O que faz um arquiteto de cloud e como você pode se tornar um?
Adoção crescente da computação em nuvem leva a uma demanda superaquecida por esse tipo de profissional. Salários vão de R$ 4 mil a R$ 25 mil

Cada vez mais empresas têm optado pelo armazenamento e processamento de dados em nuvem. Isso fez com que a demanda por profissionais desse setor, a exemplo dos arquitetos de cloud, tenha aumentado ao longo dos últimos anos. “Notamos uma demanda bastante alta por profissionais com essa especialidade no Brasil”, afirma Caio Arnaes, gerente sênior de recrutamento da Robert Half.
A forte demanda de arquitetos advém da necessidade enorme, neste momento, de redesenhar ambientes de computação para que sejam implementados em cloud, aponta Mauricio Fernandes, presidente da Dedalus.
As primeiras a buscarem esse “novo profissional” são as empresas da área de TI. De forma geral, quem ainda não possui um time desses especialistas, está expandindo ou formando uma equipe interna de experts em cloud.
“Cloud computing é o viabilizador de modelos de negócios escaláveis e de arquiteturas flexíveis de customer experience”, explica Renato Brisola, vice-presidente de vendas da Salesforce.
Por isso, quando o profissional não é contratado diretamente, é comum que as companhias busquem serviços sob demanda com parceiros ou dos próprios fabricantes de software. “A arquitetura cloud é uma oportunidade de carreira para engenheiros de soluções da própria Salesforce, além de experts de indústria e tecnologia no mercado”, diz Brisola.
Os salários condizem com as exigências. As faixas salariais para um arquiteto de cloud vão, em média e segundo a Robert Half, de R$ 9 mil a R$ 19 mil, dependendo do tempo de experiência, porte da empresa ou demanda dessa posição no mercado. “Os salários estão em alta devido à escassez de profissionais seniores e devem continuar assim por algum tempo, mas há uma variação ampla de valores, eu diria de R$ 4 mil a R$ 25 mil”, revela Fernandes.
Onde procurar emprego
Atualmente, há duas demandas muito claras no mercado em relação a arquitetos de nuvem. “Uma delas vem de provedores de serviços cloud, que agem como advisors dos clientes. Pelo know-how adquirido no atendimento de empresas com características muito diversas, este tipo de companhia tem uma alta demanda de arquitetos altamente especializados em cenários complexos”, conta Mário Rachid, Diretor Executivo de Soluções Digitais da Embratel.
A outra demanda vem de empresas cloud natives, que têm alto índice de inovação, com uma utilização muito grande de nuvem e que, ao mesmo tempo, já estão habituadas a utilizar recursos avançados dentro de cada Cloud Provider. “Este tipo de empresa tem uma alta demanda interna por arquitetos de Nuvem e uma grande pressão por velocidade e conhecimento sobre o negócio da companhia, o que pode justificar manter estes profissionais internamente”, explica Rachid.
Como Cloud Computing é um serviço estratégico para a Embratel, hoje a operadora trabalha com um time de cerca de 70 arquitetos de cloud distribuídos nas áreas de produtos, pré-vendas e operações. “São profissionais muito especializados, com diversas certificações.”
Sem equívocos
Em geral, as pessoas pensam em um arquiteto como a pessoa técnica que cuida da Cloud e isto está muito errado. “Arquitetura, o nome já esclarece, está relacionado com Projeto. Assim, o arquiteto de cloud tem como função projetar, desenhar, dimensionar e sugerir uma solução em Cloud”, explica Fernandes.
Se pensarmos que um arquiteto tradicional tem um papel importante na obra civil, ao lado de engenheiros, decoradores e operários, em cloud a situação é semelhante. “O arquiteto tem um papel similar e, portanto, deve ter uma formação parecida com o arquiteto tradicional: conhecimento de várias tecnologias diferentes, além de ser um bom comunicador, seja por escrito ou em reuniões, já que ele é a pessoa que normalmente se envolve com a apresentação e o convencimento técnico da solução escolhida.”
Perfil buscado
Qual formação e características de um arquiteto de cloud? Primeiramente, é preciso saber que não existe uma graduação ou certificação oficial ou obrigatória. Experiência e especialidade, claro, é o que contam no final do dia.
