A falta de investimentos, tempo e recursos aplicados no desenvolvimento de produtos e serviços inovadores restringe a capacidade de crescimento das empresas no Brasil. Isso é o que aponta o Índice Qualcomm de Inovação da Sociedade (QuISI), estudo realizado pela empresa em parceria com a IDC e divulgado nessa quarta-feira (2/12).
Apesar disso, o Brasil apresenta grande potencial para inovação, e isso está atrelado diretamente à tecnologia. “Cada vez mais a inovação dependerá da tecnologia”, afirmou Rafael Steinhauser, presidente da Qualcomm para América Latina. O executivo também afirma que a ideia do levantamento é medir o grau de conectividade e inovação do País em relação a outros países, bem como levantar a discussão sobre como o Brasil consome tecnologia e quais pontos poderiam ser melhorados.
Steinhauser explicou que a pesquisa tem foco em duas tecnologias específicas: mobilidade e internet das coisas (IoT, na sigla em inglês). “Escolhemos a mobilidade, porque acreditamos que ela é uma tecnologia disruptiva, que transformou nossas vidas, trazendo capacidade de conexão tanto de pessoas quanto para empresas”, afirma. O segundo foco, de acordo com o executivo, foi escolhido para saber em qual nível e a relação do Brasil nesse cenário de tecnologia avançada.
O estudo considerou três verticais para análise: pessoas, negócios e governo – sendo que este último foram entrevistados apenas pessoas que trabalham diretamente com a administração e não funcionários propriamente ditos. O primeiro mostra o papel das pessoas como consumidores de tecnologia, negócios visa apontar o consumo e criação de inovação por empresas, e o governo aponta o papel regulador e incentivador do governo, usando a perspectiva dos que são diretamente influenciados.
Pessoas: nesse ponto, a pesquisa entrevistou usuários por meio de formulários on-line. O que se constatou foi que 86,5% dos brasileiros consideram a influência da tecnologia em suas vidas como “Alta” ou “Média”. A maioria (70%) dos usuários de smartphone comprarão ou trocarão seus dispositivos no próximo ano e 48% dos pesquisados revelaram intenção de compra de seu próximo smartphone em menos de seis meses.
Dentre os itens que mais importam aos usuários para definir a próxima compra de smartphones é a performance, seguido por preço e facilidade de uso. Na hora de comprar, 34% dos brasileiros desejam um produto melhor em comparação ao que possuem e, para tanto, estão dispostos a desembolsar um valor maior do que o que foi pago no modelo anterior.
A adesão aos wereables ou dispositivos vestíveis ainda é pequena no Brasil, apenas 4% dos respondentes possuem dispositivo vestível. Ainda assim, 31% dos pesquisados já entende o conceito de vestíveis e 17% declararam considerar a compra desse tipo de dispositivo nos próximos seis meses – sendo o smartwatch o mais desejado no momento. Esses indicadores, de acordo com a IDC, suportam a previsão de rápido crescimento na adoção de IoT no Brasil nos próximos anos.
Para negócios, 93% dos entrevistados afirmaram ter alguma iniciativa de inovação tecnológica. Sendo que 30% dos entrevistados direcionam menos de 1% de sua receita à tecnologia de apoio à inovação e apenas 7% dos projetos em inovação tecnológica são relativos à internet das coisas. Esses números relativos a projetos de IoT sinalizam a necessidade de uma evangelização sobre o tema para acelerar o desenvolvimento desse mercado no Brasil, de acordo com a consultoria.
Já no governo, o estudo destaca a opinião de influenciadores sobre a política do governo no suporte a patentes e propriedade intelectual. Segundo o estudo, a burocracia é um dos principais impedimentos à produção científica do país: o processo burocrático é lento e o tempo para registrar uma patente no Brasil leva de 10 a 15 anos.
Segundo a pesquisa, 67% dos entrevistados acham que o governo tem interesse em investir em mobilidade. Quando se trata de IoT, o percentual é de 60% (a média para a América Latina é 48%). Os entrevistados ressaltam que o governo prioriza a geração de receita, coleta de impostos e controle de multas em detrimento à oferta de bons serviços para a população. O IDC conclui que a criação e proteção da propriedade intelectual ainda é muito difícil, custosa e lenta no país.
Em comparação com outros países que possuem maior representação mundial – dentre eles EUA, China e Israel, o Brasil fica no patamar apenas no quesito pessoas, com 63% de investimento. Já para negócios e governo, o País está aquém da média mundial, com 30% e 23% respectivamente. “A tecnologia precisa ser vista como parte do desenvolvimento do País, dessa forma ganhará mais participação”, observa Reinaldo Sakis, gerente de pesquisa da IDC Brasil. O executivo ressalta que a inovação no Brasil, como aponta a pesquisa, ainda está muito relacionado a ampliar o controle e angariar mais recursos do que propriamente melhorar o atendimento à população.
O estudo foi conduzido entre setembro e outubro de 2015 e usou estatísticas da IDC e outros dados de mercado para análises comparativas entre países, bem como entrevistas realizadas para análise da América Latina (que inclui Argentina, Colômbia e México, além de Brasil).
Para pessoas, foram ouvidos 385 dos usuários provenientes de classes A, B e C, entre 18 ou mais anos e que já possuem smartphone. Na vertente negócios, a empresa ouviu 150 tomadores de decisão, entre eles CIOs, CEOs e gerentes de empresas com mais de 100 funcionários. E para governo, foram realizadas 15 entrevistas em profundidade com influenciadores (startups, universidades, institutos de P&D) e prestadores de serviço.
A pesquisa usou como base tanto entrevistas realizadas com representantes dos três grupos mencionados, quanto estatísticas da IDC e outros dados de mercado para análises comparativas.
Pioneirismo
Um dos pontos que Steinhauser ressaltou durante a apresentação do estudo foi o pioneirismo do Brasil em usar mobilidade como ferramenta de inclusão social. “O 0800 dados possibilitou o acesso de pessoas a serviços mesmo que sem a necessidade de um plano de dados”, observa o executivo.
A iniciativa, continuou ele, trouxe não somente economia para empresas, mas principalmente a inclusão de uma parcela que não tinha acesso. Isso ganha ainda mais relevância se considerado o cenário móvel brasileiro, em que apenas 15% dos usuários possui acesso à internet 4G. A esmagadora maioria ainda está no 2G. “Se comparado com a China, por exemplo, o cenário é o oposto. Lá 85% dos usuários possuem acesso ao 4G”, observa Steinhauser.