Como reciclar a TI para a era da Inteligência Artificial

Cientistas de dados, especialistas em Inteligência Artificial e Desenvolvedores de Machine Learning estão em alta demanda agora – tanto, que esses são alguns dos trabalhos mais difíceis de serem preenchidos.

De acordo com o relatório de melhores empregos deste ano, da Glassdoor, o cientista de dados foi o melhor trabalho nos EUA. Também esteve no topo da lista em 2017 e em 2016, e acima do nono lugar em 2015. O número de vagas no site subiu de 3.449, em 2015 para 4.524, este ano. E a IBM prevê que o número de vagas para cientistas de dados dos EUA e funções analíticas avançadas semelhantes chegará a 61.799 até 2020, com uma taxa de crescimento prevista de 93% em Ciências de Dados, seguida de Machine Learning, com 56% de crescimento previsto.

À medida que a demanda aumenta, o número de candidatos disponíveis para preencher esses papéis está mostrando sinais de não conseguir acompanhar o ritmo. De acordo com a Bloomberg, as vagas de emprego para cientistas de dados no Indeed.com aumentaram 75% entre janeiro de 2015 e janeiro de 2017 – mas as pesquisas por empregos na área  aumentaram apenas 65% .

Não é de admirar que as empresas tenham dificuldade em encontrar pessoas qualificadas. De acordo com o estudo State of the CIO 2018, 36% dos entrevistados disseram que preencher as funções de Business Intelligence e análise de dados será difícil, perdendo apenas para a segurança cibernética. A Inteligência Artificial também alcançou a lista dos dez melhores, com 18% dos entrevistados dizendo que o papel da IA será difícil de preencher.

“Há uma demanda significativa por pessoas com experiência em IA e Machine Learning”, diz Tom Mitchell, professor da disciplina na Universidade Carnegie Mellon.

Em vez de contratar novos funcionários, algumas empresas procuram ajudar os funcionários existentes a obter o ensino avançado e o treinamento necessários para atuar em Ciência de Dados, Inteligência Artificial e Machine Learning.

O treinamento mais avançado, como o programa de mestrado da Carnegie Mellon, leva entre um ano e um ano e meio para ser concluído e requer conhecimento de estatísticas e habilidades básicas de programação. Mas também há muitos programas e cursos online que as pessoas podem fazer, diz Mitchell.

Aqui está uma olhada em como várias empresas em uma ampla gama de setores estão treinando funcionários atuais para a era da IA ​​pela frente.

De volta à escola
O Condado de Los Angeles sabe como o mercado de trabalho está difícil agora.

“Estamos buscando recursos difíceis de encontrar quando se trata de Inteligência Artificial e especialistas em automação e de negócios”, diz Murtaza Masood, diretora assistente do Departamento de Recursos Humanos de Los Angeles. Ele foi anteriormente o CIO do departamento e está liderando muitas das iniciativas de Transformação Digital para o município.

Os esforços de recrutamento incluem parcerias com todas as instituições acadêmicas regionais com programas relevantes e um programa de estágio para criar um fluxo de talentos.

Além disso, o condado também tem desenvolvido seus próprios especialistas em IA.

“Há três anos, estabelecemos um centro de excelência para a IA que nos permitiu começar a reunir recursos existentes no município que tinham alguma experiência nessa área”, diz ele. Os funcionários interessados ​​no assunto podem obter reembolso para cursos externos, bem como treinamento interno.

Os funcionários estão particularmente interessados ​​no projeto de algoritmos, diz ele, mas os tipos de treinamento empregados variam dependendo da necessidade.

“Iniciativas de negócios levam a decisões de plataforma, por sua vez, levam ao aumento da demanda por treinamento em torno desses elementos específicos”, diz ele. Felizmente, o condado tem talento próprio para desenhar. “Historicamente falando, fomos os primeiros a adotar pacotes de análise estatística.”

Por exemplo, o condado tem investido recentemente em ferramentas de monitoramento e análise para identificar uma variedade de problemas de pessoal, bem como problemas potenciais de segurança cibernética. Com 111 mil funcionários – LA County é a maior organização do governo local no país – há muitos dados que podem ser analisados ​​para detectar possíveis problemas. Mas Masood quer ver a Inteligência Artificial e o Machine Learning usados ​​para mais do que detectar problemas.

“Onde estou realmente empolgado, tanto como profissional de RH quanto como tecnólogo, é a capacidade de oferecer   treinamento para que os funcionários possam se antecipar a tudo isso. A capacidade de fornecer informações oportunas e pequenas que permitam a um funcionário melhorar sua processos de pensamento ou comportamento ou conhecimento, é aí que eu acho que o poder real e o futuro podem estar “, diz ele.

