Elon Musk e a separação conturbada com a OpenAI: a história não contada

E-mails mostram os bastidores da criação conturbada da startup, revelando embates entre Musk e Altman

Author Photo
4:00 pm - 19 de novembro de 2024
Imagem: Shutterstock

Em meio a tensões e visões divergentes, a relação entre Elon Musk e a OpenAI se tornou uma história de ambição, disputas e reviravoltas. Desde o início, Musk e Sam Altman, cofundador da OpenAI, estavam unidos por um propósito: evitar que a inteligência artificial (IA) avançada caísse nas mãos exclusivas de grandes corporações, como o Google. A temática foi levantada pelo The Verge.

Em 2015, Altman escreveu a Musk expressando sua visão de que, se o desenvolvimento da IA era inevitável, seria mais seguro para a sociedade que uma entidade independente, ao invés de um gigante tecnológico, liderasse essa evolução. Assim nasceu a OpenAI, com um compromisso inicial de ser uma organização aberta e voltada para o bem comum.

Mas à medida que a OpenAI crescia e precisava de mais recursos para desenvolver sua pesquisa e tecnologia, a missão de “IA para o bem” começou a se confrontar com as duras realidades do mercado. O primeiro grande sinal de divergência entre Musk e Altman surgiu quando a OpenAI negociava um acordo com a Microsoft em 2016.

Leia também: Gilson Magalhães: executivo tem desafio de manter crescimento da Red Hat na América Latina

Altman precisava da bênção de Musk para fechar uma parceria que traria US$ 50 milhões em infraestrutura computacional à OpenAI, permitindo à startup avançar na criação de modelos avançados como o ChatGPT. Contudo, Musk ficou indignado com a ideia de a OpenAI promover produtos da Microsoft em troca de tecnologia, dizendo que isso o fazia “sentir-se nauseado”.

Após negociações intensas, Altman garantiu que o acordo poderia ser firmado sem obrigações promocionais com a Microsoft. Mas esse foi apenas o começo das tensões. Ao longo de 2016 e 2017, a relação entre Musk e Altman piorou, culminando em discussões sobre o papel de cada um na organização. Musk, que havia investido entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões na OpenAI, tinha uma posição de liderança, mas Altman, por outro lado, começou a consolidar o controle sobre a empresa, direcionando-a para um modelo mais tradicional, com acordos comerciais e um braço lucrativo.

Em 2017, o cenário mudou novamente. A OpenAI anunciou que criaria uma divisão com fins lucrativos, o que deixou Musk e outros cofundadores receosos. Alguns membros da equipe questionaram as motivações de Altman, insinuando que ele poderia estar mais interessado em acumular poder do que em cumprir a missão de evitar uma IA ditatorial — um conceito temido por todos na OpenAI, especialmente com o surgimento da chamada AGI (inteligência artificial geral). Os cofundadores até escreveram a Musk sobre a possibilidade de ele se tornar uma “figura autoritária” se assumisse o controle como CEO, o que ele considerou inaceitável.

Controle da OpenAI

A disputa alcançou um ponto crítico quando Musk sugeriu a Altman que assumiria o controle total da OpenAI, afirmando que a startup estava atrasada em relação a concorrentes como o DeepMind, do Google. Altman e outros líderes rejeitaram essa proposta, levando Musk a se desligar do conselho da OpenAI em 2018 e a cortar seu financiamento para a organização. Após a saída de Musk, a OpenAI adotou um modelo de “lucro limitado”, permitindo arrecadar bilhões de dólares de investidores como Reid Hoffman e Vinod Khosla, enquanto continuava a se apresentar como uma organização comprometida com o bem comum.

A cisão de Musk com a OpenAI não apenas marcou o fim de sua relação com Altman, mas também inaugurou uma nova fase de rivalidade. Pouco tempo depois, Musk fundou sua própria startup de IA, a xAI, como resposta direta às decisões de Altman e à evolução da OpenAI.

Hoje, as duas empresas competem por influência e financiamento no cenário da IA, com Musk processando a OpenAI e a Microsoft sob alegações de práticas anticompetitivas, além de expor a transformação da OpenAI em uma “subsidiária fechada” da Microsoft.

O processo judicial, que inclui e-mails reveladores, expõe as tensões de poder entre Musk e Altman e revela o que Musk considera uma traição aos princípios fundadores da OpenAI. Em uma das mensagens, Musk enfatizou que a OpenAI deveria ser “um projeto como o de Manhattan para a IA”, onde o objetivo principal seria criar uma tecnologia benéfica para a humanidade, mas sem se submeter aos interesses comerciais de outras empresas. Altman, no entanto, defendeu sua abordagem como necessária para sustentar o crescimento da organização e evitar que a OpenAI fosse superada pelos gigantes da tecnologia.

Missão e recursos

A relação conturbada entre Musk e Altman destaca os desafios de equilibrar uma missão idealista com a necessidade de recursos. Ambos reconheciam que o desenvolvimento de IA exigia talentos de ponta e investimentos massivos, mas divergiam profundamente sobre o caminho a seguir. Musk temia que a OpenAI se tornasse exatamente o que eles haviam fundado para evitar: uma empresa poderosa e fechada, controlando a IA em prol de interesses corporativos. Altman, por sua vez, viu na parceria com a Microsoft uma oportunidade de garantir a sobrevivência e expansão da OpenAI em um cenário de competição acirrada.

O futuro da disputa legal entre Musk e Altman ainda é incerto. No entanto, a batalha reflete um conflito maior na indústria de IA: a luta entre ideais altruístas e as forças do mercado. Com cada lado agora competindo diretamente no desenvolvimento de IA, o resultado dessa disputa pode moldar o futuro da inteligência artificial e determinar quem liderará a próxima era da computação global.

Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias!

Author Photo
Redação

A redação contempla textos de caráter informativo produzidos pela equipe de jornalistas do IT Forum.

Author Photo

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.

 

Pular para a barra de ferramentas