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Brasil estagna no ranking de competitividade digital. Como melhorar?

A competitividade digital brasileira durante a pandemia estagnou durante o último ano, mesmo com a percepção de um processo de transformação digital acelerado. O Brasil se mantém na 51ª posição em um ranking de 64 nações, atrás de Índia, Rússia, Chile e Cazaquistão, para ficar apenas em alguns exemplos.

E a grande parte da razão para essa estagnação, conforme especialistas reunidos em um debate promovido pela Fundação Dom Cabral e pelo Instituto IT Mídia nessa quinta (30), está na formação e na retenção de talentos em tecnologia e para a tecnologia – ou seja, não necessariamente profissionais técnicos, mas que tenham conhecimentos mínimos para aplicar a tecnologia em atividades e negócios diversos.

A quinta edição do Ranking de Competitividade Digital, divulgado essa semana e realizado pelo International Institute for Management Development (IMD), em parceria com a FDC e apoio do Instituto IT Mídia, compara às condições que cada uma das 64 nações analisadas cria para adotar e promover tecnologias digitais nos setores público e privado. Com a pandemia, o relatório salienta também a capacidade de adaptação dos países e como se valeram de TI para lidar com os desafios.

“O objetivo não é a competição, mas a capacidade de competir dos países e da sociedade”, explicou Carlos Arruda, professor e diretor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC, durante o webinar. “Com a pandemia, o Brasil ficou estagnado. Por que não avançou se nós como sociedade percebemos tantos avanços?”

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A resposta, para o professor, é que o país sim, avançou, mas o relatório é construído sobre um índice de comparação em que outras nações também evoluíram. “Não foi o suficiente para mudar [de posição no ranking]. Todo mundo está mudando”, salientou Arruda.

Entre os avanços do Brasil de fato percebidos no estudo entre 2020 e 2021 estão o aumento do investimento em telecomunicações em proporção ao PIB, que subiu 0,5% (colocando o país na 21ª posição nesse quesito, com 17 posições conquistadas). As empresas também estão mais convencidas de que é necessário treinar seus funcionários, o que se tornou uma prioridade maior e fez o país subir do 59º lugar do ranking para 43º nesse aspecto.

Por outro lado, a quantidade de assinantes de banda larga caiu, de 89,2% da população para 75,7%, fazendo o país descer da 23ª posição para a 30ª. O total de gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em relação ao PIB, que era de 1,26% em 2016, foi reduzido para 1,17% em 2018, fazendo o país cair da 31ª para a 35ª posição.

“O acesso à internet me chama atenção quando olhamos diferentes países e os melhores ranqueados na pesquisa”, ponderou Alcely Strutz Barroso, líder de programas universitários globais da IBM na América Latina. “Não importa o modelo de universidade, se público, privado ou misto, o aluno tem amplo acesso à internet. É um problema grande para a gente, porque vemos [a conectividade] como um serviço à parte. E assim como precisamos beber água, comer, precisamos também desse acesso.”

Mesmo aspectos em que o Brasil é tradicionalmente forte, como a relação de mulheres pesquisadoras (49% do total), houve estagnação (8ª posição). O volume de publicações acadêmicas em proporção ao PIB (51.371, 8ª colocação), também se mantiveram estáveis.

Brasil e critérios do ranking

Para a formulação do ranking, o IMD e seus parceiros locais consideram indicadores em três grandes áreas, ou fatores: Conhecimento (infraestrutura de aprendizagem e descoberta de novas tecnologias), Tecnologia (panorama local para o desenvolvimento de tecnologias digitais) e Prontidão Futura (nível de preparo para incorporação das novas tecnologias). Durante a pandemia, esse último ganhou forte destaque no relatório, considerando que ele fez a diferença para a performance dos países durante a crise econômica e sanitária causada pela pandemia.

Economias fortes e que usam mais tecnologia apresentaram melhor performance em treinamento e educação, além do desenvolvimento de novas tecnologias.

O Brasil, no entanto, sempre aparece entre os últimos colocados quando se trata de educação e talentos. Falta incluir, entre outros pontos e segundo o relatório, habilidades digitais e tecnológicas na educação básica. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) contempla o desenvolvimento de habilidades atreladas às novas tecnologias, mas as escolas não conseguem implementar essas diretrizes.

“Trazer educação, educação tecnológica e digital, como parte de um programa estruturado de médio e longo prazo, tem impacto real na economia e na renda das pessoas”, defendeu Fabricio Cardoso, cofundador e CEO da SoulCode Academy, edtech especializada em inclusão digital.

Também falta ao país capacidade de reter e atrair mão de obra qualificada. No relatório do IMD, o Brasil aparece na 44ª posição no quesito fuga de cérebros.

“Em formação e atração, sofremos nos dois. Não somos atrativos para trazer talentos de fora do país, e há um grande déficit na formação de profissionais”, ponderou Cardoso. “Para resolver esse problema tem que ter o olhar de colocar pessoas de fora do universo de tecnologia para dentro dele, digitalizando e trazendo conhecimento.”

Para trazer outros e novos perfis para o mercado de tecnologia, inclusive sob o prisma da diversidade – aumentando o número de mulheres, pessoas pretas e LGBTQIA+, por exemplo – também é necessário que elas recebem uma base lógica e matemática. É um trabalho muitas vezes mal executado pelo sistema educacional brasileiro, mas que iniciativas como o Eu Capacito, do Instituto IT Mídia, tentam aprimorar.

“Existe uma união entre o Eu Capacito e a SoulCode para ajudar essas pessoas”, explicou Vitor Vitor Cavalcanti, diretor-geral do Instituto IT Mídia, sócio da IT Mídia e conselheiro da edtech. “É como se fosse um pré-vestibular, para ela entrar no processo de seleção. Se não damos nenhum tipo de suporte, nem no processo seletivo ela passa.”

Quando se fala do fator Tecnologia, que avalia ambiente regulatório, capital e contexto tecnológico disponível, o Brasil apresenta dificuldade para desenvolvimento tecnológico percebida pela comunidade empresarial (59º), na classificação de crédito de três agências estrangeiras (58º) e em tecnologia de comunicações (58º). O país também é um dos que mais possuem entraves para a abertura de empresas.

Líderes mundiais

Ranking geral de competitividade digital por país

Fonte: IMD World Digital Competitiveness Ranking 2021

Os dez líderes mundiais de competitividade digital não mudaram muito, mas alternaram posições no ranking. Os Estados Unidos continuam no topo do ranking, com bons resultados nos fatores Prontidão Futura (1º) e Conhecimento (3º). Hong Kong ficou na segunda colocação, subindo três posições graças a evolução em nos subfatores do eixo Tecnologia.

Suécia e Dinamarca completam os quatro primeiros lugares, na ordem. Singapura, que em edições anteriores aparecia em segundo, ficou na quinta posição dessa vez, experimentando reduções nos fatores Conhecimento e Tecnologia.

Luxemburgo teve o maior avanço, crescendo seis posições, enquanto a Polônia experimentou a maior queda, com perda de nove posições no ranking.

O Ranking de Competitividade Digital 2021 do IMD completo pode ser baixado (em PDF) nesse link.

Abaixo, assista na íntegra o debate promovido pela Fundação Dom Cabral:

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