“Mercado nunca esteve tão maluco”, diz CTO da Idwall frente ao avanço de deepfakes
Em entrevista ao IT Forum, Danilo Barsotti falou sobre estratégia da Idwall para combater crescimento das fraudes com IA generativa no Brasil

Não há dúvidas de que a democratização da inteligência artificial (IA) generativa tem trazido ganhos de eficiência e produtividade para organizações e seus colaboradores. No mundo da segurança, prevenção a fraudes e autenticação digital, no entanto, a realidade tem sido um pouco mais complicada. “O mercado nunca esteve tão maluco, pressionado e desafiado quanto está agora”, comenta Danilo Barsotti, CTO da Idwall, em entrevista ao IT Forum.
Fundada há oito anos, a startup de soluções de verificação de identidade está no olho do furacão da transformação trazida pelo avanço da IA generativa – que, junto com suas vantagens, também levou ao avanço de novas ferramentas para fraudes, incluindo os deepfakes.
Há um ano e meio, Barsotti tem liderado a área de tecnologia da Idwall, ajudando a organização a navegar por esse cenário de transformações. Na posição, ele responde não apenas pelas equipes ligadas ao core business da empresa, mas também por dados, infraestrutura, engenharia e segurança. Juntas, suas equipes representam mais da metade dos cerca de 360 colaboradores da companhia.
“É uma operação super relevante porque somos uma empresa de deep tech. Nós começamos a trabalhar com inteligência artificial antes de todo esse hype. Faz sentido termos muita gente em tecnologia porque esse é o nosso produto final”, diz.
A Idwall trabalha com soluções B2B2C para verificar e validar a identidade de usuários no momento de acessar algum serviço. Na prática, isso significa validar que você é você em qualquer momento em que estiver executando algum tipo de transação, seja ao fazer um Pix, comprar algo em um e-commerce, acessar um banco ou até pedir comida no delivery.
“Nosso mantra é transformar a vida do fraudador em um inferno e entregar uma experiência sem fricção para o cliente que é idôneo”, brinca o CTO. A Idwall soma hoje mais de 430 clientes, incluindo nomes como Mercado Bitcoin, iFood, Itaú, Bradesco Saúde, SulAmérica Saúde e Claro.
Para alcançar esse objetivo, a companhia emprega tecnologias para a verificação assertiva de documentos, incluindo o uso de ferramentas de automação, como Reconhecimento Ótico de Caracteres (OCR), e até especialistas forenses para reduzir falsos positivos. Soluções de reconhecimento facial, com as funcionalidades Face Match e Liveness, para evitar que fotos, vídeos, máscaras ou mesmo deepfakes sejam usados para burlar a autenticação biométrica, também estão no portfólio da companhia.
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De acordo com o CTO, uma das vantagens da empresa é ter a “sorte” de trabalhar em um dos mercados mais desafiadores do mundo em termos de fraude – o Brasil. “Infelizmente, o Brasil dá aula em termos de fraude”, lamenta. Para as ferramentas da companhia, no entanto, isso significa uma base de dados ativa e vibrante de novas tentativas de falseamento, que são capturadas pela empresa e incorporadas às soluções para expandir suas capacidades antifraude.
A organização conta hoje com um laboratório interno de prevenção de fraudes, responsável por capturar tendências e retroalimentar a plataforma de segurança da Idwall. “Temos PhDs em física, matemática e estatística que, junto com os analistas forenses, preparam os datasets e treinam os nossos modelos para lançar um produto mais preciso”, afirma Barsotti.
Para ele, outra vantagem de atuar no Brasil é ter seu algoritmo de validação de biometria facial treinado em bases de dados com rostos de brasileiros, o que o tornou mais competitivo devido à diversidade étnica e racial da população do país. Em agosto, a Idwall se tornou a única empresa brasileira com o selo iBeta 2 em sua ferramenta de prova de vida, que atesta a capacidade de detecção de fraudes complexas, como o uso de máscaras 2D e 3D de materiais variados, como silicone, látex, feltro e papel. A certificação é concedida pelo National Institute of Standards and Technology (NIST), dos Estados Unidos.
A tecnologia é chave para enfrentar o que a Idwall enxerga como o principal desafio atual em termos de fraude de identidade: o avanço dos deepfakes. Barsotti explica que a empresa já observou um aumento considerável de tentativas de fraude do tipo para manipular não só a biometria facial, mas também para alterar documentos.
“Vemos uma tendência de crescimento ao longo do tempo. Ainda não é o que mais vemos o mercado executando, mas como há um aumento contínuo no dia a dia, na nossa operação e na dos nossos clientes, estamos nos preparando, pois sempre temos que estar alguns passos à frente dos fraudadores”, conta.
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Além de apostar em tecnologia proprietária para mitigar o desafio, a empresa tem sugerido uma abordagem escalonada de autenticação aos clientes. Para o executivo, o ideal é que a empresa escale o nível de validação conforme o cliente avança no uso da aplicação. Na prática, não adianta pedir um milhão de validações no cadastro do cliente, pois a empresa corre o risco de perdê-lo; o ideal é inserir múltiplas validações no momento correto e cruzá-las para validar o acesso. “Não existe bala de prata para esse tipo de segurança e validação”, ressalta.
Em 2021, a Idwall levantou uma rodada de investimento de série C liderada pelo family office Endurance, além de participação dos fundos GGV Capital, Península, Monashees e Norte Ventures, além dos já investidores Canary, Qualcomm e ONEVC. O capital foi utilizado para expansão do time e para apoiar o período de “hipercrescimento” da pandemia, segundo o CTO. “Naquele momento que estava todo mundo dentro de casa, a necessidade de se criar relações de confiança era a coisa mais importante que existia para as empresas”, avalia.
Agora, a estratégia de crescimento da companhia se baseia no lançamento de um marketplace de soluções. Em março, a Idwall ampliou sua atuação ao abrir sua plataforma, por meio de APIs, para novos parceiros com ferramentas antifraude. Empresas como Neoway B3, London Stock Exchange Group, Incognia, Prove e Klavi disponibilizam soluções dentro do espaço, que podem ser conectadas pelo cliente em um sistema drag and drop. Os serviços da Idwall também passaram a ser contratados nos espaços dos parceiros, como Docusign, Neoway, Blip e MB Labs.
“Olhando da perspectiva comercial, isso é um ganha-ganha. Para o nosso parceiro, é interessante porque ele entra no nosso marketplace. Para nós, conseguimos entregar um valor agregado maior para o cliente final, através das empresas que nos contratam”, finaliza.
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