Desenvolvendo com consciência: gerenciando os riscos reais da IA

Uma abordagem direta para quem desenvolve soluções em IA e precisa lidar com segurança, privacidade, direitos autorais e vieses antes mesmo da regulam

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10:00 am - 17 de junho de 2025
Imagem: Divulgação

Para profissionais de tecnologia, os riscos associados ao uso de inteligência artificial vão muito além da escolha de algoritmos ou da sintonia fina de parâmetros. Problemas como segurança, privacidade, direitos autorais e vieses algorítmicos fazem parte do dia a dia de quem desenvolve e implementa soluções em IA.

Há quem acredite que regulamentações específicas, como o AI Act europeu, seriam as grandes responsáveis por criar esses riscos. Na verdade, essas ameaças já existem independentemente da lei. Vazamentos de dados, ataques cibernéticos, uso não autorizado de informações sensíveis e violação de direitos autorais são riscos concretos desde as primeiras aplicações de IA.

Portanto, mais do que cumprir uma lei específica, desenvolvedores precisam integrar medidas de mitigação desses riscos desde o início de cada projeto. Este artigo explica por que os riscos da IA não dependem da regulamentação para existir e destaca o que desenvolvedores podem (e devem) fazer para reduzi-los.

Riscos técnicos no desenvolvimento e uso de IA

Segurança: Modelos de IA podem ser vulneráveis a ataques como jailbreak, que contornam filtros e geram respostas indesejadas, e prompt injection, que insere comandos maliciosos no fluxo de dados. Há também o risco de alucinações, em que o modelo fornece respostas erradas ou enganosas, além de data poisoning, em que dados contaminados corrompem o desempenho do modelo.

Privacidade: O uso de grandes volumes de dados pode expor informações pessoais, seja por falhas de anonimização ou pela utilização indevida de dados sensíveis. Isso inclui uso sem consentimento, reidentificação de indivíduos e a ausência de governança sobre o ciclo de vida das informações.

Leia mais: Desafios da IA na advocacia: desenvolvedores de tecnologia diante das barreiras regulatórias

Direitos autorais: Muitos modelos são treinados com materiais protegidos por direitos autorais, como textos, imagens e músicas. Sem controle, isso pode resultar em uso indevido durante o treinamento e na geração de conteúdos que violam direitos de terceiros.

Vieses e ética: Modelos treinados em dados enviesados podem reforçar estereótipos, gerar outputs discriminatórios e afetar grupos minoritários. Além disso, há o risco de produção de respostas ofensivas que prejudicam a experiência do usuário e a reputação do produto.

A regulamentação não cria riscos, mas reforça a necessidade de controle

Alguns profissionais de tecnologia veem a regulamentação como a origem dos riscos da IA. Na realidade, os riscos existem por causa das características técnicas dos próprios modelos. Leis como o AI Act europeu apenas reconhecem esses riscos e exigem controles para reduzi-los.

A segurança contra ataques, a proteção de dados pessoais, o respeito aos direitos autorais e a prevenção de vieses discriminatórios já são exigências previstas em legislações como a LGPD (no Brasil) e o GDPR (na Europa), além de direitos civis e normas de defesa do consumidor. O AI Act amplia essas exigências para o contexto da IA, organizando responsabilidades e criando mecanismos de governança.

Em outras palavras, a regulamentação não cria riscos novos: ela reconhece riscos que já existem e estabelece medidas para mitigá-los.

Como mitigar riscos de IA na prática

Para reduzir riscos de segurança, é fundamental validar e sanitizar entradas de dados, implementar monitoramento em tempo real e realizar auditorias nos dados de treinamento para evitar ataques como prompt injection ou data poisoning.

Na área de privacidade, deve-se minimizar a coleta de dados pessoais, aplicar anonimização robusta e manter políticas claras de consentimento e governança de dados.

Quanto aos direitos autorais, usar apenas dados licenciados ou de fontes públicas, com documentação sobre a origem e a autorização, é essencial para evitar violações.

Para reduzir vieses e garantir ética, recomenda-se testar o modelo em diferentes subgrupos, identificar e corrigir resultados discriminatórios, e adotar processos de moderação de conteúdo.

Conclusão

Os riscos da IA não surgem por causa das leis, mas das próprias características técnicas dessas tecnologias. Regulamentações como o AI Act apenas reforçam a necessidade de gerenciar esses riscos, que já deveriam ser tratados como parte das boas práticas de desenvolvimento.

Desenvolvedores e empresas precisam adotar medidas técnicas e organizacionais desde o início do projeto para garantir que a IA seja segura, ética e confiável. Isso protege os usuários e evita danos à reputação do produto.

Além disso, a confiança dos usuários está diretamente ligada à forma como esses riscos são gerenciados. Quem investe em governança de IA e transparência se antecipa às exigências legais e conquista vantagem no mercado.

Portanto, mais do que cumprir a lei, é fundamental construir soluções responsáveis e alinhadas com as expectativas sociais, tornando a boa governança um diferencial competitivo e uma responsabilidade ética.

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