Algumas das
principais contribuições da história da tecnologia da informação têm em sua
autoria os esforços de grandes mulheres. Ada Lovelace, Grace Hopper, Hedy
Lammar e Karen Spark Jones, só para citar algumas das mais conhecidas, foram
responsáveis por desenvolver tecnologias que tornariam os dias atuais
impraticáveis sem o apoio delas. Mas, até hoje, a participação feminina no
setor de tecnologia é baixa. As mulheres representam apenas um quarto da força
de trabalho do setor e aproximadamente 18% das graduações em ciência da
computação.
“As mulheres são 40% da força de
trabalho mundial e constituem mais da metade dos bacharéis universitários.
Apesar disso, apenas de 3% a 5% dos cargos de administração de
alto escalão na área de tecnologia são ocupados por mulheres”, afirma a
diretora-geral da GSMA, Anne Bouverot.
Por mais que muitas das grandes invenções
de TI tenham surgido de mãos e mentes femininas, elas ainda se sentem
subjugadas em equipes de desenvolvedores em todo o mundo. O ambiente hostil, a sensação de isolamento e a falta de perspectiva na carreira estão entre os principais fatores citados por elas como causas do abandono de profissões e crusos técnicos.
A organização sem
fins lucrativos Girls Who Code prevê que, até 2020, 1,4 milhão de trabalhos
serão ofertados no setor de Tecnologia da Informação e isso somente em relação
aos Estados Unidos. É a indústria que mais cresce, seja em países
desenvolvidos, ou em países em desenvolvimento, como o Brasil. Mas, de acordo
com o último Censo do IBGE, realizado em 2010, apenas 20% dos empregos em
tecnologia da informação no Brasil eram ocupados por mulheres.
Essa
desigualdade começa a aparecer já no período escolar. Segundo um estudo da OCDE
(Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômic0), o número de meninos
que sonham em seguir uma carreira em engenharia ou informática é quatro vezes
maior que o de meninas.
Um estudo conduzido pela Accenture e pelo grupo Girls Who Code, mostra
que, se nada for feito, o percentual de mulheres na TI será de 22% em
2025 (hoje está em 24%), a menor taxa da história e uma longa queda se
comparado com os 37% de 1995.
“As empresas
precisam de talento técnico e as mulheres representam mais da metade do capital
intelectual do mercado. Se as companhias desejam atrair os melhores
profissionais, então é fundamental que não negligenciem as habilidades que as
mulheres têm a oferecer”, atesta Telle Whitney, CEO do Instituto Anita Borg
(ABI), ONG que trabalha para avançar a condição feminina na indústria da
computação.
Anita Borg tinha um sonho: garantir que, em 2020, 50% de todos os cargos
na área de TI estivessem ocupados por mulheres. “Esse é um trabalho
muito difícil, mas não consigo pensar em nada mais importante que eu
quisesse fazer para o resto da minha vida e que pudesse causar tanto
impacto positivo na vida de jovens mulheres”, disse em uma de suas apresentações.
Aos poucos, o cenário de desigualdade começa a mudar. Segundo as estatísticas atuais de todos os segmentos tecnológicos, há cada vez mais mulheres nas salas de aula. Pelos dados do Instituto Zethos de Educação Corporativa (IZEC), essa mudança de gênero de alunos tem sido notada há algum tempo e a mulher já é considerada maioria quando o assunto é aprendizado de tecnologia. O instituto, que oferece cursos de software, mostra que a média é de 62% de mulhesres.
Representatividade
é uma das chaves para recrutar e preservar mais mulheres no setor de TI.
Mirar-se no exemplo de outras mulheres e jogar luz à trajetória delas é uma
forma de engajar novas profissionais. Na lista a seguir, relembramos algumas
das grandes personalidades femininas que contribuíram para mudar a Tecnologia
da Informação e por que a trajetória
profissional delas serve de inspiração
para as novas gerações.
