Do Ágil ao Antifrágil

Startups precisam encontrar maneiras de retirar os melhores benefícios da sua maior fragilidade: a escassez de recursos

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10:25 pm - 16 de novembro de 2021

Observando o cenário em que estão inseridas as startups de tecnologia, pode-se afirmar que a realidade que marca o início de cada uma delas, de modo geral, é de escassez de recursos. É nesse cenário que, para se sobressaírem em face de grandes empresas ou de empresas já consolidadas, as startups precisam encontrar maneiras de retirar os melhores benefícios da sua maior fragilidade: a escassez de recursos.

Assim, a grande maioria das startups de tecnologia, no início, concentram seus esforços em desenvolver um software ou uma solução tecnológica específica, objetivando reverter sua situação de fragilidade. E, para isso, por vezes, utilizam metodologias de desenvolvimento incompatíveis com seu objetivo principal. Assim, passam a tentar manter um ambiente controlado, planejável e (que acreditam ser) isento de imprevistos.

O exemplo entre os mais utilizados atualmente nessa tentativa de consolidar um padrão de desenvolvimento é a metodologia Scrum, cujo intuito é guiar profissionais de engenharia de software a construir seus produtos e serviços de maneira mais eficaz.

O Scrum trouxe consigo suas práticas de agilidade, que se traduzem em backlogs de produto, reuniões diárias, gráficos de burndown ou velocidade no desenvolvimento. Ele tem princípios ágeis e, por consequência, sua base é a mudança.

Tal método se mostra um importante aliado no desenvolvimento de software, especialmente quando o time de desenvolvimento tem a experiência necessária para utilizá-lo, fazendo com que apresente significativas evoluções no que tange à previsibilidade de variáveis, como prazo, custo e escopo.

Entretanto, quando o processo é prescritivo e, portanto, proporciona pouco espaço para mudanças, o Scrum não parece ser a resposta ideal para trazer maior agilidade.

Ademais, nem sempre o Scrum consegue entregar a agilidade desejada, especialmente quando se tem uma equipe não aderente à metodologia e também quando se trata de desenvolvimento de sistemas particularmente complexos.

Um exemplo dessa insuficiência da metodologia ágil é o Skype, que adotou o framework Scrum e, ainda assim, perdeu espaço de mercado. Em que pese o aumento na frequência das entregas e publicações – que reduziu o tempo de publicação de atualização da solução de três para um mês, a mencionada empresa viu sua concorrente de tamanho consideravelmente menor (o WhatsApp) adquirir maior presença no mercado, sem mesmo adotar ou se preocupar com tais metodologias.

A contrário sensu, o WhatsApp superou o Skype, construiu um produto de experiência de uso mais relevante e confiável e, por fim, venceu a batalha dos aplicativos de mensagens. Conseguiu esse feito adotando o modelo de desenvolvimento considerado tradicional, baseado em planejar, desenvolver (de modo interativo) e entregar.

Com esses exemplos, pode-se considerar que o sucesso de um produto, de um serviço ou de uma empresa não está necessariamente correlacionado ao modelo utilizado no desenvolvimento ou na metodologia adotada.

Mas, então, qual seria o melhor caminho para as startups poderem reverter sua situação de fragilidade? Para Nassim Nicholas Taleb, devem desenvolver a principal característica que têm em comum: sua antifragilidade.

Esse conceito foi criado pelo aludido autor em 2012, em seu livro intitulado Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos, onde ele traz a ideia de que o antifrágil é o oposto de frágil, é algo que melhora quando está diante de uma situação inesperada.

Algumas atitudes práticas podem garantir a implementação da antifragilidade nas startups. São elas:

  • Aprendizagem contínua: incentivar e apoiar o time de desenvolvimento a identificar lacunas de competências e habilidades, bem como capacitá-lo para que tais lacunas de conhecimento sejam preenchidas.
  • Desenvolvimento da consciência: reuniões diárias são relevantes e ajudam a equipe a desenvolver a consciência e o compartilhamento, pois incentiva a comunicação constante. Por sua vez, as ferramentas de comunicação estáticas, como o backlog do produto, não conseguem transmitir o fluxo constante de comunicação, causando eventuais atrasos.
  • Descartabilidade: estimular o conceito de reação à mudança por não atribuir muito valor ao trabalho que já foi feito, independentemente do esforço que foi colocado.

Por essa ótica, as startups buscam os melhores meios para alcançarem seus objetivos e tendem a prosperar em um mercado extremamente competitivo, dinâmico e incerto.

Conclui-se, portanto, que apenas finalizar o trabalho atribuído pela metodologia adotada no desenvolvimento de produtos e serviços pode indicar mera produtividade, que não necessariamente está atrelada melhora do negócio; e, por outro lado, caso a perspectiva do time dedicado ao desenvolvimento seja de resolver a fragilidade do negócio, independentemente da metodologia adotada, o resultado tem impacto direto no foco principal.

 

Referências:

https://www.wasswasam.com/assets/papers/BeyondAgile.pdf

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877050916302290

https://newsletter.hsm.com.br/marketing/2017/conteudo/dossie-antifragil.pdf

https://blog.pragmaticengineer.com/project-management-at-big-tech/

 

* Rafael Mendonça é CTO da 4intelligence, startup de soluções que apoiam a tomada de decisão por meio da análise de dados

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