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Estética nos negócios traz reflexão sobre vazio do mundo moderno

O mundo moderno impõe uma realidade que se resume à falta de sensações. Quem nunca sentiu que levava a vida somente para trabalhar e, de repente, surgiu aquele vazio? Uma impressão de que falta sentido para tudo o que se faz diariamente no trabalho. “É aquela sensação de que você não pode relaxar nunca, porque se o fizer, alguém passará por cima”, afirma o filósofo Luiz Felipe Pondé, que deu uma aula sobre estética nos negócios para um grupo de líderes da indústria de TI, convidados da segunda edição do Leadership Academy, que aconteceu na noite de quarta-feira (2/3), no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo.
O ehttps://stg.itforum.com.br/wp-content/uploads/2018/07/shutterstock_528397474.webpso deu início à sua reflexão explicando a origem da palavra estética, que vem do grego aisthésis e significa sensação. E, dependendo do contexto, pode significar a falta dela. “Por isso que quando você toma uma anestesia [do grego an aisthésis] você fica ‘sem sensação’, sem ser afetado pelo que vem de fora”, explica. O mundo moderno, continua ele, traz um pouco dessa “paralisação” para o cotidiano.
Esse novo cenário acarreta em um fenômeno que traz a ideia de que as sensações teriam sido expelidas da rotina. Para ele, a modernização pressupõe a eliminação de emoções a serviço da produtividade. “Você se torna um robô racionalizado e produtivo, e isso cria um sentimento de que algo está errado”, diz.
Continuando a linha de pensamento, Pondé traçou outra questão: por que, então, haveria a necessidade de se pensar em trazer a estética para dentro dos negócios? Ou, basicamente, o que está faltando no mundo moderno que trouxe esse tema à tona? “Esse mal estar moderno nos levou a refletir sobre a necessidade da arte, de pensar sobre as sensações, da beleza no mundo contemporâneo.” A resposta para isso ele busca lá no romantismo.
Os românticos do século XVIII – como parte de um movimento histórico que vai além da ideia por trás do amor verdadeiro – são indivíduos narcisistas, egocêntricos, que possuem ideais utópicos e desejos de escapismo. São um pouco do retrato dos indivíduos da modernidade que estão presos em seus cotidianos regrados, mas que buscam cada vez mais por algo que os faça sentir que fazem a diferença.
É possível encontrar um pouco dessa idealização nos chamados millennials: jovens que lideram uma nova era no ecossistema laboral. São aqueles que não têm paciência para esperar por resultados, exigem líderes que deem feedbacks claros e imediatos e, se não se sentem satisfeitos, pedem demissão. Ainda assim, são os mesmos jovens que estão ficando cada vez mais presos ao trabalho pela modernidade, pela facilidade com que o celular está às mãos, prontos para receber e enviar e-mails.
Essa falta de limites comprime a beleza da vida e traz riscos. Só trabalhar o tempo todo pode se tornar uma experiência vazia. “À medida que assimilamos essa inquietação romântica, empresas e negócios vão tentando dar espaço às novas experiências”, afirma o filósofo.
É preciso, portanto, trazer novo ar ao dia a dia, e estimular sensações que façam com que as pessoas – colaboradores em corporações de qualquer porte – sintam que o ambiente de trabalho tem um algo a mais, que pode ser um local com significado que “tire a pessoa da percepção de que ela está dentro de um caixote”, argumenta Pondé.
Nesse ponto, foi-se criando a ideia de que era preciso, afinal, transformar o local de trabalho em algo interessante, com um design especial. “Na área de publicidade, por exemplo, ou em empresas como Twitter e Facebook. São locais com uma população bastante jovem trabalhando e é fácil notar que, ao entrar no lugar, aquilo não tem cara de trabalho. Parece um bar, com som alto, pessoas tomando refrigerantes e mascando chicletes”, brinca.
Faz-se necessário encontrar o equilíbrio. “Há um impasse, porque a própria lógica contemporânea é baseada na ideia de estabelecer alvos e ser objetivo. Mas se formos racionais o tempo inteiro, adoecemos. Precisamos de áreas na vida nas quais não precisemos ser assim, momentos nos quais paramos de nos preocupar com tudo”, observa.
O romantismo traz a arte de se sonhar acordado, de ser um eterno apaixonado. Um pouco do que se leva ao trabalho – afinal, quem tem paixão pelo que faz, realiza tarefas com mais afinco. Mas esse conflito de “trabalhe com o que você ama” diário, imposto pelo mundo moderno, pode levar ao vazio e, ressalta Pondé, não há escapatória. Mas também pode não ser de todo ruim. “Esse mal estar nos mantém humanos. Se você, em algum momento, parar de ter essa sensação de que falta sentimento e algum nível de paixão, isso significa que você está tão massacrado [pela rotina] que não consegue nem mais sentir isso”, encerra.

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