Consumo colaborativo já é realidade para 74% da população, diz estudo
É um sistema "que parece inovador", mas "consumir de forma compartilhada é uma volta às origens."

Em um ano, o número de brasileiros dispostos a adotar práticas de consumo colaborativo nos próximos dois anos subiu de 68% para 81%.
Isto é o que indica o estudo da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) com o SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito). O estudo foi realizado em todas as capitais e ouviu 837 consumidores acima dos 18 anos.
Destes, 74% já utilizaram ao menos uma vez alguma modalidade de consumo colaborativo. 88% dos entrevistados afirmam que essas práticas já ganharam espaço em suas vidas.
A mudança de paradigma ganha força graças à tecnologia e corresponde a 85%. A internet (55%) e as redes sociais (48%) são os meios que mais contribuem para o desenvolvimento de confiança, segundo os entrevistados. Já 37% das pessoas contaram com a recomendação de amigos e conhecidos.
José Vignoli, educador financeiro do SPC Brasil, afirma que a sociedade está indo em direção a um modelo mais sustentável. Na sua visão, a economia compartilhada une uma forma de gerar renda e contribuir para um mundo melhor.
“A internet ampliou exponencialmente esse movimento“, afirma, citando ainda sites e aplicativos como parâmetro. É, como explica, um sistema “que parece inovador“, mas também que “consumir de forma compartilhada é uma volta às origens.”
Vignoli reforça que a economia colaborativa “fortalece o senso de comunidade” e contribui “para um estilo de vida mais sustentável.”
O que é compartilhado?
O levantamento aponta que há três modalidades com as quais os brasileiros mais reconhecem que podem experimentar no futuro. São elas: coworking (61%), aluguel ou troca de brinquedos (59%) e hospedagem de animais de estimação na casa de terceiros (59%).
Entre os que já adotam alguma prática, caronas para o trabalho, faculdade, passeios ou viagem representam 42%; o aluguel de residências para curtas temporadas 38%; e a locação de roupas 33%.
Vale citar que serviços, por exemplo, como o Waze Carpool e Uber Juntos, voltados para caronas, têm ganhado espaço no mercado brasileiro.
Dos entrevistados, 91% se dizem satisfeito com as práticas de compartilhamento que já utilizaram. Já 70% deles entendem o tamanho da economia que a prática rende, e 40% consideram grandes os recursos poupados.
Economia sustentável
A pesquisa também revela que quase todos (98%), adeptos ou não, enxergam alguma vantagem prática no consumo colaborativo:
- 45% enxergam a oportunidade de economizar dinheiro;
- 44% acreditam que evita o desperdício;
- 43% que diminui o consumo excessivo;
- 34% que ajuda a poupar energia e recursos naturais;
- 33% que pode ajudar outras pessoas.
A chance de economizar dinheiro, para quem já experimentou alguma prática de consumo compartilhado, é o que mais pesa na decisão pessoal da maioria (57%). Já 44% deles pensam em como isso pode contribuir com a sociedade e o meio ambiente, 33% em ajudar outras pessoas e 29% em economizar tempo.
O que pensam sobre os usados
O levantamento aponta que seis em cada dez consumidores (62%) compraram algum produto usado nos últimos 12 meses. Dentre estes, 96% se mostraram satisfeitos com a compra.
A internet tem sido o principal meio de impulsionar as compras via aplicativos ou sites especializados (69%), enquanto redes sociais são o segundo (54%). A indicação de amigos ou conhecidos corresponde a 46% dos entrevistados.
A maioria (79%) costuma verificar se um produto usado, em bom estado, é mais vantajoso do que comprar um novo. Ainda obre os usados:
- 21% não têm esse hábito de buscar tais opções;
- 51% buscam livros;
- 50% móveis;
- 49% automóveis e celulares;
- 46% eletrônicos e eletrodomésticos.
Como destaca Vignoli, considerando o período e dificuldades financeiras, “essa pode ser uma saída para quem deseja fazer compras a preços acessíveis ou vender objetos que apenas ocupam espaço em casa”.
Ainda falta confiança
Apesar do crescimento do consumo colaborativo, o Brasil ainda enfrenta a falta de confiança. Dos entrevistados, 45% tem medo de serem “passados para trás”, 43% têm medo da falta de informação, 38% de lidar diretamente com pessoas estranhas e 33% da outra parte não cumprir os acordos.
No compartilhamento de roupas e itens pessoais, moradia ou espaço de trabalho, as coisas também não são das mais confortáveis. Segundo os entrevistados, o cohousing tem o maior índice de rejeição (41%). O aluguel de roupas vem em segundo (33%) e o aluguel temporário de residências em terceiro (32%).
O maior “bloqueio” está na hora de oferecer caronas (42%) ou compartilhar o local de moradia (38%). A sensação de dividir um espaço pessoal com terceiros também impede o compartilhamento de moradias (26%).
O receio de que o bem emprestado não volte no mesmo estado é a maior preocupação em relação aos veículos (44%), bicicletas ou patinetes (40%). Agora, se o item vai voltar ou não, é um medo mais forte no compartilhamento de brinquedos (29%).
O educador financeiro do SPC Brasil aponta, como filtro, a “pontualidade na devolução, cuidado na utilização, estado de conservação e pagamento” como avaliações entre os clientes.
O estudo considerou pessoas de ambos os gêneros, de todas as classes sociais e das 27 capitais brasileiras. A margem de erro é de no máximo 3,4 pontos a um intervalo de confiança de 95%.