CIOs: está em vocês a chave para uma boa estratégia ESG na empresa
Sem mensuração adequada, nenhum projeto ESG vai para a frente; e cabe ao CIO desenhar a infraestrutura desta mensuração

Esta coluna tem cheiro de mar e natureza e foi escrita durante o IT Forum Trancoso, principal ponto da comunidade de tecnologia no Brasil, onde estão muitos dos grandes CIOs, aproveitando a maravilhosa natureza desta região no sul da Bahia. E, inspirada por este acontecimento, quero fazer um combinado com vocês leitores.
Há um tema que preciso deixar claro em nossas conversas desde já: vamos estabelecer o porquê de a tecnologia ser tão fundamental para qualquer estratégia ESG e o que CIOs e profissionais de TI têm a ver com isso. Depois, na próxima coluna, iremos a 3 exemplos muito, muito práticos de projetos que usam tecnologia para melhorar indicadores ambientais. Mas há algo muito maior e estratégico no uso de TI para tecnologia que precisa estar claro. Vamos a ele.
Desde 2020, empresas e organizações começam a entender que é preciso ter formas eficientes de medir e entender os dados, para serem mais sustentáveis. O gatilho deste movimento foi a pandemia por Covid-19, mas muito antes disso já víamos muitos setores, principalmente na Europa, movidos pelos conceitos ESG das Nações Unidas, especialmente olhando o tema sob a ótica dos 17 ODSs (Indicadores de Desenvolvimento Sustentável). Aí se criou um framework de trabalho de mais fácil compreensão para o mundo corporativo.
Há muito tempo, desde que entramos na Era da Informação, que todos os setores da economia usam sistemas de dados para controle de seus negócios e suas operações. Hoje, ninguém consegue imaginar uma empresa que funcione sem computadores.
Também há muito tempo se fala em Sustentabilidade como um movimento vago e amplo promovido por vegetarianos e veganos que reciclam lixos em suas casas. Cada vez menos, no entanto, a visão em torno de Sustentabilidade é tão simplória e reduzida. Ainda bem.
Assim como a pandemia acelerou o processo de digitalização mundial, ela acelerou também o encontro entre o mundo das empresas e organizações e o conceito real de sustentabilidade, que tem pouco a ver com “abraçar árvores” e muito a ver com a sobrevivência, perenidade e a própria existência das empresas e negócios no longo prazo. Esta é a boa notícia. Companhias grandes e pequenas entenderam que o conceito de sustentabilidade (ou gestão ESG) precisa ser parte do negócio e, justamente por isso, precisa ser controlado e analisado com dados e métricas.
Explico melhor, vem comigo: a gestão ESG (sigla, em inglês, para Meio Ambiente, Social e Governança) virou uma exigência de investidores, funcionários e clientes. Tem incentivo melhor? Uma empresa que não olha para seu impacto sob a ótica destes 3 pilares não é mais levada a sério. E estes impactos precisam ser medidos! Há diversas formas e critérios para se “medir sustentabilidade”. Uma das mais conhecidas, inclusive internacionalmente, é a GRI (Global Reporting Initiative), que traz cerca de 300 indicadores. Sim, 300. Ou seja, não adianta medir e compensar emissão de carbono. Isto está longe de transformar uma empresa em sustentável.
O que pode e deve ser medido? Impacto de projetos sociais da empresa (vidas impactadas direta e indiretamente, horas de voluntariado pro-bono), indicadores demográficos internos (divisão por gênero, mulheres na liderança, quantidade de populações minorizadas no quadro de funcionários), indicadores de aumento de produtividade, nível de absenteísmo, que por sua vez aumentam performance. Sim, Diversidade e Inclusão e Saúde Mental são impactos sociais e consequentemente de resultados para uma organização Sustentável.
No pilar ambiental valem aquelas métricas muito mais familiares, tais como emissão de carbono, eficiência energética e hídrica, gestão de resíduos (há empresas capazes de transformar resíduos em produtos, incrível!). A Votorantim é uma das empresas com melhor estratégia neste sentido. Na Votorantim Cimentos, por exemplo, os resíduos com poder de queima são destruídos nos fornos da indústria, graças às altas temperaturas envolvidas no processo de fabricação do cimento. Eles se transformam em energia e deixam de ir para os aterros sanitários, onde entrariam num processo de decomposição que levaria anos e geraria gases nocivos ao planeta. Este é apenas um dos projetos inovadores da holding, que já conseguiu transformar resíduos em produtos e matéria-prima.
E, por fim, chegamos à Governança e Ética, medição de performance, indicadores de demissão, coerência entre o que fala e faz, receita, retorno sobre investimentos em inovação. Quer mais? Quantas ações a empresa sofreu por concorrência desleal, práticas de truste e monopólio? Qual é a abordagem tributária da empresa? Como fazem controle e gestão de risco fiscal?
A lista é enorme e o que quero mostrar é que governança e ética são tão mensuráveis quanto impacto no meio-ambiente e ações sociais. Ou seja, Sustentabilidade é mensurável, independentemente de tamanho da empresa ou da organização social ou até sem fins lucrativos. Para isso, é preciso ter sistemas e acesso à informação. Quanto maior a organização, maior a necessidade de entender quais são os indicadores para poder saber onde está e para onde se quer ir. No pior dos casos, é preciso ter indicadores e dados para medir ao longo do tempo se o negócio está piorando ou melhorando, ainda que não tenha métricas, objetivos ou estratégia.
Sem informação, não é possível ser sustentável, uma coisa está diretamente ligada à outra. Agora, cabe às organizações arregaçar as mangas e começar a fazer a lição de casa nos pilares sociais e ambientais, além de medir governança e ética, com dados concretos. Isto é o futuro da gestão ESG. Ou seja, o futuro da gestão. E a tecnologia tem TUDO a ver com isso. CIOs e gerentes de TI podem – e devem – liderar este movimento se ainda não começou nas empresas em que atuam. Se já começou, envolvam-se, vocês são “a chave” nesta construção.