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A inteligência artificial substituirá o trabalho dos advogados?

Embora o uso da Inteligência Artificial (IA) seja um conceito que existe há algumas décadas, ainda é um tema mal compreendido por muitos profissionais e empresas. Contudo, quem conhecer e souber extrair o melhor que a Inteligência Artificial tem para oferecer, tornará a sua rotina de trabalho mais eficiente e até mais lucrativa.

Hoje, há uma competição acirrada no mercado jurídico brasileiro. Segundo o Censo de Educação Superior, a graduação em Direito tem o maior número de estudantes desde 2014, o que torna a rotina destes futuros profissionais ainda mais desafiadora. O número das faculdades de Direito no Brasil subiu de 165, em 1995, para 1.308, em 2016, um aumento de 793%. Para efeito de comparação, nos Estados Unidos há atualmente 280 cursos de Direito. Um levantamento da Ordem dos Advogados do Brasil contabilizou mais de um milhão de advogados ativos no país em 2016, o que significa um advogado para cada 207 brasileiros.

Neste cenário é fácil perceber que apenas os mais preparados e atentos às inovações conseguirão criar valor para seus clientes e se manter competitivos no mercado. A Inteligência Artificial pode fazer toda a diferença na rotina destes especialistas. Mas, diferentemente do que se fala, essa tecnologia não vai substituir o advogado. Isso porque a IA atua muito mais no processamento de volume de dados do que na parte mais profunda da prática jurídica, que é a interpretação e a elaboração da melhor estratégia. Ou seja, a ferramenta oferece subsídios para a tomada de decisão estratégica, mas não substitui o ‘know how’ do advogado. Contudo, com a evolução da tecnologia, é provável que a IA seja aplicada também para outros assuntos com maior complexidade. E, nesse caso, a ética e os conceitos terão de ser aplicados nas pessoas que estão à frente e farão o uso desta ferramenta, criando, inclusive, novas profissões no campo jurídico.

No caso do Direito, nos dias de hoje, o importante é ainda desenvolver uma Inteligência Artificial que traga mais benefícios à revolução desta prática e da Justiça em situações consideradas simples e administrativas. Nesses casos, o uso da automação e da IA garante muito mais tempo para que os advogados possam pensar nas estratégias e tenham em mãos, de maneira rápida e assertiva, todos os dados relevantes aos casos de atuação.

No entanto, a discussão sobre os limites da IA deve ser permanente, até para que esta tecnologia seja mais desenvolvida, tenha maior presença na sociedade, e evite preconceitos e vieses. Muito se fala sobre algum tipo de regulamentação do uso da IA. Hoje, nós conhecermos apenas 1% ou 2% do potencial desta tecnologia, ainda há muito por vir. Por isso, qualquer tipo de norma estabelecida agora será obsoleta em pouco tempo. Há 10 anos, 15 anos atrás, ninguém pensava em discutir algo como a Lei Geral de Proteção de Dados. Hoje ela é fundamental. O mais importante é deixar que a decisão final, na qual entram as bases da ética e da Justiça, fiquem sempre nas mãos do ser humano. Que a pessoa tenha a responsabilidade, e não o robô. Assim, evitam-se decisões tendenciosas e prejulgadas por conta de interferências humanas que influenciam a Inteligência Artificial.

Um caminho pode ser regular os temas que poderão adotar a Inteligência Artificial, de forma que nenhuma tendência ou intolerância causem distorções em temas mais sensíveis. O fato é que ainda não sabemos onde a IA vai chegar. Nos últimos cinco anos, essa tecnologia se desenvolveu mais do que nas cinco décadas anteriores. E isso deve se manter nos próximos anos.

*José Dominguez é diretor de Legal Professionals da Thomson Reuters América Latina desde setembro de 2018. 

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