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Reflexões sobre a evolução do ecossistema de inovação no Brasil

Na última semana, participei de um evento promovido pelo La Fabrique, hub de inovação da Edenred, mediado por Gabriela Aguiar, diretora de Relações Institucionais e Comunidade da Plug and Play. O tema central foi a evolução dos hubs de inovação no Brasil. Ficou evidente o quanto o ecossistema nacional avançou nos últimos anos, mas também surgiram desafios importantes que ainda precisam ser superados.

No painel, líderes de hubs discutiram como esses ambientes, que inicialmente focavam em espaços físicos, evoluíram para operar de forma “figital“, conectando empreendedores e corporações tanto física quanto digitalmente.

Um exemplo é o Cubo Itaú. Paulo Costa, CEO do Cubo Itaú, contou como o hub, que em 2019 tinha 120 startups associadas fisicamente, teve de se reinventar durante a pandemia. O Cubo investiu em uma plataforma digital, expandindo seu alcance para 540 startups conectadas remotamente, criando o ecossistema “HUB Anywhere”. Essa adaptação destaca a importância de se ajustar às novas realidades, sempre com foco na curadoria e na conexão como diferenciais que garantem a interação e a geração de valor entre startups e empresas.

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Marcone Siqueira, presidente da The Bakery, mencionou que, ao chegarem ao Brasil em 2017, perceberam que o país estava atrasado em relação à inovação aberta, de cinco a sete anos em comparação com mercados globais mais maduros. Ele destacou que a chegada de players como o Cubo ajudou a acelerar esse processo. Como exemplo, ele citou a exigência na época de que startups tivessem um CNPJ com mais de cinco anos para participar de processos de inovação aberta, limitando assim novos empreendedores.

Gustavo Gierun, fundador do Distrito, trouxe uma perspectiva interessante ao contar como o Distrito foi refundado em 2017, com foco em venture capitals além de coworking. O hub se destacou pelo desenvolvimento de conteúdo técnico e dados sobre o ecossistema de startups no Brasil, ganhando autoridade no tema. Hoje, o Distrito atua diretamente na transformação digital das empresas, com ênfase em inteligência artificial (IA).

Outro ponto discutido foi a integração entre universidades, pesquisa acadêmica e o mercado. Jorge Pacheco, presidente do State Innovation Center, destacou a falta de laboratórios fora das universidades como uma barreira para o desenvolvimento de startups deeptech no Brasil. Ele mencionou que muitos empreendedores ainda dependem de editais, como os da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), para financiar suas pesquisas, devido à falta de apetite do mercado por projetos de longo prazo.

Costa, do Cubo, fez uma crítica à visão de curto prazo que ainda prevalece no Brasil, mencionando o livro “The Community Way”, que propõe uma visão de mercado com uma perspectiva de 20 anos à frente. Ele apontou que a mentalidade imediatista, focada em metas trimestrais, é um grande obstáculo para a construção de uma cultura de inovação estruturada. O Brasil está em um bom momento, mas precisa amadurecer para entender que inovação também envolve melhorias em eficiência e processos, e não apenas disrupções radicais.

Outro ponto importante discutido foi como medir os resultados da inovação. Um dos painelistas comentou que “inovação sem resultado é entretenimento”, uma frase que ecoou profundamente.

Ao final do painel, conversei com Gilles Coccoli, presidente da Edenred Brasil, que reforçou: “não podemos isolar a inovação. Precisamos fomentar e permitir que novas ideias emerjam de todos os setores da empresa”. Ele acredita que, no longo prazo, a inovação surgirá do enriquecimento das conexões humanas e do aumento das interações entre as pessoas.

Concluo que a visão é otimista, porém realista. O Brasil tem uma enorme oportunidade de se consolidar como um hub global de inovação, mas é necessário estratégia, foco, união entre os diversos atores do ecossistema e, acima de tudo, paciência. A integração entre hubs, startups, academia e investidores será essencial para esse crescimento.

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