Máquina do Estado come 40% do PIB brasileiro, afirma economista

Professor Eduardo Giannetti da Fonseca deu uma palestra para executivos de TI. Em sua apresentação, pintou em tons de cinza o cenário econômico para 2015

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9:50 am - 30 de outubro de 2014

Passar óleo nas engrenagens do Estado tem custado 40% do produto interno bruto brasileiro. A estimativa partiu do professor Eduardo Giannetti da Fonseca, cotado para compor o governo caso Marina Silva ganhasse as eleições desse ano, durante uma apresentação para centenas de executivos de TI em São Paulo.

Ele pintou em tons sombrios o futuro da economia brasileira para 2015.“Trocamos a certeza das urnas pela dúvida dos rumos econômicos do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff”, comenta. Em sua palestra, se propôs responder três perguntas quanto aos rumos econômicos do país: Onde estamos? Como chegamos até aqui? Para onde vamos?

Giannetti acredita que a expressão que melhor denota o momento é de “reversão de expectativas”. Isso porquê, há alguns anos o Brasil despontava como estrela no mundo emergente, crescendo a uma taxa satisfatória acima de 4% ao ano de 2003 e 2010. Em outras frentes, seguia um movimento importante de inclusão que elevou a classe social de 35 milhões de brasileiros, que entraram no mapa de consumo.

“Foi um momento excepcional com o qual se sonhou por muito tempo. O que sabemos é que isso não se manteve”, pontua. Para o professor, o trem começou a descarrilhar por volta de 2011. Desde então, afirma, o País entrega “uma série de números bastante ruins em um conjunto de indicadores econômicos e sociais que levam a muita frustração”.

A visão do economista é que vivemos a confluência de três fatores econômicos que tradicionalmente não costumam andar juntos. A pior parte, adiciona, é que cada um desses pontos já se configura uma fonte especial de atenção por si só. “Assim em conjunto mostram que há algo mais grave e profundo atrapalhando o rumo da economia”, adiciona.

A primeiro fato versa sobre o baixo crescimento crônico, caminhando para uma situação de recessão. O segundo toca a inflação tocando frequentemente o topo das metas definidas pelo governo, que desencadou ações como a tentativa adminstração de preços para segurar a inflação de curto prazo. A prática, bastante usual no Brasil pré-Plano Real está represando “artificialmente” a inflação, afirma o economista.

O terceiro elemento preocupante do quadro brasileiro toca contas externas, com déficit da ordem de 3,7% do PIB, o que gera a necessidade de mais de US$ 80 bilhões ao ano para cobrir esse buraco.  “Enquanto o mundo continuar disposto a nos financiar, isso não representa ameaça. Mas se isso mudar, as coisas ficam complicadas”, acrescenta Giannetti. 

Membro do pelotão dos frágeis
Até esse ponto de sua palestra o economista afirma ter apenas apresentado um “retrato” de fatos que compõem a realidade no Brasil, para alfinetar: “Há uma certa justiça na reeleição da Dilma. Como ela criou essa encrenca, vai ter que enfrentar”.

Apesar disso, o economista afirma que trata-se de “uma visão desapaixonada e isenta do que aconteceu”, para, a partir daí, decompor o capítulo sobre “Como chegamos aqui?” em componentes que explicam as circunstâncias que transformaram o Brasil em um “membro do pelotão dos frágeis”.

O primeiro elemento para a piora econômica nacional, observar Giannetti, tem cunho externo. As mudanças globais afetaram os termos de troca (relação de preço entre o que é importado e exportado pelo país) e liquidez internacional.

“Esses dois movimentos acabaram e há alguns indícios que começam a se reverter”, afirma o economista “O que não dá para aceitar é que isso explique a extensão e a gravidade total da piora da economia brasileira”, acrescenta, citando que o crescimento recente do PIB nacional ficou a 60% da taxa registrada pela América Latina.

O segundo elemento toca aspectos internos, tanto estruturais quanto conjunturais. O componente estrutural não é coisa de um ou outro governo e vem se desenrolado desde 1988. O economista cita que, quando a última constituição foi promulgada, a carga tributária bruta das três esferas – federal, estadual e municipal – comia 24% do produto interno bruto. Ocorre que nesses 26 anos, a carga chegou a 36% do PIB. O fator crítico, diz, é que o Estado gasta 4% a mais do PIB do que arrecada. Ou seja: 40% da renda brasileira é intermediada pelo Governo.

Agora, o que o Governo entrega como investimento na outra ponta, de acordo com Giannetti, toca uma média registrada ao longo dos últimos quatro anos da ordem de 2,5% (percentual que, segundo o economista, foi de 17% do PIB em investimento agregado entre os setores públicos e privados esse ano). Apenas a título de comparação, a taxa é 25% no Chile e 40% na China. “O Estado brasileiro não cabe no PIB brasileiro”, dispara o economista.

Giannetti cita que problemas do Brasil passam pelo tripé tanto macroeconômico (nas políticas fiscais, monetária e cambial) quanto microeconômico. Sobre esse segundo ponto ele cita um aumento considerável no crédito subsidiado, que classificou como Bolsa BNDES, que seria maior do que o Bolsa Família: 0,6% contra 0,5% do PIB, respectivamente. 

E agora, José?
No terceiro e último capítulo (Para onde vamos) da apresentação de Giannetti durante o simpósio do Gartner serviu para apresentar, de fato, a visão do economista quanto ao futuro econômico do país. Quanto a isso, ele observa dois cenários.

O cenário “menos pessimista” foi batizado pelo professor como curva de aprendizado no qual há um reconhecimento de que equívocos foram cometidos no primeiro mandato da presidente Dilma e que isso deve ser corrigido já no início do segundo mandato. Essas medidas corretivas tocariam especialmente a área fiscal, considerada crítica, e um necessário aumento de investimento em infraestrutura.

“Há elementos para que isso possa acontecer, mas muito vai depender de quem for indicado para compor a nova equipe econômica e da presidente reconhecer equívocos e delegar poderes, o que não é parte de seu temperamento”, opina.

O segundo cenário, batizado de aposta redobrada, vale-se do princípio de que uma experiência que deu errada várias vezes deva ser repetida até que dê certo. “Se formos por esse caminho rumaremos para uma ‘argentinização’ do Brasil”, projeta.

O conselho de Giannetti para a próxima equipe convocada para tocar a política econômica brasileira é “voltar ao tripé macroeconômico que estava bem e foi abandonado por Dilma, fazer ajuste fiscal, não ignorar a realidade”, lista.

Em aspectos de microeconomia, a ideia é criar uma agenda que tente melhorar o ambiente de negócios para incentivar ainda mais a cultura empreendedora nacional. Além disso, reforça, a reforma tributária deveria ser a primeiríssima ação do novo governo. “Dá para melhorar muito pois há um desarranjo tributário muito sério”, conclui.

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