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Contra o medo, destemor: Ana Cerqueira e a luta por espaço na segurança digital

Aos 16 anos, Ana Cerqueira descobriu a tecnologia na tela verde fosforescente de um terminal de corretora de seguros. O computador era rudimentar, mas fez algo que mudaria sua vida: facilitava processos. A praticidade lhe pareceu uma revolução. Décadas depois, Ana ainda vive dessa faísca inicial, agora como sócia e diretora de vendas da ZenoX, startup do grupo Dfense, e presidente da WOMCY no Brasil, organização sem fins lucrativos que capacita mulheres para o setor de cibersegurança na América Latina.

A trajetória de Ana não foi linear. Antes de ingressar no setor de tecnologia, passou três anos e meio cursando Direito, um caminho que lhe fora praticamente imposto. Quando enfim migrou para o marketing, já trabalhava, ganhava seu próprio dinheiro e conhecia, aos poucos, o mundo corporativo. A transição definitiva para a tecnologia se deu pela venda: na Xerox, onde começou a comercializar impressoras com conectividade, percebeu que o futuro estava na interseção entre negócios e inovação. “No final do dia, o que eu sou apaixonada é pela venda”, disse.

A carreira avançou em saltos de tecnologia. Saiu das copiadoras conectadas para a infraestrutura de redes, passando por empresas como Citrix e Nutanix, até se aprofundar no universo do software. O momento decisivo foi a chegada da computação em nuvem e a consequente valorização da segurança cibernética. “Fiz cursos rápidos para entender segurança e vi que era ali que eu queria estar”, contou. Foi nesse ínterim que assumiu a posição de country manager da Imperva, consolidando-se como uma referência no setor.

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Mas havia algo além dos números de mercado e das inovações técnicas. Ana começou a perceber o abismo entre a presença masculina e feminina no setor. Nos eventos de cibersegurança, a lógica era quase sempre a mesma: centenas de engenheiros, todos homens. “A mulher precisa de referência para trilhar essa jornada”, afirmou. Para ela, esse vácuo não se traduzia apenas em estatísticas, mas em desmotivação real para que outras mulheres seguissem o mesmo caminho. A solução? Criar essas referências.

Foi assim que Ana se conectou à WOMCY (Latam Women in Cybersecurity), organização fundada por Leticia Gammill nos Estados Unidos. O objetivo era simples e ambicioso: reduzir a lacuna de conhecimento e aumentar a presença feminina na área. O trabalho envolvia desde a concessão de bolsas para certificações cobiçadas, como o CISSP, até programas de mentoria e incentivo à participação de mulheres em eventos. “Ativismo por ativismo não adianta”, disse. “O que importa é ter conteúdo, conhecimento de verdade.”

A entrada na WOMCY, no entanto, veio por um caminho mais íntimo. Dois anos atrás, Ana perdeu o marido. “Ele me fez prometer que eu não poderia parar, que tinha que transformar essa dor em energia”, contou. Assumir a liderança da WOMCY no Brasil foi a maneira que encontrou de cumprir essa promessa. “Transformei a dor em amor”, resumiu.

Em paralelo, Ana começou a pensar no empreendedorismo. “Eu dizia que empreenderia aos 55 anos”, lembra. Mas a transição veio antes do esperado, com a entrada na ZenoX. “Estudei muito, conversei com empreendedores, entendi os desafios”, explicou. Agora, seu compromisso é levar a empresa para o mundo, abrindo frentes na América Latina, Europa e Estados Unidos. “O objetivo é transformar uma tecnologia nacional em um player global”, disse.

No final da conversa, pedi um conselho para mulheres que estão começando na tecnologia. Ela foi categórica: “Seja destemida”. Para Ana, o medo pode ser um limitador ou um propulsor. “O medo natural protege. O medo paralisante rouba oportunidades”, afirmou. “Se você não tenta, não torna as oportunidades tangíveis. Então vá, erre, mas não deixe o medo te travar.”

Era um conselho simples, mas não dito da boca para fora. Ana Cerqueira sabia, melhor do que ninguém, o que significava transformar desafios em impulso. Foi assim que moldou a própria trajetória. E agora, tenta abrir caminho para que outras mulheres possam fazer o mesmo.

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