Rafaela Rezende marca liderança na VTEX com empoderamento e inovação

Com o desafio de mostrar que a VTEX não é uma empresa de e-commerce, executiva cita vocação da gigante brasileira de ser backbone do digital commerce

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8:50 am - 26 de julho de 2023

Era 20 de julho de 2023, quinta-feira, quando Rafaela Rezende me recebeu no escritório da VTEX em São Paulo, no coração dos negócios paulistano, em um suntuoso prédio da Avenida Brigadeiro Faria Lima. Coincidentemente, a data marcava exatamente o aniversário de três anos da executiva na gigante de tecnologia para digital commerce e pouco mais de um mês à frente da empresa no Brasil.

O anúncio da sua promoção de vice-presidente de Vendas e Customer Experience da VTEX Brasil para general manager da empresa em solo nacional foi feito diretamente do VTEX Day, em junho, quando a executiva foi surpreendida com a presença da filha e do marido no palco do evento com direito a flores. Uma ação que viralizou nas redes sociais e gerou dali em diante um sentimento de empoderamento e inspiração não só para Rafaela, mas para sua primogênita.

A conversa estava marcada para 17h. Cheguei dez minutos antes e quando o relógio marcou 17h, Rafaela saiu de uma das salas da VTEX, se apresentou e disse: “fui pontual”, brincou. Ao entrar na sala, fiquei feliz por conversar com time só de mulheres ali – além de Rafaela, estávamos em mais quatro.

À frente da gigante de tecnologia para digital commerce, a executiva me contou que o plano de sucessão de Rafael Forte, cofundador da VTEX, foi construído e conhecido, mas, para ela, a movimentação aconteceria somente em 2024. A VTEX tem um comitê executivo no Brasil formado por seis pessoas e Rafaela pontua que no grupo as conversas são muito transparentes sobre o futuro, onde todos têm abertura para falar de potências de cada e ainda como evoluir em seus papéis. As conversas em torno da sua evolução profissional, portanto, eram claras, mas o momento foi inesperado.

“Não achava que seria agora, muito menos da maneira que foi, no palco do VTEX Day. Foi importante para empoderar, para a mensagem que queremos passar. Ter o Rafael, que até então ocupava essa posição, passando o bastão para mim, na frente de um mercado majoritariamente masculino, me empodera. E ter também minha família foi fantástico”, lembra ela.

Rafaela Rezende, general manager da VTEX Brasil, recebe sua promoção no VTEX Day, com a presença da família no palco do evento. Foto: Agência Fmalta. Equipe Gustavo Rampini.

Rafaela Rezende, general manager da VTEX Brasil, recebe sua promoção no VTEX Day, com a presença da família no palco do evento. Foto: Agência Fmalta. Equipe Gustavo Rampini.

Segundo ela, todo ano o time executivo se propõe a mudar de rumo, a pensar em coisas que vão levar a empresa para um lugar diferente, mesmo que as escolhas incorram em erros. “Errar é parte do processo. É engrandecedor, inclusive”, reflete ela.

Rafaela ressalta a cultura da VTEX de acelerar decisões e com a sua movimentação não foi diferente. Outro exemplo recente foi o IPO da empresa, antecipado e considerado um sucesso. A mentalidade da VTEX é “be bold” (seja corajoso), o que impulsiona a empresa a buscar mudanças e desafiar o status quo o tempo todo.

Apesar da surpresa, Rafaela reconhece que seu desafio não muda. “Naquele momento, era como se eu não quisesse pensar naquilo. Era a síndrome de impostora, que acomete tantas mulheres. Fiquei com medo de ser demitida, esse foi meu primeiro pensamento. Não por achar que eu não fosse capaz, porque estou confortável com a cadeira e sei que sou ótima”, aponta ela, lembrando mais uma vez sobre o papel da liderança feminina hoje e a força de empoderar e ser espelho para outras mulheres.

