Lições da Corrida do Ouro do velho oeste americano para os Bitcoins

Estamos no início de um momento raro, com a utilização crescente das criptomoedas. E olhar para o passado forasteiro pode ajudar a ter sucesso no futuro

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12:03 pm - 19 de setembro de 2017

Com as bitcoins ultrapassando a marca
de US$ 4 mil e o mercado de criptomoedas na casa dos US$ 140
bilhões, há uma sensação parecida como a sentida na era das dot-coms e na
corrida do ouro da Califórnia, que ocorreu em 1800.

Mesmo com o paralelo que pode
ser traçado com a era da Internet, especialmente quando se trata em deduzir em que
fase da bolha estamos, existem poucas comparações com a disputa do ouro da
Califórnia. Então, o que a história pode nos ensinar com a competição “física”
do ouro para nos guiar em meio à corrida digital de hoje? Para ajudar a
resolver essa questão, vamos fazer alguns paralelos entre as duas situações e dar
recomendações para que as organizações possam traçar seus planos.

Impacto global &
envolvimento
Em primeiro lugar, a corrida
do ouro na Califórnia e a atual corrida das criptomoedas têm em comum o impacto
global e o envolvimento. Na corrida do ouro na Califórnia, entre 1848 e 1855,
mais de 300 mil pessoas de outros lugares dos Estados Unidos e do mundo
viajaram para aquele estado. Estima-se que a população de São Francisco saltou
de cerca de mil, para 25 mil residentes em dois anos.

No mundo das criptomoedas,
houve anúncios recentes de que a Rússia pretende desafiar a China na mineração
de bitcoins e tem potencial para responder por 30% desse mercado. Esse assunto
está ganhando a atenção de países, indivíduos e organizações. Assim como na
corrida do ouro da Califórnia, a entrada de organizações ao longo do tempo, em
última análise, pode tornar a mineração altamente rentável, em um esforço
corporativo e não em uma realidade apenas de garimpeiros individuais.

bitcoin

A evolução rápida da
tecnologia

Assim como o uso de pás e picaretas foi ultrapassado por ferramentas hidráulicas e outras técnicas
industriais de mineração de larga escala, os profissionais e as operações de
hoje estão se tornando cada vez mais sofisticados. Os mineradores (ou seja, as
máquinas que mineram criptomoedas) evoluíram de CPUs, GPUs e FPGAs (Field-Programmable Gate Arrays) para
ASICs (Application Specific Integrated
Circuits
), e os procedimentos têm aumentado em tamanho e complexidade.

Da mesma forma que ocorreu na
corrida do ouro, a atual mineração de criptomoedas é uma disciplina de rápida
evolução na qual os equipamentos estão se desatualizando rapidamente enquanto
os níveis de dificuldade aumentam e novas técnicas são introduzidas para
melhorar a taxa de hash computacional, além de reduzir a exigência de consumo
de energia. Mineradores em potencial não podem se deixar levar pela emoção em
relação à moeda e devem analisar e agir constantemente sobre essas variáveis para
ter sucesso.

 

Muita riqueza para poucos
Na corrida do ouro da
Califórnia, foram os prestadores de serviços que muitas vezes lucraram mais
enquanto os mineiros corriam para conquistar uma oportunidade. O empresário e
jornalista Sam Brannan adquiriu grande parte do inventário local de
suprimentos, fornecendo aos mineiros tudo o que eles necessitavam no local. Ele
vendia bateias que valiam entre 10 e 20 centavos por 15 dólares, somou US$ 36
mil dólares nas primeiras semanas e se tornou o primeiro milionário conhecido na
corrida do ouro.

No mundo da criptografia, os
prestadores de serviços são fabricantes de equipamentos de mineração,
provedores de serviços monetários e câmbio, entre muitos outros. Grande parte
desses equipamentos, tais como hardware para carteiras de bitcoins e mineradores
estão sendo vendidos por valores bem mais altos do que os praticados na lista
de preços em leilões on-line e sites de comércio. Além da mineração, o criptoecossistema
mais amplo é digno de avaliação por parte das corporações.

Cultura do velho oeste
Apesar de novos locais de
extração do ouro terem sido descobertos muitas vezes ao longo dos séculos, a
corrida do ouro da Califórnia foi talvez a primeira na qual não houve forças
para proteger a propriedade. Como se tratava de um local distante naquele
momento, não existiu nenhuma fiscalização federal, e os “49ers” –
como eram chamados aqueles mineiros – podiam chegar e fazer a mineração do
ouro, livres de impostos e regulamentos. O lado ruim veio na forma de crimes recorrentes
e uma variedade de golpes, como a “graxa de ouro” que poderia supostamente
ser aplicada no corpo para rolar a montanha abaixo e encontrar ouro.

As criptomoedas estão, de
alguma forma, em situação semelhante, com pouco regulamento e controle, diversos
incidentes envolvendo ataques de hackers, fraudes generalizadas relacionadas a falsos
grupos de mineração, serviços de carteira e pesquisa bem como esquemas Ponzi e
sites de phishing que se propagam pelas redes sociais.

Seguindo em frente
Em termos de recomendações
para organizações empresariais, vale a pena avaliar em qual ecossistema se
pretende atuar. Você deseja apoiar as criptomoedas com a venda de produtos e
serviços, arrecadar fundos para sua startup via um ICO (Initial Coin
Offering
) ou quer se envolver
como um minerador, um agente de câmbio ou, talvez, outro tipo de prestador de
serviços à medida que o mercado amadurecer?

Hoje, muitas organizações estão
acumulando bitcoins para pagar resgates, mas, geralmente, isso não é
aconselhável, pois mesmo quando ocorre o pagamento, não há garantia de que você
receberá seus dados de volta. Um estudo recente mostrou que quase 25% de todos
os ataques de malware permaneceram não solucionados após o pagamento de bitcoins.
O acúmulo de criptomoedas pode ser um grande investimento, mas também deve ser
feito com cuidado, como qualquer outra aplicação financeira.

Obviamente, outra
oportunidade brilhante para organizações empresariais é a tecnologia subjacente
às bitcoins, chamada blockchain. Em um artigo anterior, “Revolução ou distração digital? As duas faces do
Blockchain
“, expliquei como é
arriscado fazer vista grossa e não ter um plano. Se você fizer disso uma área
estratégica, monitorar o cenário de indústrias e aplicações emergentes (com
mais de 1.200 startups de blockchain que cobrem mais de 13 setores), determinar
quando entrar em ação e ter uma abordagem de serviços para pilotos e provas de
conceito, você estará preparado para atacar no momento certo.

Ainda que o mercado de criptomoedas
possa ser errático, pois se trata de um jogo “digital”, acredito que
ele veio para ficar e que ganhará uma parte crescente das transações nos
cenários financeiros e em outros ambientes. Empresas, abordagens e indivíduos
inovadores abordarão os atuais desafios em matéria de segurança e desempenho.
Grandes prestadores de serviços de câmbio, criptomoedas e outros provedores
também vão emergir e se distanciar do restante.

Estamos no início de mais um
momento raro, com o mundo migrando das tecnologias físicas para digitais. Nesse
caso, é claro, as moedas físicas seguirão sempre presentes, por isso, espero
ver mais um equilíbrio entre ambas. Lembre-se das lições da corrida do ouro da
Califórnia que podem ajudar você a dar o passo certo à frente.


(*) Nicholas D. Evans lidera o Programa Estratégico
de Inovação da Unisys

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