Open finance: reinvenção do setor financeiro além da digitalização
A nova tendência da indústria financeira é ir até aonde o cliente está, fazer parte de suas jornadas recorrentes e não mais o contrário.

O setor financeiro vem há décadas se adaptando a mudanças, mas nos últimos três anos, as transformações vão além do próprio segmento, atravessam fronteiras e criam novos modelos. A digitalização vai além da automação de canais e processos de ofertas bancárias e permite inéditos negócios centrados no cliente, novos produtos e serviços, alavancados por ecossistemas de parceiros sinérgicos.
Não há dúvidas que os consumidores brasileiros estão se adaptando, muito mais rápido do que se esperava, a este novo cenário. O pagamento instantâneo, o PIX, foi apenas uma amostra – a “ponta do iceberg” – no qual os clientes têm experimentado modelos disruptivos. Na verdade, sempre que a transformação traz valor ao usuário, o “efeito rede” acontece, a adoção acelera e escala sem grandes esforços, atingindo outros níveis importantes. E é justamente o que se espera que aconteça com o open finance. Um estudo realizado pelo IBM Instituto for Business Value (IBV), Perspectivas Globais 2022 para Mercados Bancários e Financeiros, traz a visão dos imperativos estratégicos fundamentais que estão na agenda do setor este ano, e todos apontam para necessidade de criar transformações disruptivas para diminuir a dependência do modelo tradicional de serviços bancários.
Um deles é o open finance, que pode fazer esse papel de “protagonista da reinvenção” do setor financeiro. Através dele, com a autorização dos clientes em compartilhar seus dados com diversas instituições financeiras, será possível oferecer ações personalizadas muito além das já conhecidas, com entregas de produtos e serviços de forma cross e única. A nova tendência da indústria financeira é ir até aonde o cliente está, fazer parte de suas jornadas recorrentes e não mais o contrário. Os usuários não dão mais preferência a marcas, tampouco mantém o relacionamento apenas com uma instituição. A escolha do consumidor, portanto, é por melhores oportunidades e experiências.
Criar modelos, que nós chamamos de plataformas de negócios, passa a ser uma tendência muito forte. Tendência que, naturalmente, está ligada a grandes transformações na área tecnológica. Há, por exemplo, um desafio muito grande de integração das bases cadastrais de dados, bem como a capacidade de processamento, o que naturalmente gera dois grandes esforços dentro da governança de um banco. Vamos a eles:
- O desafio do matching dos dados: Um dos desafios é a capacidade de ter o match, das chaves e dos dados dos clientes, e sua correta qualificação. Saber quais dados estão mais atualizados, conseguir trazer toda esta visão transacional e de consumo do cliente “único” para ser compartilhado. Tudo isso em tempo praticamente real. O desafio do matching dos dados e da velocidade com a qual você tem de fornecê-los gera um esforço muito grande. Não é à toa que o mercado tem sido desafiado com este r;oadmap.
- Lidar com o volume desses dados: O volume de dados dentro de uma instituição financeira é muito grande. E a maior parte destes dados não está tratada. A partir do momento em que você passa a integrar estes dados de forma rápida, é muito grande a exigência de infraestrutura para poder dar velocidade e escala neste tráfego, de modo que isso não invada o online e não crie uma experiência negativa por concorrência de infraestrutura dos canais digitais que o banco possui.
É justamente no contexto dos dados que sustentamos a tese de que a nuvem híbrida passa a ser uma necessidade para dar suporte nesta transformação e na capacitação dos bancos para operarem em open finance. Não por acaso, um estudo global conduzido pelo IBV em colaboração com a Oxford Economics, apontou uma mudança significativa nas necessidades de negócios, com apenas 5% dos entrevistados relatando usar uma única nuvem privada ou pública em 2021, em comparação a 45% em 2019, estabelecendo a nuvem híbrida como a arquitetura de TI dominante. É um caminho sem volta para o setor financeiro e também para outros segmentos da economia.
Nesta corrida digital, as instituições financeiras estão dando dois passos fundamentais. Primeiro, como já mencionei, estão explorando tecnologias exponenciais que, além da nuvem híbrida, incluem também automação e inteligência artificial (IA), entre outras. Em segundo, a aplicação em escala, permitindo a colaboração entre unidades de negócios internas e um ecossistema de parceiros externos por meio de mais interações de plataforma seguras. O open finance pode ser o protagonista desta reivenção do setor financeiro, mas a digitalização não pode ficar para trás neste processo.
*Mirian Cruz é líder de estratégias digitais de IBM Consulting no Brasil