Do outro lado do balcão

Há três anos, quando recebeu o convite para assumir a posição de diretora-executiva de Customer e Partner Experience da VTEX Brasil, Rafaela havia acumulado um longo histórico de mais de 20 anos do outro lado do balcão do varejo. Enquanto trabalhava em empresas como B2W e iFood, tomava decisões com base, muitas vezes, no feeling, mas na VTEX aprendeu a questionar o problema de negócio e a utilizar a tecnologia como facilitadora. “Apaixonei-me por e-commerce com 19 anos, em uma idade que não temos uma capacidade grande de entender o que queremos, mas eu me encaixei ali desde o princípio. Sempre fui a pessoa do lado do negócio, entendendo pouco dos desafios na outra ponta, para ser honesta. Eu era uma cliente que levantava a mão”, lembra ela.

Quando chegou na VTEX, ela se recorda de uma história com Mariano Gomide, um dos fundadores da empresa. “Eu falei para ele: você está contratando a profissional errada porque eu sou a pessoa de negócios. E ele revelou que era justamente isso que desejava: discutir negócios e isso era disruptivo”, diverte-se.

Disrupção para um mercado que atua em um perímetro de zona de conforto é exatamente a provocação que Rafaela tem como missão. “A VTEX nunca foi uma fornecedora de tecnologia, mas uma parceira, incentivando os colaboradores a desafiar o status quo e gerar soluções inovadoras para o sucesso dos clientes.”

De igual para igual

Nessa jornada de passar para o outro lado do balcão e ainda acompanhar questões tecnológicas mais de perto para questionar o problema de negócios do cliente, Rafaela entendeu que precisava reunir mais conhecimentos técnicos para falar de igual para igual não só com seu time, mas também com prospects e clientes: CIOs, CTOs e CEOs de grandes empresas.

O sucesso do cliente é também o sucesso da VTEX, pontua Rafaela. Por isso, ela observa que se não questionar escolhas passa a ser conivente com decisões que podem se mostrar equivocadas. “Essa conversa é difícil. Ainda existe uma postura de ‘eu sou cliente e você fornecedor’. Mas nós não somos assim. Questionamos. Temos conhecimento técnico, e a partir disso criticamos a decisão e fazemos a pergunta certa, entendendo o problema de negócios.”

Rafaela sinaliza que o Brasil vive um momento de custo de dinheiro alto e fazer o que está na moda, pode custar caro. Por isso, todo conhecimento inserido em decisões é crítico. “Precisamos voltar a fazer bem o básico, e buscar soluções para testar sem precisar alocar CAPEX e dinheiro. Temos falado muito sobre isso: alocar o dinheiro no lugar certo para a operação e voltar a fazer isso bem.”

Nesse contexto, a executiva revela ter tido dois aprendizados importantes. “Eu vejo em muitos clientes a pessoa que eu era. E observo como evolui e melhorei. A VTEX mudou meu conhecimento de tecnologia. Hoje, sou pessoa técnica, mas também de negócios”, orgulha-se ela, que tem aulas técnicas com o Caio – um dos funcionários da VTEX – toda sexta-feira, às 9h. “Aqui acreditamos muito em hard skill, meu professor é um colaborador. Ele me ensina de tecnologia e hoje eu converso com CIO e CTO no mesmo nível.”

Além das aulas teóricas, Rafaela também decidiu tirar certificações. Ela coloca seu conhecimento à prova e estimula o time a seguir o mesmo caminho. “Isso é duro, porque as pessoas têm medo. Meu papel é trazer os colaboradores para uma zona de confiança e trabalhar a equipe para que eles topem ser coloquem à prova”, observa.

Ela aponta que todo mês, a VTEX promove certificações técnicas, com níveis altíssimos de dificuldade, e a cada três meses provas de negócios. A primeira vez que fez a certificação técnica de e-commerce 300 pessoas aplicaram e duas passaram. Ela não foi aprovada, mas a partir daquele momento se comprometeu a estudar, evoluir e continuar a se capacitar. Na segunda tentativa, de 500 pessoas, cinco passaram e ela foi uma delas.