Ada Lovelace
Primeira
programadora da história
10 de dezembro,
1815 – 27 de novembro, 1852
Considerada a
primeira pessoa do mundo a programar um computador, Ada Lovelace escreveu um
algoritmo para uma máquina computacional que até então existia somente em
papel. Filha do poeta inglês Lord Byron e Anne Isabella Milbanke, Ada foi
incentivada pela mãe a estudar matemática e lógica, um caminho que
eventualmente a aproximou do cientista Charles Babbage, criador da primeira
máquina analítica, uma espécie de computador de uso geral. Ao traduzir um
artigo do matemático italiano Louis Menebrea, que detalhava a máquina
analítica, Ada deixou claro que compreendia o tema: ela acrescentou uma série
de anotações, fazendo o artigo original triplicar de tamanho. Nele,
Ada explica como a máquina em questão poderia computar uma série de
números complexos, chamados de Sequência de Bernoulli. Em resumo, Ada criou o
primeiro software de computador, antes mesmos da existência concreta de um. A
matemática morreu jovem, aos 36 anos, em decorrência de um câncer de útero. O
reconhecimento do seu trabalho veio cerca de um século depois, com a
republicação de suas notas que trazem a descrição de um modelo de computador e
seu respectivo software. Como homenagem, o Departamento de Defesa dos Estados
Unidos criou um código de linguagem e o batizou de ADA, no ano de 1979. Ada foi
visionária ao entender que números poderiam representar mais do que quantidades
e previu que máquinas poderiam ser usadas para compor música, produzir gráficos
e serem úteis para ciência.
Grace Hopper
A Grande Grace
9 de dezembro,
1906 – 1º de janeiro, 1992
Grace Murray
Hopper tinha apenas 7 anos quando para entender como funcionava seu pequeno
despertador chegou a desmontar os sete que havia em sua casa. Sua curiosidade
levou a uma vida frutífera que dá a Grace o reconhecimento como uma das
mulheres mais importantes da história da computação. Nascida em 9 de dezembro
em Nova York, Grace se formou em matemática e física na renomada Vassar College
e conquistou um Ph.D em matemática em Yale. Na Marinha americana, rapidamente
ascendeu para posição de tenente e foi integrada à equipe do computador Mark I
na Universidade de Harvard. Grace é também uma das peças-chave no
desenvolvimento das especificações da linguagem COBOL (Common Business-Oriented
Language). “Amazing Grace”, como chegou a ser apelidada, ainda dedicou grande
parte de seu tempo para validar procedimentos que levariam a padronização
internacional de linguagens de computador. Sua trajetória é uma inspiração para
outras profissionais e desde 1994 um evento para incentivar mulheres na área é
realizado sob o seu nome “Grace Hopper Celebration of Women in Computing”.
Hopper trabalhou até os últimos anos de sua vida, veio a falecer em janeiro de
1992, aos 85 anos.
Hedy Lamarr
De Hollywood ao
Wi-Fi
9 de novembro, 1914
– 19 de janeiro, 2000
Chamada de “a
garota mais bonita do século” por Louis B. Mayer, o magnata dos estúdios MGM,
Hedy Lammar colocou seu nome nos holofotes de Hollywood ao estrelar 30 filmes
entre os anos 1930 e 1950, entre eles “Êxtase” e “Sansão e Dalila”. Mas Hedy,
natural da Áustria, foi também uma inventora, cuja perspicácia e curiosidade a
levaram a desenvolver a chamada tecnologia “frequency hopping”, sistema que
evita a interceptação de mensagens e é usado também nas redes wireless e no GPS.
Ao lado de seu amigo, o compositor George Antheil, ela desenvolveu a ideia
durante a Segunda Guerra Mundial com o objetivo de melhorar os sistemas de
envio de torpedos dos Aliados para que eles não pudessem ser interceptados
pelos nazistas. A técnica permite que o emissor transmita em frequências
variadas e evita que terceiros consigam captar a informação. Hedy e Antheil
patentearam a invenção em 1942 e a entregaram ao governo dos Estados Unidos,
que não chegaram a implementar no envio de mensagens, mas usaram 20 anos depois
durante a crise dos mísseis de Cuba, em 1962, quando a tecnologia militar de
salto de frequência foi implementada pela primeira vez em larga escala.
Joan Clarke
A criptoanalista
que salvou vidas
24 de junho, 1917
– 4 de setembro, 1996
O trabalho de Joan
Clarke como decodificadora durante a Segunda Guerra Mundial ajudou a salvar
milhares de vidas. No entanto, sua contribuição não ganhou os devidos créditos.
A criptoanalista e decodificadora trabalhou ao lado de Alan Turing no Bletchley
Park, do Government Code and Cypher School (GCCS) serviço de inteligência
britânico e foi uma das mentes brilhantes responsáveis pela quebra das
mensagens secretas nazistas, trabalho intensivo que contribuiu com o fim da
guerra. Amiga de Turing, de quem por um breve período foi noiva, Joan foi a
única mulher a trabalhar no projeto de decodificação das máquinas Enigma. As
mensagens que Joan decodificou resultaram em algumas ações militares tomadas
quase que instantaneamente, essas que preveniram navios lotados de serem
naufragados. Apesar de ter sido reconhecida pela Ordem do Império Britânico em
1947, após seu trabalho na Segunda Guerra Mundial, Joan, que faleceu em 1996,
nunca se viu reconhecida por ter contribuído com o Projeto Enigma.