Brisola conta que há espaço para distintos perfis. No entanto, é importante que o profissional tenha uma abordagem que agregue três pontos: focada no negócio, pragmática e orientada pelo produto mínimo viável.
Criar e gerenciar uma função de arquitetura corporativa bem-sucedida requer uma variedade de diferentes habilidades físicas e virtuais. Além disso, visto que cada empresa é diferente, a função de arquitetura corporativa precisa se calibrar e se alinhar à empresa específica.
Visão do todo é fundamental. O arquiteto de cloud, alerta Fernandes, não pode entender somente de cloud ou ser um “born in the cloud”, já que o mundo é híbrido. Ou seja, os sistemas vão continuar a depender de infraestrutura e sistemas em plataformas tradicionais.
Assim, é importante que ele conheça de integração, performance, segurança de dados etc. Além disso, como Cloud afeta cada vez mais o negócio dos clientes, deve entender justamente de negócios, o custo de downtime, o risco e desafio humano das pessoas de TI ou não, em adotar um ambiente em Cloud. “Na Dedalus, separamos por especialidades, temos arquitetos mais voltados à tecnologia (SaaS, IaaS) e outros mais voltados a entender o desafio completo, incluindo o negócio de nossos clientes.”
Fernandes recomenda uma formação teórica e prática, mas que seja profunda e equilibrada. Há cursos dos principais provedores disponíveis na web, como AWS e Microsoft, porém ele alerta para não descartar o conhecimento acadêmico, a sala de aula. “E aceite estagiar num time de arquitetos de alta performance.”
Há ainda um fator novo. O perfil do arquiteto de cloud tem mudado muito rapidamente nos últimos anos. “Quando falamos em nuvem, existem ao menos três especialidades muito latentes: infraestrutura, plataforma e software”, explica Rachid.
Inicialmente, o perfil era muito associado ao arquiteto de infraestrutura ou operações, que migrou os serviços para a plataforma de nuvem e teve que se adaptar. Com o passar do tempo, com as metodologias de desenvolvimento de software se transformando rapidamente, o olhar apenas para a camada de infraestrutura deixou de ser suficiente.
“Surge, então, a necessidade de arquitetos que tenham um perfil mais completo, com alto conhecimento em desenvolvimento, segurança e infraestrutura”, conta Rachid. O arquiteto de Cloud Computing é uma evolução natural do arquiteto de soluções, que, em ambientes legados, tratava a demanda de infraestrutura e software.
Se antes o profissional de Cloud Computing estava muito ligado à parte de operações, hoje ele já tem participação ativa no desenho das soluções, na tomada de decisões e no acompanhamento dos projetos.
Competências-tendência
Como revela o diretor-executivo da Embratel, são três:
Segurança da informação – Esta habilidade está se tornando cada vez mais necessária em especialistas e, principalmente, sendo cobrada como um perfil essencial de um profissional. Complementar ao entendimento da segurança no nível da infraestrutura, o arquiteto de Cloud também precisa conhecer soluções para a camada de software.
Arquitetura de software – As novas soluções de software já contam com Cloud em sua arquitetura. Tecnologias como Internet das Coisas (IoT), Big Data e Inteligência Artificial já são apresentados em seu conceito fazendo o uso da Computação em Nuvem, inclusive como diferencial competitivo. O profissional que pretende ingressar nesta área vai se deparar, em algum momento, com este tipo de demanda e mesmo não havendo a necessidade de ser especialista em nenhuma delas, entender a dinâmica de uso e suas características gerais é de suma importância. “Além disso, o conhecimento de processos ágeis de desenvolvimento de software e Infraestructure as Code (DevOps) ampliam o leque de opções para se obter o melhor de cada nuvem.”
Infraestrutura escalável – Para apoiar no uso das características e benefícios nativos das Nuvens, é considerado essencial para arquitetos cloud o conhecimento de Infraestrutura Elástica. Com esse conhecimento, é possível definir políticas e scripts capazes de aumentar e reduzir o uso dos recursos de forma automática, ampliando a resiliência e escalabilidade e diminuindo significativamente os custos com os Cloud Providers.