Durante a conferência BoxWorks 2014, que acontece nesta semana em São Francisco, na Califórnia, o cofundador e CEO da empresa de cloud computing Box, Aaron Levie, questionou o CEO da Dreamworks Animation, Jeffrey Katzenberg, o porquê da Lei Moore não ter afetado a produção de filmes.
A Lei Moore reflete uma previsão de 1965 feita pelo cofundador da Intel, Gordon Moore, de que a densidade de transistores em circuitos integrados iria dobrar a cada dois anos. Por quase 50 anos, ela foi precisa em antecipar o crescimento estável do poder da computação. Ela também tornou-se atalho para descrever o crescimento exponencial de dados e fortaleceu a expectativa entre as companhias de tecnologia de que o fortalecimento de computadores poderiam resultar em incremento de produtividade.
Katzenberg, cliente Box, explicou que o mercado de filmes está inserido em outro contexto. “A quantidade de talentos não é ilimitada”, completando que a quantidade de grandes roteiristas e animadores é uma “commodity rara”. Ele acrescentou que o mercado pode acomodar um número limitado de funções animadas em um ano. A partir de certo ponto, sugere, um superabastecimento de filmes animados dividiria a audiência até o ponto em que muitos filmes deixariam de ser rentáveis.
A Box encontra-se em uma situação similar. Muitas companhias de tecnologia querem vender serviços de storage na nuvem. Esse não era o caso da Box quando ela foi lançada, em 2005. Entretanto, atualmente, todas as plataformas de software reconhecem que a posse dos dados dos clientes é deles, bem como seu acesso.
Companhias que oferecem plataformas, como Amazon, Apple, Google e Microsoft, desenvolveram serviços de storage na nuvem para seus clientes, mercantilizando serviços que deveriam ser de direito comum de todos ao longo do processo. Companhias de storage com foco no mercado corporativo também querem uma fatia do mercado. Como consequência, os primeiros vendedores de storage foram forçados a se diferenciar, focando em nichos de mercado, por exemplo.
Embora a Box tenha escolhido bem ao optar por focar suas operações no mercado corporativo desde 2007, ela não está a salvo das ambições que estão por vir no mercado. Essas empresas gigantes que oferecem plataformas tentam seduzir clientes corporativos com baixos valores de armazenamento para lucrar com serviços adicionais.
Somado a isso, os mercados corporativo e pessoal continuam obscuros. Não apenas os consumidores estão trazendo seus dispositivos para o trabalho, como também trazem seus serviços on-line – o que limita as oportunidades das companhias que estão focadas apenas em clientes corporativos.
A Box possui 27 milhões de usuários, enquanto o Google, uma das últimas empresas a ingressar no serviço de storage, pretende ter 190 milhões de usuários no Google Drive. A Box terá de trabalhar duro para obter a lealdade dos executivos já familiarizados ao Drive por serem clientes para suas contas pessoais. A tarefa se tornará ainda mais difícil se esses usuários já tiverem experimentado o Google Drive for Work.
O risco que a Box enfrenta pode ser visto pelo fato de que a empresa ainda não abriu capital – apesar de ter protocolado documentos em março. A decisão tomada pelo Google em junho de oferecer serviços ilimitados de storage para clientes corporativos não ajudou a suavizar as preocupações da Box de enfrentar forte concorrência.
Levie encarou essa ameaça de forma confiante um mês após ter anunciado o serviço de storage para clientes Box e planos para integrá-lo ao Office 365. Ele anunciava a ‘commoditização’ dos serviços de storage on-line como o fim da guerra de storage.
Agora, Levie pretende enquadrar a ameaça competitiva como um “welcome development” proveniente da negação da realidade. Depois de duas horas no palco na BoxWorks, a estratégia defendida por ele desde a sua aparição em março, na conferência SXSW, de desenvolver a Box como plataforma de negócios, soou como se ela realmente ajudasse a empresa a ser apenas mais um negócio de storage entre tantos.
Como a Box poder obter essa façanha? Ao demonstrar que storage baseado em nuvem é o alicerce de uma plataforma para computação, colaboração e serviços de TI. A Box desenvolveu-se como plataforma durante anos, mas inicialmente suas capacidades eram focadas mais em conectividade do que na complexa interação entre colaboração, produtividade, dados e processos. Agora que a nuvem é capaz de operar toda a gama de operações de computação, companhias baseadas na nuvem como a Box enxergam uma oportunidade de coordenar e executar tarefas de computação.
Levie anunciou a disponibilidade da Box para o Office 365 nos desktops, com suporte para as versões on-line que ainda serão lançadas. “Tudo isso permitirá a entrega de conteúdo em qualquer lugar”, definiu. Isso também significa colocar a Box no lugar onde ela realmente precisa estar, que é perto do Office.
Outros dois anúncios foram feitos para posicionar a Box no mercado de cloud. Um deles foi a plataforma de desenvolvimento superior. Levie também anunciou opções para fluxos de trabalho e indústrias (Box for Workflow e Box for Industries, respectivamente).
O Box for Workflow é considerado o “If This, Then That” (IFTTT, na sigla em inglês), ou em tradução livre “Se for isso, então faça aquilo”, dos processos corporativos e arquivos. A ferramenta permite aos usuários aplicar programações lógicas condicionais para serviços on-line que não se comunicam por padrão. Como exemplo, o IFTTT permite ao usuário enviar qualquer foto tirada no Instagram para a conta na Box.
Similarmente, o Box for Workflow permite aos usuários, por exemplo, indicar contratos adicionados a um local na Box para um aprovador específico se o contrato exceder um determinado valor. Ele automatiza processos corporativos de acordo com valores, tempo e lógica preestabelecidas para as operações. Para clientes corporativos, o Box for Workflow pode ser bem valioso, o suficiente para direcionar a adoção da Box como plataforma de colaboração e produtividade mais do que um serviço de storage.
Levie também lançou o Box for Industries para desenvolver aplicações específicas para a indústria dos desenvolvedores e parceiros. O conceito é similar aos outros softwares de orientação empresarial do mercado, como o Google Apps Marketplace e o Salesforce AppExchange. Mas como a Box está partindo do ponto de um storage de arquivos genérico em vez de uma aplicação de cloud específica, poderá criar softwares e serviços que lidam com colaboração e compartilhamento de dados mais efetivamente do que aplicativos produzidos em uma era em que as aplicações de softwares eram isoladas umas das outras.
O ecossistema da Box encurta a distância entre aplicativos e a integração de TI, segundo a empresa. Para muitos empresários, essa pode ser uma proposição apelativa, talvez o bastante para preferir a Box diante de rivais maiores que estão remando na mesma direção.