Economize, crie sua própria energia e conheça seu lixo
ESG na prática: sem teorizar, te mostro 3 soluções tecnológicas possíveis para melhorar seus indicadores de sustentabilidade e aumentar a performance

Prometi que ia escrever de ESG na prática e aqui estou com uma proposta bastante prática. Mas antes disso, gostaria de deixar dois temas muito claros:
O primeiro deles é que o olhar para sustentabilidade não é contrário ao olhar para a lucratividade e performance financeira do negócio. Na realidade, nunca foi. O olhar para a sustentabilidade mostra que a empresa está preparada para uma gestão de múltiplos stakeholders e não mais para a antiga gestão voltada apenas para o shareholder (até porque nem mesmo os próprios shareholders querem uma gestão focada apenas neles; isto não funciona mais nem para performance puramente financeira). Explico: uma gestão de todos os stakeholders (com um olhar para os noholders incluso aí) acabará melhorando a performance da empresa por meio de boa gestão de capital reputacional agregada à gestão financeira por si. A famosa BlackRock tem puxado este coro.
Um outro ponto que acho importante deixar claro aqui é o papel da gestão de informações – e portanto, dos CIOs – no tema da sustentabilidade, transversal nas organizações. Profissionais de tecnologia podem e devem puxar uma agenda de gestão de dados para mensuração de indicadores ESG. Se na sua empresa já existe comitê ou comissão de sustentabilidade, você precisa ter uma cadeira lá. Se na sua empresa ainda não se fala nisso, recomendo que puxe esta agenda. São ferramentas de TI que podem mostrar como a empresa está nos diversos pontos de uma agenda ESG, tais como gestões ambiental, climática, de pessoas, de impacto na comunidade – sejam quais forem os itens materiais da companhia. Uma análise de materialidade define quais são os temas materiais, aqueles que têm ligação com o teu negócio. Para uma empresa, por exemplo, pode ser o problema da emissão de gases de efeito estufa por conta de transporte/frota de carro, caminhões, aviões. Para outra empresa pode ser a gestão de resíduos de uma fábrica e/ou o impacto no clima ou no meio ambiente daquela fábrica.
Repactuando com estes dois temas acima, trago três ideias para inovação em sustentabilidade hoje possíveis em escritórios:
- Contador de pessoas 3D – por mais simples que possa parecer uma solução como esta mapeia a movimentação nos espaços, sejam eles quais forem – escritórios, academias, centros comerciais, hotéis. A diferença no teu custo de energia elétrica pode ser enorme se você otimiza seus espaços com um contador 3D. Uma solução vai entender onde estão as pessoas e pode, automaticamente, desligar luzes ou até ar condicionado de espaços que não estão sendo utilizados. Esta solução se tornou especialmente eficiente em um mundo de home office.
- Dispositivo para energia cinética – impressione e provoque seus clientes e funcionários instalando, em algum lugar do escritório ou fábrica, um dispositivo que gere energia cinética e que portanto “cria” eletricidade para carregar celulares, por exemplo. Hoje, há projetos interessantes e que não são tão caros para instalação de uma bicicleta que, ao ser usada, pode gerar energia ou mesmo um tapete cinético que absorve energia das pessoas caminhando sobre ele. Aqui é muito mais um projeto que faz as pessoas pensarem na origem da energia que consomem do que um ganho importante na conta de luz. Ainda assim, há estudos que indicam retorno sobre investimento para projetos como este em alguns anos.Há uma empresa no Reino Unido que tem liderado projetos interessantes com pisos inteiros capazes de transformar energia mecânica dos passos em energia elétrica, a Pavegen. A ideia já foi testada em 2012, quando a estação de metrô West Tube, em Londres, recebeu uma instalação da Pavegen para as Olimpíadas – a energia gerada foi usada para iluminar 12 painéis de LED. Em 2014, o piso também foi instalado no campo de futebol Morro da Mineira, no Rio de Janeiro.Já é possível usar tapetes e pisos como este para montar pequenas instalações para carregamento de celulares. Que tal este projeto na tua recepção?
- Classificadora de lixo inteligente – Esta ideia é para empresas como a sua que, claro, já fazem coleta seletiva de lixo em escritório. Veja, não estou falando de gestão de resíduos em fábricas, tema muito mais complexo. Estou falando do lixo produzido pelas pessoas e não pela atividade fim da companhia. Se este passo básico do cuidado com lixo já foi dado, há um passo a mais na direção da construção da consciência de colaboradores, clientes e visitantes. Trata-se de uma separadora automática de lixo que guarda em sua memória informações tais como quantidade de plástico descartada. Muito se fala em reduzir o uso de plástico, principalmente o plástico de uso único. Sabe-se que o plástico demora quase meio século para decompor. O planeta corre o risco de virar um grande depósito de plásticos se não começarmos a usar outros materiais e reutilizar o plástico já produzido. Imagine se você conseguir medir a quantidade de plástico que está sendo descartada para propor um projeto de redução de plástico nos escritórios? Aqui, de novo, se você não sabe quanto descarta, não conseguirá tangibilizar a melhoria neste indicador, o projeto não terá resultado palpável e a chance de não perdurar será grande.
Percebe como, em todos os três projetos – e principalmente neste último – dados são fundamentais na gestão ESG? Estas são algumas ideias para começar a melhorar seus números e esquentar a discussão sobre otimizar o uso de recursos naturais nas companhias. Estas propostas, de uma forma ou de outra, reduzem gastos ou garantem que a conversa sobre o tema ESG comece a esquentar em seu negócio. Como estes, há outras formas trazer o tema para discussão. Comitês de Sustentabilidade ou Comissões de Sustentabilidade têm exatamente este papel – inserir na agenda do conselho de administração ou da alta gestão a agenda ESG. Este caminho é sem volta, esta é a boa notícia.