A questão que mais tem excitado a imaginação do mercado financeiro é saber como evoluirá o fenômeno das fintechs, as empresas de tecnologia que vêm conquistando consumidores com a oferta de serviços à margem do sistema bancário, e como os todo-poderosos bancos reagirão a esse assédio.
Calcula-se que haja atualmente cerca de 4 mil fintechs em atividade e, pelas contas da Goldman Sachs, considerando os segmentos em que elas atuam, a fatia do mercado que está em jogo responde por uma receita anual de cerca de US$ 4,7 trilhões.
No ponto da curva em que nos encontramos, o que tem predominado é o movimento em direção à inovação disruptiva. A emergência das fintechs expôs as fragilidades das enormes e bem assentadas estruturas do sistema bancário. Pesadas e lerdas, elas não foram capazes de identificar ou de responder às novas necessidades dos consumidores, em especial dos jovens consumidores, e perderam espaço.
Não há como não rir ao saber que, segundo um estudo da consultoria norte-americana Scratch, o «Millenial Disruption Index», os consumidores da geração internet preferem ir ao dentista a ouvir o que os bancos têm a dizer.
Para estes consumidores, o celular substitui naturalmente a carteira na hora de fazer pagamentos; projetos são financiados pela coletividade em sites de crowdfunding; emprestar ou tomar dinheiro emprestado é coisa que se pode resolver entre pessoas físicas, numa relação P2P – basta que haja um aplicativo capaz de ligar as duas pontas. Melhor ainda que tudo isso venha com a promessa (nem sempre verdadeira, diga-se) de custos reduzidos.
Essas e outras inovações, que receberam uma adesão imediata do público, carrearam muito dinheiro de investidores interessados em financiar as fintechs.
Em 2015 as startups financeiras atraíram US$ 19 bilhões em investimentos, dez vezes o valor obtido em 2010, segundo os cálculos do Citygroup. E os casos de sucesso se multiplicam. Nos Estados Unidos, uma empresa como a Lending Club já movimenta mais de US$ 9 bi em empréstimos ao ano, o que representa quase 10% do movimento dos cartões de crédito naquele país.
Ao mesmo tempo em que nascem startups a torto e a direito, as gigantes da tecnologia oferecem serviços como Google Wallet, Apple Pay, Amazon Payments, Samsung Pay e Pay-Pal. Além de poderosas, essas empresas sabem lidar muito bem com os consumidores e podem vir a representar uma ameaça bastante séria. No Brasil, várias fintechs vêm ganhando espaço. É o caso do Nubank, que surgiu em 2013 e já tem mais de 1 milhão de clientes do seu substituto de cartão de crédito, e do Intoo, que oferece crédito para empresas.
Na torre de comando do mercado global, os grandes bancos olham do alto para essas mudanças. Sabem que têm suas fragilidades, mas sabem também que são grandes demais para serem empurrados para fora do mercado com facilidade.
Por via das dúvidas, também não voltam as costas ao que está acontecendo. Pelo contrário, estão sim criando braços para participar desse mercado. Veja-se o exemplo, no Brasil, do Bradesco, que criou um fundo para investir em fintechs, o InovaBRA. Segue o mesmo caminho de grandes corporações internacionais como Santander, que também criou um fundo, o InnoVentures, e o Barclays que constituiu uma incubadora de fintechs.
Se há forças poderosas a favor da disrupção, também há muitos fatores de atração entre os players desse mercado que podem conduzir a um processo de fusão. As próprias fintechs, segundo pesquisa da Unidade de Inteligência do The Economist, reconhecem nos bancos atributos que lhes faltam para voos mais altos: um grande base de clientes, reputação de confiabilidade e estabilidade, experiência regulatória, linha completa de serviços bancários, grande capacidade financeira e expertise em gerenciamento de risco.
Os bancos, por sua parte, sonham em dispor dos recursos que sobram nas fintechs e engessam suas estruturas: capacidade de inovar, agilidade em responder ao mercado, expertise tecnológica, capacidade de aperfeiçoar produtos e, até que as leis e normas sejam alteradas para alcançar os novos negócios, usufruir da baixa pressão regulatória (uma enorme vantagem competitiva em relação ao super-regulado sistema bancário).
O que esses movimentos nos mostram é que o processo de evolução é tão complexo e imprevisível no mercado quanto na natureza. Há disruptura ao mesmo tempo que há integração. Em que medida essas tendências vão contribuir para dar uma nova cara ao mercado financeiro é a grande charada que só o consumidor pode resolver.
*Arie Halpern é diretor da Gauzy Technologies.
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