Empresas e academia por um Brasil mais inovador

O desempenho do cientista deve se aliar ao olhar de oportunidade do empresário para que a sociedade possa desfrutar do melhor

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por ABES
10:00 am - 17 de julho de 2024
Imagem: Shutterstock

O panorama tecnológico é um campo dinâmico, caracterizado pela participação de diversos agentes e por uma evolução constante. A inovação mundial é construída a partir de milhares de patentes depositadas anualmente, majoritariamente por grandes empresas. Entretanto, apenas uma pequena parcela dessas invenções será lançada como um produto economicamente viável e se tornará uma inovação real [1].  

O desempenho do cientista deve se aliar ao olhar de oportunidade do empresário para que a sociedade possa desfrutar do melhor que a tecnologia tem a oferecer. Identificar o momento certo para oferecer ao mercado um novo produto oriundo de uma pesquisa científica é desafiador. No Brasil, isso é ainda mais complexo [2], devido à falta de uma forte cultura de comércio, em contraste com povos que possuem tradição mercantil. 

No cenário global, parcerias estratégicas são estabelecidas, produtos inovadores são lançados, e corporações adotam as mais avançadas tecnologias para expandir seus mercados, melhorar a qualidade e reduzir custos. Essa dinâmica impulsiona a economia mundial [3], gerando empresas de tecnologia com valores de mercado na casa dos trilhões de dólares. 

No Brasil, a tecnologia destacou-se especialmente no setor de serviços financeiros, reforçando e simplificando o acesso seguro a serviços online tanto em computadores quanto em dispositivos móveis. Recentemente, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) revelou um levantamento [4] das entidades que mais registram patentes no país. A Petrobras lidera, seguida por um número expressivo de universidades públicas.

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A quantidade de patentes detidas por universidades representa uma oportunidade para o Brasil proteger suas inovações científicas e fomentar o avanço tecnológico. Contudo, parece faltar uma participação mais efetiva de empresas no uso comercial dessas patentes para a criação de novos mercados dentro e fora do país. A colaboração entre o meio acadêmico e o setor empresarial é uma oportunidade valiosa [5] para a indústria tecnológica brasileira. 

Produzimos teses de doutorado de nível internacional, mas muitas ainda não se converteram em produtos, demonstrando que nosso ecossistema de inovação tem lacunas. Este é um mercado em potencial que pode impulsionar significativamente a economia do país. Para maximizar essa cooperação, podemos adotar três formas principais de interação entre empresas e pesquisadores: 

Primeiramente, a empresa pode encomendar uma solução para a academia. Esta modalidade é menos efetiva, pois apenas em casos raros, onde há um desafio particular, o cientista será determinante para decifrar um entrave em uma solução [6]. 

Segundo, o cientista pode ter a ideia e a empresa desenvolver o produto a partir dessa ideia. Esta modalidade é mais promissora, pois é mais provável que o pesquisador tenha uma ideia inovadora para a empresa desenvolver do que o contrário [2]. 

Terceiro, empresas podem investir em alunos de doutorado que recebem bolsas para desenvolver pesquisas sobre um determinado tema, mas sem um objetivo definido. Esta última modalidade é um investimento a longo prazo; não há garantias de sucesso, mas é uma forma de encaminhar [1] o desenvolvimento sobre uma especialidade.  

Portanto, a cooperação entre empresas e pesquisadores é crucial para a construção de um Brasil mais inovador. Esse modelo de parceria pode alavancar o desenvolvimento tecnológico e econômico do país, promovendo a criação de produtos que realmente façam a diferença no mercado global. 

Foto Maria Luiza Reis Empresas e academia por um Brasil mais inovadorMaria Luiza Reis é conselheira da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES), engenheira mecânica e PhD em Engenharia Nuclear. As opiniões expressas neste artigo não representam, necessariamente, os posicionamentos da Associação. 

 

Referências: 

  1. Azoulay, P., Graff Zivin, J. S., & Sampat, B. N. (2019). The diffusion of scientific knowledge across time and space: Evidence from professional transitions for the superstars of medicine. Journal of Economic Geography, 19(1), 1-32.
  1. Bruneel, J., D’Este, P., & Salter, A. (2010). Investigating the factors that diminish the barriers to university–industry collaboration. Research Policy, 39(7), 858-868.
  1. Freeman, C., & Soete, L. (1997). The Economics of Industrial Innovation. MIT Press.
  1. INPI (2023). Levantamento das entidades que mais registram patentes no Brasil. Instituto Nacional da Propriedade Industrial.
  1. Mowery, D. C., Nelson, R. R., Sampat, B. N., & Ziedonis, A. A. (2001). The growth of patenting and licensing by US universities: An assessment of the effects of the Bayh-Dole act of 1980. Research Policy, 30(1), 99-119.
  1. Perkmann, M., Tartari, V., McKelvey, M., Autio, E., Broström, A., D’Este, P., … & Sobrero, M. (2013). Academic engagement and commercialisation: A review of the literature on university–industry relations. Research Policy, 42(2), 423-442.
    Pisano, G. P., & Shih, W. C. (2012). Producing prosperity: Why America needs a manufacturing renaissance. Harvard Business Review Press.
    Schilling, M. A. (2017). Strategic Management of Technological Innovation. McGraw-Hill Education. 

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