Levando treinamento internamente
A Capgemini também está no meio de um grande esforço agora para contratar pessoas com experiência em IA. A consultoria não escreve software, mas trabalha com os clientes para configurar e integrar softwares existentes, e a IA agora é uma área importante de foco.

Além de contratar especialistas e patrocinar funcionários existentes para obter treinamento adicional, a empresa também possui um centro de aceleração digital para ajudar os funcionários a aprender sobre a nova tecnologia da IA.

“Temos um ambiente seguro e vamos testar o software em um laboratório”, diz Tom Ivory, diretor de inovação estratégica da Capgemini. “Estamos experimentando dezenas de tecnologias de Inteligência Artificial no momento, e nem todas elas terão luz verde para seguir em frente.”

Nesse ponto, a Capgemini treinará executivos e gerentes de entregas e outras pessoas da equipe que trabalham com os clientes sobre como usar essas ferramentas, diz ele.

A empresa também usa IA em suas próprias operações. Por exemplo, a Capgemini usa a tecnologia de automação da UiPath e do IBM Watson para ajudar a processar currículos de contratações em potencial.

“Normalmente usamos pesquisas de palavras-chave”, diz ele. “Ao usar a Inteligência Artificial, há mais nuances que podem aumentar a taxa de sucesso do indivíduo que está sendo empregado em um projeto”.

No início, a Capgemini usou o treinamento fornecido pelo fornecedor, mas logo houve uma massa crítica de especialistas internos.

“Nós tínhamos uma linha de base de gerenciamento que foi treinada, bem como pessoas que realmente teriam as mãos no teclado, estrategistas e pessoas que poderiam entender como essa tecnologia afetaria os processos de negócios”, diz ele. Nesse ponto, a Capgemini optou pelo treinamento interno, usando modelos de treinamento adquiridos do fornecedor como base.

Três anos atrás, o número de pessoas na empresa treinados nessa tecnologia estava na cada das dezenas – agora, existem milhares, diz ele.

Abraçando a IA em toda a empresa
Para empresas de tecnologia que possuem um componente de IA para seus produtos ou serviços, o treinamento de funcionários é ainda mais crítico.

A Salesforce, por exemplo, vem adicionando inteligência à sua plataforma online de ERP. Isso significa que os funcionários internos precisam conhecer o caminho da tecnologia. Há uma plataforma de treinamento online, parte do mesmo sistema Salesforce Trailhead disponível para o público.

“Temos nossa própria Trail, na qual temos todo esse material de aprendizado disponível gratuitamente, que permite que as pessoas aprendam como consumir a capacidade de IA que o Salesforce oferece”, diz Marco Casalaina, vice-presidente de gerenciamento de produtos Salesforce Einstein. “É um conhecimento transversal – queremos que todos possam adicionar inteligência e usar inteligência em aplicativos Salesforce”.

Por exemplo, uma equipe de desenvolvimento de TI que trabalha em um aplicativo de agendamento de sala para gerenciamento de instalações acrescentou inteligência a seu aplicativo, para atribuir salas aos clientes que mais se beneficiariam das reuniões.

“Eles não são cientistas de dados”, diz Casalaina. “E nosso treinamento é feito para pessoas assim, pessoas que não têm experiência em ciência de dados, mas querem fazer previsões”.

Orientação peer-to-peer
A empresa de segurança cibernética Stealthbits Technologies também está investindo em habilidades de IA e Machine Learning. Parte disso é de fontes externas, diz Jonathan Sander, CTO da empresa. “Mas a maior parte é peer-to-peer”.

O treinamento real é diferente para os diferentes grupos de engenharia, diz ele. “Para o pessoal de P&D que vai trabalhar com as mãos, eles estão procurando por cursos iniciais mais abrangentes, seguidos pelos materiais peer-to-peer que geramos, e finalmente passar para um sistema de orientação que temos para construir talentos de P&D. É preciso cobrir tudo, desde o básico até à aplicação. ”

No suporte, consultoria e pré-venda, os funcionários precisam entender como usar a tecnologia e comunicar seu valor.

“Nossos clientes sempre se beneficiam de engenheiros mais qualificados”, diz ele, “e o treinamento da ML os preparou para receber bons conselhos no uso de nossas soluções, assim como geralmente abordar o ML como uma ferramenta valiosa”.

Muitas empresas pensam que o Machine Learning é muito complexo ou obscuro para aprender – isso é um erro, diz ele.

“Ignore essas impressões e comece a sujar as mãos”, diz ele.

Como o Stealthbits, a empresa de big data Insight Engines também vê muito valor no treinamento peer-to-peer.

