O Brasil pode liderar a agenda global de inteligência artificial e sustentabilidade

A IA tem potencial para ser uma ferramenta essencial no combate às mudanças climáticas

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6:07 pm - 07 de março de 2025
Imagem: Shutterstock

Por Gustavo Macedo

No início de 2025, o Brasil deu um passo decisivo para articular dois dos maiores desafios do nosso tempo: inteligência artificial e mudanças climáticas. O evento Inteligência Artificial e Mudanças Climáticas, organizado pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), reuniu empresas, pesquisadores, startups e formuladores de políticas públicas para debater como a IA pode ser uma aliada – e não uma ameaça – na luta contra a crise climática.

A abertura contou com a presença de três ministros de Estado – Luciana Santos (MCTI), Mauro Vieira (MRE) e Marina Silva (Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas) – o que sinaliza a crescente relevância do tema na agenda do governo. Mas o que torna esse evento um marco não é apenas a mobilização política, e sim o que ele revela sobre o momento decisivo que vivemos.

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O paradoxo da IA e das mudanças climáticas. A inteligência artificial é a grande promessa tecnológica do século XXI. Seu impacto já é sentido em diversos setores, da economia à ciência, passando pela governança pública. No entanto, ela não é neutra do ponto de vista ambiental. Os avanços em IA exigem um consumo energético exponencial, demandam recursos naturais para fabricação de chips e servidores e pressionam infraestruturas elétricas já sobrecarregadas.

Ao mesmo tempo, a IA tem potencial para ser uma ferramenta essencial no combate às mudanças climáticas. Modelos avançados podem otimizar o consumo energético, reduzir desperdícios, prever desastres naturais com maior precisão e acelerar a inovação em setores-chave, como agricultura e transporte sustentável.

O problema é claro: o remédio não pode ser mais prejudicial que a doença. A IA que promete soluções climáticas não pode, ao mesmo tempo, ampliar os danos ambientais que buscamos combater.

O Brasil tem uma oportunidade única – mas precisa agir agora. Diante desse cenário, o Brasil tem uma janela de oportunidade rara para se posicionar como líder global. Em 2025, o país assume a presidência do BRICS e se prepara para sediar a COP30. Isso coloca o Brasil no centro das discussões internacionais sobre sustentabilidade e governança digital.

Mas para que essa liderança seja real e influente, é necessário mais do que discursos. Precisamos de ações concretas em três frentes principais:

Uma regulamentação inteligente para a inteligência artificial sustentável deve incluir diretrizes ambientais que exijam transparência sobre o consumo energético e o impacto ambiental dos modelos de machine learning. Além disso, é essencial incentivar a inovação em infraestrutura verde, promovendo investimentos em centros de dados mais eficientes e no uso de fontes de energia renovável para sustentar o crescimento da IA.

Nesse contexto, o Brasil tem a oportunidade de liderar esforços diplomáticos para estabelecer uma coalizão internacional que alinhe a inovação tecnológica com a responsabilidade ambiental, promovendo padrões globais para uma IA sustentável.

O futuro passa por aqui. A mensagem do evento Inteligência Artificial e Mudanças Climáticas é clara: não há sustentabilidade sem inovação tecnológica, e não há inovação tecnológica responsável sem compromisso ambiental.

O Brasil está diante de uma oportunidade inédita de articular os dois grandes temas do nosso tempo e definir novos padrões para o futuro da IA e da sustentabilidade.

A pergunta que fica é se vamos aproveitar essa chance ou seremos apenas espectadores no debate global.

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Gustavo Macedo

Gustavo Macedo é especialista em inteligência artificial, diplomacia científica e inovação. Palestrante e consultor de empresas. Professor de administração e economia do Insper e professor de relações internacionais do IBMEC. Consultor da ONU para inteligência artificial, e pesquisador da USP em inovação, com vasta experiência dentro e fora do Brasil no setor público e privado. Formado pela UNICAMP/Universidade de Londres, possui doutorado e mestrado pela USP/Columbia University de Nova York. Foi pesquisador visitante nos EUA, Canadá, Bélgica e Hungria, além de atuar como pesquisador no Departamento de Prevenção de Atrocidades da ONU de Nova York

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