A tecnologia apoiando a Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF) no Amazonas
Uma estratégia sustentável para a saúde na Amazônia

A região amazônica é um dos cenários mais desafiadores em termos de acesso à saúde. As vastas extensões de rios, a baixa densidade populacional e a falta de infraestrutura rodoviária fazem com que muitas comunidades ribeirinhas dependam quase exclusivamente de embarcações para se conectar com centros de saúde. Nesse contexto, a Unidade Básica de Saúde (UBS) Fluvial emerge como uma solução essencial, fornecendo suporte médico a populações isoladas ao longo do Rio Solimões.
Conectividade e tecnologia: coleta de dados e inovação em saúde digital
Um dos maiores desafios da estratégia de saúde fluvial é a coleta de dados e o acompanhamento contínuo dos pacientes atendidos. Nesse sentido, a conectividade é um fator decisivo para melhorar a eficiência das operações. Durante a viagem, a UBS Fluvial utiliza tecnologias de comunicação via satélite e internet para:
- Coleta de dados clínicos: A cada parada, os profissionais de saúde realizam o registro digital dos atendimentos e o envio desses dados para os sistemas centrais do SUS. Isso permite um acompanhamento mais preciso da saúde das populações ribeirinhas, além de possibilitar uma melhor gestão dos estoques de medicamentos e materiais médicos a bordo.
A jornada: logística de saúde no coração da Amazônia
Recentemente pude acompanhar de forma remota uma viagem típica de 10 dias, uma UBS Fluvial que anualmente pode percorrer centenas de quilômetros, nesse caso visitou 12 comunidades ao longo do trajeto. O planejamento da viagem envolve uma complexa organização logística, que considera fatores como:
- Distância entre comunidades: O percurso entre as comunidades pode variar de 10 a 40 quilômetros, dependendo das condições do rio e do nível das águas, o que influencia diretamente o tempo de deslocamento.
- Tempo de permanência: A UBS normalmente permanece entre 6 a 12 horas em cada localidade, dependendo da complexidade dos serviços a serem oferecidos e das necessidades específicas da comunidade. Durante essa permanência, são realizados atendimentos médicos, odontológicos, campanhas de vacinação entre outras atividades.
- Uso de combustível e navegação: A embarcação é movida a diesel, e o consumo diário pode chegar a aproximadamente 500 litros, variando conforme as condições de navegação e o número de paradas. Um planejamento cuidadoso é necessário para garantir que o barco tenha combustível suficiente para a viagem, além de considerar locais estratégicos para o reabastecimento.
Estrutura do barco: um hospital sobre as águas
Para quem não uma UBS Fluvial é equipada para funcionar como um hospital flutuante, com uma estrutura que inclui:
- Consultórios médicos e odontológicos: Para atendimentos de atenção primária, como consultas de rotina, exames, e tratamentos odontológicos.
- Laboratório e farmácia: Equipamentos para realizar exames laboratoriais básicos, como exames de sangue, urina e glicemia, além de uma farmácia para a distribuição de medicamentos essenciais.
- Sala de procedimentos: Para pequenas cirurgias e atendimento a emergências médicas.
- Acomodações para a tripulação: A tripulação é composta por médicos, enfermeiros, dentistas e outros profissionais de saúde, além da equipe técnica e operacional. A bordo, existem acomodações adequadas para que os profissionais descansem entre as longas jornadas.
O Futuro: tecnologias para apoiar a estratégia da UBS Fluvial
À medida que a tecnologia avança, novas soluções podem ser integradas à estratégia de saúde fluvial para aumentar ainda mais sua eficiência e impacto. Algumas das inovações que podem apoiar essa estratégia incluem:
- Drones para entrega de medicamentos: O uso de drones pode ajudar a complementar as operações da UBS, realizando a entrega de medicamentos em comunidades ainda mais remotas ou em situações de emergência, quando o barco não consegue acessar determinadas áreas por causa das condições climáticas.
- Sensoriamento remoto para monitoramento ambiental: A integração de sensores remotos pode fornecer informações em tempo real sobre as condições ambientais das áreas atendidas, como a qualidade da água, temperatura e nível dos rios, permitindo que a tripulação ajuste suas operações conforme necessário.
- Aplicativos de saúde para pacientes: Com a ampliação da cobertura de internet na região, por meio de projetos como o “Norte Conectado”, as populações ribeirinhas poderão ter acesso a aplicativos móveis para agendar consultas, acessar informações sobre prevenção de doenças e monitorar seus dados de saúde.
- Telemedicina e consultas remotas: Em alguns casos, a equipe a bordo poderá utilizar a telemedicina para conectar especialistas de centros urbanos a pacientes nas comunidades ribeirinhas, permitindo diagnósticos mais rápidos e precisos, além de diminuir a necessidade de transporte de pacientes para grandes distâncias.
- Monitoramento e planejamento via GPS: O uso de sistemas de geolocalização e navegação é fundamental para garantir que o barco chegue a tempo às comunidades, otimizar o uso de combustível e planejar melhor as rotas de futuras viagens
Por fim, acredito que as Unidades Básicas de Saúde Fluviais (UBSF) representam uma solução inovadora e vital para levar saúde às populações ribeirinhas do Amazonas. A complexidade geográfica da região e os desafios logísticos exigem um planejamento cuidadoso e o uso de tecnologias avançadas para otimizar a eficiência e garantir que todas as comunidades sejam atendidas de forma contínua e equitativa.
Lembrando que com a introdução de novas tecnologias, como conectividade ampliada, drones e sensoriamento remoto, o futuro da estratégia de saúde fluvial na Amazônia se apresenta ainda mais promissor. A adoção dessas inovações permitirá um atendimento mais ágil, preciso e sustentável, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das populações mais isoladas do Brasil.
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