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O varejo tradicional e a briga pelo mercado de pagamentos

Em um mercado que movimenta mais de R$ 1,3 trilhão só com uso de cartões, os meios de pagamentos passaram a ser um filão estratégico de atuação dos varejistas. Com a ascensão das novas tecnologias e um afrouxamento benéfico realizado por parte do Banco Central na parte regulatória, as instituições financeiras tradicionais estão começando a perder o protagonismo. E é nessa brecha que fintechs e varejistas entram em cena.

De acordo com dados compilados pela consultoria Boanerges & Cia, a participação do uso de cartão, tanto de débito como de crédito, pelos consumidores vem crescendo ano a ano. Em 2007, essa participação era de 18% sobre o total de movimentação financeira na parte de pagamentos. Em 2017 esse montante já representou 33%. A projeção é que ao fim de 2027, 49% do total sejam de pessoas utilizando o plástico como principal meio de pagamento, superando o dinheiro em papel, que ainda é o mais utilizado. Isso significa que os grandes players do varejo podem criar soluções tecnológicas para permitir um acesso direto com o seu consumidor.

Na prática, isso já vem ocorrendo. Os principais varejistas do País, como B2W (Americanas.com, Submarino e Shoptime), Magazine Luiza, Carrefour, entre outros, estão realizando a chamada transformação digital a partir do modo como o cliente se relaciona com a marca, principalmente na parte de pagamento E a tendência é que a customização passe a ser cada vez mais realizada por todos os varejistas que transacionem valores significativos e que possuam uma base de clientes extremamente fiéis.

Se relacionar de forma mais íntima com o consumidor foi justamente a estratégia que levou a B2W a criar uma carteira digital. Por meio dela, a companhia consegue otimizar e trazer descontos para os seus clientes por meio do uso de cashback, o que acaba gerando maior recorrência de compra. Lançada em junho de 2018, a aplicação contou com mais 800 mil downloads em apenas cinco meses de operação. Ou seja, a empresa entendeu que o potencial em oferecer uma experiência diferenciada passa por internalizar a gestão do meio de pagamento.

Na mesma toada segue o Magazine Luiza. A gigante do varejo vem realizando uma série de iniciativas para consolidar um ecossistema de experiência do usuário, que passa pela jornada de compra, pela forma como este recebe o produto e a maneira como ele realizará o pagamento. Embora ainda seja bastante incipiente, o plano é que seja criado uma espécie de aplicativo, que sirva para realizar compras e efetuar pagamentos. A própria empresa já possui estruturação financeira, composta pela oferta de um cartão de crédito ‘private-label’ e também por empréstimos pessoais. Ou seja, o potencial de customização em meios de pagamento é grande, embora apresente desafios.

Com a oportunidade dada, as empresas do setor varejista precisam ter em mente as dificuldades que são colocadas, sobretudo na questão tecnológica e na estruturação financeira. Segundo uma pesquisa divulgada, em dezembro de 2018, pela consultoria Deloitte com 126 empresas participantes, 66% afirmaram que precisam readaptar seus planos de negócios diante de um novo perfil de consumidor e de um contexto socioeconômico complexo. Fazer esse processo e ter êxito, não é tarefa fácil. O lado bom é que o ecossistema de tecnologia financeira está evoluindo com relativa rapidez.

Neste cenário, as fintechs têm desempenhado papel importantíssimo. De acordo com um relatório elaborado pela Liga Ventures, aceleradora que ajuda grandes empresas a criarem programas de inovação, existem hoje 293 startups que estão entregando valor para o varejo em diferentes áreas. Dentre essas, as que dizem respeito como as tecnologias servem como opções para os varejistas na oferta de meios de pagamentos, ‘m-payments’, geração de boletos, subadquirentes, ‘gateways’ e ferramentas para auxiliar e apoiar na gestão de transações financeiras.

Com a tecnologia à disposição, um ambiente propício para otimizar operações de meios de pagamento, e uma capacidade de criar diversas soluções que atendam não só o público final, mas também os diversos intermediadores que fazem parte do processo, o varejo tem a capacidade de fomentar ainda mais o desenvolvimento com foco em inovação. Isso passa por ferramentas de customização que atendam às necessidades específicas do consumidor. Hoje, o varejo já possui protagonismo no mercado de pagamentos. Nos próximos anos, o setor será responsável também por elevar a competitividade do ecossistema financeiro. E a tecnologia será um dos tripés de sustentação.

*João Miranda é CEO e fundador da Hash

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