Mais um passo na jornada

A Semana do Clima oferece esperança em um momento difícil para o Brasil e para o mundo

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10:00 am - 25 de setembro de 2024
Imagem: Shutterstock

A “Semana do Clima”, que acontece até 29 de setembro em Nova York, nasceu em 2009 com a missão de ser um palco para importantes debates em preparação para Conferência do Clima (COP) da ONU – que este ano acontece de 11 a 22 de novembro em Baku, Azerbaijão. E tem cumprido muito, muito bem essa missão. Em especial por seu espírito congregador, capaz de unir todos e qualquer um interessado no assunto. O que é uma descrição que inclui a maior parte dos brasileiros, após São Paulo ser apontada por cinco dias consecutivos como a cidade com a pior qualidade de ar do planeta e muitas outras capitais sofrendo de problemas semelhantes com secas, queimadas e temperaturas até 10° C acima da média histórica (quer mais sinais das mudanças climática do que estes?).

Com quase 600 sessões (presenciais e online) realizadas ao longo de apenas sete dias, o Climate Group – organizador do evento – estima ter envolvido quase 7 bilhões de pessoas durante a última edição. O sucesso tem alguns segredos. A começar pela facilidade de acesso: para o brasileiro médio, a ida a Nova York não é exatamente barata, mas os custo são certamente mais acessíveis do que aqueles do principal palco de debates climáticos, a COP. Além de não exigir o mesmo nível de controle deste evento – ao menos para participar dos fóruns em que as negociações e, mais importante, as decisões realmente acontecem.

Mesmo desconsiderando os eventos online, a Semana do Clima é mais inclusiva. É também mais lúdica, sem perder a seriedade. Com personagens fazendo cosplay de dinossauros para falar de extinção, caminhadas com milhares de ativistas e diversas outras “excentricidades” que não são vistas na COP, o evento passa uma sensação de acolhimento, em que todos estão juntos com uma preocupação comum. A versatilidade também ajuda os debates a permanecerem criativos em busca das melhores soluções.

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Um ponto fundamental é que ao falar todo mundo, estamos falando também dos tomadores de decisão que estarão nas reuniões a portas fechadas em Baku, em novembro deste ano, ou em Belém (PA) em 2024. Há poucas ocasiões em que tantos tomadores de decisões se reúnem globalmente. Uma das mais notórias é a reunião da Assembleia Geral da ONU, que estatutariamente começa na terceira terça-feira de setembro, com delegações dos 193 países membros. Fato que é (muito bem) aproveitado pela semana do clima.

Por fim, e este é meu ponto preferido por conversar diretamente com o universo de comunicação em que atuo, a Semana do Clima oferece esperança em um momento particularmente tenso – é lamentável pensar que a afirmação seria igualmente verdadeira se fosse feita no ano passado e, provavelmente, continuará válida em 2025. Quem sabe não conseguimos mudar algo até 2030? Essa esperança se deve ao cuidado em ser propositivo que os organizadores do evento mantêm. Em focar no que é possível, em soluções. E este é um cuidado que começa nos pequenos detalhes: levantamento do Wall Street Journal aponta que nos mais de 400 eventos da agenda oficial, 245 trazem a palavra “solução”; por outro lado, “problema” é usada só seis vezes.

Claro, nem tudo é perfeito. É impossível falar no evento sem falar de Amazônia. O território, que vai além do Brasil, já foi equivocadamente apelidado de “pulmão do mundo”, “Inferno Verde”, Patrimônio da Humanidade e outras bobagens. Embora muito tenha sido feito e falado (coisas positivas e necessárias, inclusive), pouco se ouviu de quem efetivamente vive na região. É passada a hora de garantir voz aos amazonenses. Na SAP, busco fazê-lo por meio da parceria com a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), que tem avançado na coleta, cruzamento e a análise integrada de dados relacionados aos negócios apoiados pela incubadora da entidade nas comunidades ribeirinhas e indígenas da região. Os projetos de empreendedorismo na área de turismo, com foco em desenvolvimento ambiental e social, movimentam mais de R$ 6 milhões por ano, beneficiando mais de mil famílias.

Longe de uma crítica, fica minha sugestão para a inclusão destas vozes ainda ocultas do debate global. Se tem algo que aprendi em quatro anos de produção de relatórios de sustentabilidade é que cada passo conta. A Semana do Clima é um evento importante (sem dúvidas), mas é apenas um passo. A sustentabilidade é uma jornada.

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