No que diz respeito aos desafios internos, Rafaela menciona a importância da capacitação interna e da saída da zona de conforto para criar um time forte com habilidades técnicas e de negócios. Ela destaca ainda a necessidade de promover uma cultura de humildade, onde os colaboradores se sintam confortáveis em serem desafiados e testados para seu próprio crescimento. “Esse é um desafio interno cultural. Um dos nossos maiores diferenciais e pilares. Acreditamos que conseguimos guiar o cliente pelo conhecimento. Não quero vender produto VTEX, estou comprometida com o sucesso do cliente.”

Autenticidade e agenda aberta

Como líder da VTEX no Brasil, Rafaela entende a importância de ser exemplo e adota uma abordagem de autenticidade, buscando ser um exemplo para sua equipe. Ela valoriza a confiança e a flexibilidade, permitindo que o time tenha um equilíbrio entre vidas profissional e pessoal, e incentiva a troca de conhecimento e a capacitação constante.

“Minha agenda é aberta. Se eu tenho médico da minha filha, por exemplo, está lá em minha agenda para todos verem. Minha filha é parte da minha da minha agenda e eu tenho liberdade de mostrar o que é prioritário. Da mesma forma que eu trabalho de sábado, minha família entende que eu preciso, mas eu vou tirar quinta e sexta de folga, por exemplo. E eu não preciso inventar desculpa. Eu me planejei para isso”, diz.

Inclusive, Rafaela cita a decisão de mudar para o mercado de tecnologia enquanto estava grávida justamente porque ela buscava uma empresa que pensasse no futuro e permitisse que ela fosse autêntica no trabalho. “A VTEX me deixa confortável para agir como desejava.”

A executiva ressalta que o trabalho é algo extremamente positivo em sua vida reconhece que falar sobre essa escolha não é fácil, pois enfrentou pressões e cobranças da sua família. Mesmo assim, ela destaca que essa é sua decisão e que haverá momentos em que priorizará mais sua filha e família e outros em que dedicará mais tempo ao trabalho.

Missão: VTEX como backbone do digital commerce

Com a premissa de impulsionar e fortalecer a presença da VTEX no mercado brasileiro, Rafaela enfatiza a visão da empresa de ser o backbone do digital commerce. Ela fez questão de me explicar que digital commerce é o foco da empresa e não mais e-commerce, já que digital commerce vai muito além de uma tela.

Ela destaca a importância de ir além do e-commerce, conectando, por exemplo, todo o estoque dos clientes em diferentes canais de venda, seja live shopping, loja física, ou WhatsApp, por exemplo. A estratégia da VTEX é fornecer uma solução completa de digital commerce, possibilitando uma experiência omnicanal para o cliente, onde o vendedor também desempenha papel essencial.

É justamente por isso que Rafaela lembra a todo momento que a VTEX não é uma empresa de soluções para e-commerce. “Um dos maiores desafios que temos agora é o ecossistema não nos enxergar só como plataforma de e-commerce. Quando falamos de e-commcerce, penso em uma pessoa fazendo compra no computador ou celular e isso fazemos bem. E agora vamos ser o backbone do digital commerce. Tal qual um corpo que precisa de um esqueleto, somos o backbone do digital commerce com a capacidade de conectar tudo da loja.”

Na visão da executiva, o mercado fala muito hoje de omnicanalidade e ter o cliente no centro, mas a proposta da VTEX é incluir também o vendedor no centro, posicionando-o como um personal shopper e chave na jornada.

Rafaela observa a inclusão social proporcionada pelo uso de lojas físicas e a atuação do vendedor como parte da estratégia de digital commerce, permitindo acesso a produtos para aqueles que não conseguem comprá-los exclusivamente pelo comércio eletrônico. Ela destaca a importância de utilizar o ativo das lojas físicas para oferecer diferentes opções de compra, como retirada na loja e prateleira infinita, onde produtos indisponíveis na loja física podem ser enviados diretamente para a casa do cliente.

Um exemplo interessante citado por ela é a Decathlon. Cliente VTEX, a varejista de artigos esportivos usa o sistema prateleira infinita, que utiliza a inteligência do checkout VTEX na palma da mão do vendedor para integrar os estoques das lojas físicas com o da loja virtual com o objetivo de não perder venda. “O mote é deixar com a VTEX o que não for core, no caso a tecnologia, e o diferencial de negócios com ele, como a jornada de CRM, por exemplo, que é única”, diz.

