse parque, mas o que falta é aplicação”, conta Fernando Birman, CIO da Rhodia. “Se você perguntar o que a indústria está fazendo em mobilidade, muitas vezes a resposta é decepcionante, muito pouco dos processos de negócios é feito em dispositivos móveis. Entendemos que é uma tendência, mas o que hpa hoje é pouco”, conta.
Já o Marcelo Frontini, do Bradesco, reconhece que a mobilidade traz consigo rivais de mercado que são agentes nada usuais. “Em mobilidade, nós [bancos] temos que estar juntos. Nossos maiores concorrentes não são bancos, mas o monte de aplicativos criados pelas empresas que têm a capacidade de ser um novo entrante, como um PayPal”, exemplifica. Pensando nisso, nascem alianças entre empresas até então rivais, como a união do Bradesco com o Banco do Brasil para criação da Stelo, carteira digital.
Geraldo Dezena, do Banco do Brasil, menciona que 11% das transações bancárias da companhia financeira já são feitas via smartphone. “Muitas delas não são financeiras, mas já há algumas, como crédito. O que é preciso entender é que, para isso, o investimento que precisamos fazer é grande e existe todo um trabalho de aprendizado”, pondera. E mais uma vez enfatiza a condição do mercado: “Estamos em um nível que há um mundo todo pela frente”.
Os dados do estudo ainda mostram vários temas da TI que ainda não demonstraram confirmação dos ganhos, tanto pelo estágio inicial do mercado quanto pela avaliação dos temas. É o caso de nuvem (53%), social business (68%) e big data, com 71% das menções. “Sobretudo big data do lado industrial está longe de ser uma realidade. Tem muitos tesouros escondidos, mas não é só começar a cavar para achar. Precisamos planejar, pensar, verificar se realmente há chance de encontrar alguma coisa. Não é só começar a torturar os dados para que eles confessem”, brinca Birman.
Inovação
É praticamente impossível desvincular essas grandes tendências da palavra inovação. Lozinsky questiona o ponto do estudo que revela 63,5% dos CIOs com orçamento específico para inovação. “Será? Lançar um novo produto, ok, é uma coisa nova, mas não no sentido de causar uma ruptura, que é o caso de negócios como o PayPal”, compara. Ele chama atenção para o perfil inovador encontrado muitas vezes fora da empresa, fora ambiente tradicional, em empresas que possuem esse aspecto em seu DNA, como o Google.
O estudo mostra que inovação ainda é vista como algo “departamental” em mais de 50% dos casos, o que contradiz o conceito fundamental de inovação, que é multidisciplinar. Apenas cerca de 20% das respostas indicam esse tratamento.
É o caso BRF, formada pela fusão da Sadia com a Perdigão. O CIO Ney Santos conta que a companhia montou um comitê de inovação liderado por marketing, porém multidisciplinar por contar com a participação de todas as áreas. A TI, embora não cause uma ruptura, entra planejando a demanda de sistemas para cada novidade. “E importante: projeto, inovação, ou qualquer coisa que entra, logo após a provação já entra no orçamento do ano ou no do seguinte para garantir a entrega de resultado”, conta.
Dessa maneira, a TI participa de maneira estratégica na companhia, permeando as operações e os negócios como um todo. Não há aprovação de nenhum projeto, seja ele qual for, sem a TI. “Demorou um tempo para elas [áreas de negócio] perceberem que não tem empresa sem municação de TI. Você não consegue definir o produto na gôndola sem sistema, ou o preço, por exemplo. O sistema financeiro, como é o caso dos bancos aqui, já nasceu entendendo isso – e aos poucos as outras indústrias vão entender também”, conclui.
Outros dados:
Estratégia empresarial
– 60% dos CIOs percebem o posicionamento de suas empresas no mercado como confortável
– pela primeira vez, “estreitamento das margens de lucro” superou “retenção de mão de obra qualificada” como risco interno, com 50% de menções
Recursos Humanos
– Mais de 85% dos CIOs estão há 16 anos na área de TI, 77% como gestores
– 82% pretendem continuar como CIOs, com mais autonomia e ganhando mais
Fornecedores
– somente 22,6% dos CIOs percebem os fornecedores de TI como parceiros na demonstração do valor estratégico das soluções
– quase 50% dos CIOs afirmam que os fornecedores de TI não conseguem evoluir seu discurso, centralizado no produto que vendem
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