Frances E. Allen
4 de agosto de
1932
A primeira mulher
a ganhar um Turing Award
Frances E. Allen
começou a trabalhar para a IBM em 1957. O que começou como um trabalho para
ensinar o que na época era uma nova linguagem de programação, a Fortran, a
levou a uma carreira na área de otimização de compiladores – programas que
traduzem código fonte em código que podem ser usados diretamente por um
computador. Ela também trabalhou na otimização e paralelização de código, algo
que permitiu que softwares avançados rodassem de maneira melhor até mesmo nos
computadores mais fracos. As técnicas que resultaram de sua pesquisa e trabalho
ainda são usadas nos compiladores de hoje. Frances foi a primeira mulher a
receber um Turing Award, considerado como o Prêmio Nobel da computação.
Karen Spärk Jones
Simplificando o
processamento de linguagem
26 de agosto, 1935
– 4 de abril, 2007
Se em sua vida
você já buscou algo no Google, agradeça a britânica Karen Spark Jones pela
facilidade que você tem ao encontrar resultados ali. Seu trabalho em processamento
de linguagem natural e recuperação de informação tornou possível para pessoas
interagirem com computadores usando palavras simples ao invés de códigos. Ela
também inventou o método usado para determinar a importância de um termo em um
documento, algo que motores de busca usam para pontuar e classificar a
importância de um documento em uma consulta de pesquisa. Não muito depois de
sua morte, em 2007, Karen recebeu a medalha Lovelace da Sociedade de Computação
Britânica.
Anita Borg
Juntas, mudaremos
o setor da tecnologia
17 de janeiro,
1949 – 6 de abril, 2003
Cientista de
computação, Anita Borg dedicou sua vida a aumentar a participação das mulheres
na área de tecnologia. Em 1994 fundou o “Grace Hopper Celebration of Women in
Computing” ao lado de Telle Whitney e criou o Institute for Women and
Technology, em 1997, e que hoje leva o seu nome. Em 1987, Anita criou uma das
maiores comunidades de e-mail para mulheres, a Systers, em uma época que
comunidades online não eram populares, quem dirá um fórum para mulheres em
tecnologia. Em 1992, quando Mattel Inc. começou a vender uma Barbie que
dizia “matemática é muito difícil”, Anita e o coletivo de mulheres do Systers
se levantaram e desempenharam um papel importante ao fazer com que a fabricante
retirasse a frase do microchip da Barbie. Anita lutava para que mulheres
estivessem envolvidas em todos os aspectos da definição do futuro da
tecnologia, desde sua política a pesquisa, ao design e implementação. “Nós
devemos estar lá para assegurar que a tecnologia do futuro nos sirva bem”,
dizia. Pesquisadora, Anita recebeu seu Ph.D em 1981 na Universidade de Nova
York ao concluir dissertação sobre princípios de sistemas operacionais. Anita
faleceu aos 54 anos, vítima de câncer cerebral.
Radia Perlman
A “mãe” da
Internet
1º de janeiro,
1951
Comumente chamada
de “Mãe da Internet”, Radia Perlman projetou dois protocolos que têm sido a
base da movimentação de dados na Internet por décadas; IS-IS que roda na
maioria dos ISPs e o padrão Spanning Tree Protocol, coração da Ethernet. Depois
de se graduar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em matemática
em 1976, o empregador de Perlman deu a ela a tarefa de tornar computadores
confiáveis para compartilhar informações. Sua solução foi o STP, que desativa
caminhos que não são parte do protocolo para determinar caminhos de backup.
Perlman agora trabalha em uma tecnologia chamada TRILL para substituir o STP e
fazer melhor uso do comprimento de banda. Ela detém mais de 100 patentes e já
recebeu muitos prêmios.
A Pure Storage está redefinindo sua estratégia de mercado com uma abordagem que abandona o…
A inteligência artificial (IA) consolidou-se como a principal catalisadora de novos unicórnios no cenário global…
À primeira vista, não parece grande coisa. Mas foi na pequena cidade de Pornainen, na…
O processo de transição previsto na reforma tributária terá ao menos um impacto negativo sobre…
O que antes parecia uma aliança estratégica sólida começa a mostrar rachaduras. Segundo reportagem do…
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos firmou um contrato de US$ 200 milhões com…