Rafaela sinaliza que a omnicanalidade vai além da tecnologia e é cultural, algo que a Decathlon já entendeu. A empresa, inclusive, tem um profissional com o cargo de “superomni”, uma espécie de evangelizador da cultura omnichannel. “Tem o desafio de cultura, mas também tem o de software, que não é uma commoditie. Há arquiteturas diferentes e formas de cobrar diferentes. Não existe melhor ou pior, tem o sapato que encaixa melhor no pé, mas existe dificuldade de entender e embarcar custos de software”, conta.

Além disso, também ainda há a vaidade da solução própria. “Há uma mentalidade de que se não algo construído internamente aquele profissional não vou ter função na empresa. Existe a ilusão de que tem mais liberdade com uma solução proprietária e de quanto mais gente no time, mais poder. Isso não é verdade”, provoca ela.

Indicadores de sucesso

Para medir o sucesso de suas estratégias e iniciativas à frente da VTEX Brasil, Rafaela revela que se baseia em uma série de KPIs (Indicadores-chave de Desempenho), que estão relacionados ao crescimento e à aceleração da empresa. Ela enfatiza a importância de ousar, arriscar e aprender com os erros, destacando que a VTEX busca constantemente sair da zona de conforto e promover soluções inovadoras para o mercado.

“Esses KPIs são minha Bíblia. Procuro pensar se minhas ações estão relacionadas a esses KPIs. Se não estiverem, são distração. Eu tenho um desafio de dizer não, mas sem parecer arrogante. Temos esses KPIs, mas nos propomos a errar. Não é que nos orgulhamos de errar, mas quanto mais tentamos mais a probabilidade de errar. Não errar significa estar parado. Meu desafio é sair da inércia, se eu errar pouco é porque eu ousei pouco, se eu errar muito é porque errei muito”, pontua e completa: “Na VTEX somos grandes, mas pequenos para o que queremos ser. Se não formos ousados, em algum momento seremos engolidos e precisamos agora ousar, errar, provocar, porque somos diferentes.”

Diversidade

Rafaela também compartilhou sua determinação em promover a diversidade e a igualdade de gênero na VTEX, que tem hoje 40% do quadro de líderes mulheres, mas também no setor como um todo. Ela reafirma a importância de trazer diferentes perspectivas para a empresa e incentiva o desenvolvimento e capacitação de mulheres, buscando inspirar outras executivas a alcançarem cargos de liderança.

“Eu puxo muito um tema. Tive a sorte de ter uma característica pessoal, ou me moldei para isso, talvez de maneira inconsciente, mas tenho voz forte e sou pragmática, e isso me ajudou, sem querer ou não. Eu me acho capaz, estou aqui por mereço, mas tenho essa característica de pessoa que me ajudou. Mas tem muita mulher ultra capaz e ela não é menos forte. Eu falo muito sobre não te deixar ter diminuírem pelo jeito que você é. A mulher precisa ocupar esse lugar, sendo quem ela é”, estimula.

A determinação de Rafaela vai além das fronteiras corporativas e impacta a sociedade, seguindo o propósito de toda inovação, disseminando diversidade e igualdade de gênero, com liderança inspiradora e genuína, que certamente contribui para a ascensão cada vez maior da VTEX em uma arena altamente competitiva.

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Déborah Oliveira

Editora-chefe e diretora de Conteúdo do IT Forum, Déborah Oliveira é jornalista com mais de 17 anos de experiência na área de TI. Tem passagens pelas redações da Computerworld, CIO e IDG Now!. Bacharel em Jornalismo, com graduação executiva em Marketing, e MBA em Marketing. Em 2018, foi vencedora do prêmio de melhor Jornalista de TI no Brasil, do Cecom. Em 2019 e 2020, foi destaque do mesmo prêmio na categoria Telecom. É uma das autoras do livro “Da Informática à Tecnologia da Informação – Jornalistas Contam Suas Histórias”, pela editora Reality Books, lançado em 2020.

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