“Começamos expondo de forma incremental novos funcionários a pequenas áreas de nosso pipeline de desenvolvimento, onde as mudanças realizadas têm impacto em grande escala em nossos clientes”, diz Darien Kindlund, vice-presidente de tecnologia da empresa. Em seguida, eles passam a trabalhar na melhoria dos fluxos de trabalho, enquanto continuam sendo supervisionados por mentores experientes.

Até agora, cerca de 65% dos funcionários – técnicos e não técnicos – receberam esse tipo de treinamento, com foco em Machine Learning, Processamento de Linguagem Natural e Ciência de Dados, diz Kindlund.

“Ao fornecer treinamento on-the-job focado no impacto do cliente em um ambiente aplicado, descobrimos que nossa equipe absorve, aprende e se baseia nessas habilidades muito mais rapidamente do que em um ambiente acadêmico”, diz ele.

A Vectra Networks, fornecedora de segurança cibernética, também está se concentrando no treinamento no trabalho, ponto a ponto.

“Muitas vezes, temos mentores experientes lado a lado aos novos contratados em projetos para oferecer sugestões e orientá-los com abordagens de Machine Learning”, diz Kevin Ni, líder da equipe de dados da empresa. “Ao treinar os funcionários aqui da maneira como fazemos, podemos orientar o desenvolvimento deles voltado para o espaço único do problema em que estamos. Isso significa que os clientes podem obter resultados mais rapidamente. Também incentivamos os funcionários a fazer aulas online se não estiverem familiarizados com assuntos específicos.”

Esperar que os funcionários aprendam sozinhos não é rápido o suficiente, diz Joseph Kucic, CSO da Cavirin Systems, um fornecedor de segurança cibernética. Até recentemente, ele estava no grupo de trabalho de IA da empresa na Verizon.

“No trabalho, o mentor do parceiro acelera a capacidade de transferir conhecimento e executar as metas de negócios”, diz ele.

Se a necessidade de talentos em IA é extremamente urgente, então você pode tomar ações radicais, como adquirir talentos, comprando outra empresa, diz ele. “Mas, no longo prazo, o foco precisa estar em uma abordagem de parceiro-mentor.”

Treinando no ritmo da mudança
Ao treinar funcionários em qualquer tecnologia emergente, é essencial acompanhar a taxa de inovação. Isso significa adotar uma abordagem contínua para promover novas habilidades.

A Invoca, uma empresa de inteligência de chamadas da Califórnia, lançou seu produto de Machine Learning, Signal AI, há cerca de um ano. Como o aprendizado de máquina é agora um foco central da empresa, o treinamento é essencial.

“Realizamos sessões educacionais em todos os departamentos para educar as equipes internas sobre fundações de IA, bem como especificamente relacionadas à nossa oferta de soluções de IA”, diz Sean Storlie, diretor de gerenciamento de produtos da empresa. Há treinamentos trimestrais relacionados à IA da equipe de Ciência de Dados da empresa. Além disso, os funcionários podem buscar tutoriais online, conferências e treinamento in house.

“Você não pode educar demais sobre este assunto, pois as coisas estão mudando muito rapidamente nesta indústria”, diz ele.

“Criamos softwares que supostamente também ajudam outras empresas a implementar ML e IA”, diz Lalith Subramanian, vice-presidente de engenharia de segurança, descoberta e análise da OpenText. “Internamente, o que descobrimos é que as habilidades precisam ser atualizadas constantemente.”

A empresa tem um programa de reembolso de mensalidades para os funcionários e também executa programas de treinamento nos últimos três ou quatro anos, diz ele. “Por exemplo, se tivermos um tópico como redes neurais comutativas, trazemos uma empresa de treinamento e temos grupos de funcionários recebendo o treinamento”, diz ele.

Mas eles vão embora, certo?
Algumas empresas relutam em investir em treinamento relacionado à IA porque temem que os funcionários saiam, levando suas novas habilidades para outro lugar.

“Na indústria de tecnologia, especialmente no Vale do Silício, um certo grupo de oportunistas receberá o treinamento mais recente para ter uma boa aparência nas entrevistas”, diz Subramanian, da OpenText. “Mas não é mais do que se não tivéssemos o treinamento.”

De fato, em sua experiência, ter o treinamento disponível ajuda na retenção, diz ele.

Outra empresa de segurança cibernética que oferece treinamento extensivo relacionado à Inteligência Artificial para os funcionários é Demisto.

“Não estamos preocupados com a retenção”, diz o co-fundador da empresa, Rishi Bhargava. “Como empresa, acreditamos firmemente que funcionários melhor treinados são funcionários mais felizes e fazem seu trabalho melhor. Além disso, incentivar o aprimoramento de pessoal é apenas uma das facetas da cultura geral da empresa”.