Blockchain pode revolucionar maneira que empresas fazem negócios

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6:30 pm - 16 de setembro de 2016

“O blockchain é o início de uma revolução”. Foi assim Maurício Alban-Salas, chief enterprise architect do Itaú Unibanco, descreveu essa tecnologia que, ao mesmo tempo, assusta e instiga profissionais da TI de diferentes vertentes da indústria – especialmente a financeira. O executivo, junto com outros especialistas do mercado, se apresentou durante a Conferência Blockchain, idealizada pela RTM, em São Paulo.

A história do blockchain está intimamente ligada ao surgimento da moeda virtual bitcoin. Aponta-se que o conceito foi apresentado pela primeira vez por Satoshi Nakamoto (cuja real identidade ainda está em aberto), em um estudo publicado em 2008 que falava basicamente sobre um sistema de transferência virtual e descentralizado. Em 2009, desenvolvedores colocaram a ideia em prática e o blockchain surgiu como um livro-razão, com o intuito de registrar todas essas transferências realizadas no mundo com a nova moeda virtual, de forma que não pudesse ser violado ou alterado – o que está publicado lá permanecerá.

Uma das principais características do blockchain é a confiança, explica Edilson Osório Júnior, consultor de blockchain e CEO da Original My, empresa que usa a plataforma como protocolo para autenticação e registro de documentos digitais e assinaturas de contato. Para ele, mais do que uma plataforma descentralizada, que permite a transferência de valores entre duas partes sem violação, a blockchain também permite “eficiência em custo, desburocratização, governança autônoma e transparência” e, portanto, pode ser utilizada para outros fins que não a troca feita exclusivamente por bitcoin.

“Se blockchain faz coisas tão legais como registrar transações de forma imutável e com confiança, será que tem como fazer mais do que isso?”, disse ele, respondendo, em seguida, a questão citando como exemplo potenciais usos para a tecnologia como rastreamento de objetos físicos (como diamantes), votação, registros públicos (como imóveis e automóveis), recursos intangíveis (como marcas e patentes) além de usos para o mercado financeiro, como empréstimos e ações.

O executivo ressalta, no entanto, o uso para o mercado corporativo pode implicar em desafios como a questão de que nem todas as informações colocadas na plataforma poderiam ser publicamente divulgadas – o que poderia ser resolvido, sugere ele, com a inserção de uma camada para controle de acesso e criptografia para informações, permitindo que somente determinados players tenham acesso a certos dados.

Marcelo Yared, CIO do Banco Central do Brasil, aponta também algumas questões com relação à regulamentação da tecnologia – especialmente o âmbito dos serviços financeiros. “Transparência é bom, mas órgãos reguladores têm de cuidar de aspectos de liberdade e sigilo [de dados]”, aponta. O executivo conta também que dentro do Bacen já há algum tempo se observa a tecnologia, possibilidades de uso e o impacto que isso poderia trazer à sociedade.

Durante sua apresentação na conferência, ele apontou alguns prós e contras do uso de blockchain. “Ao mesmo tempo que tem-se aumento da resiliência, tem-se, por outro lado, uma governança mais complexa”, observa. Além disso, ele conta que há a segurança contra fraude, mas isso também pode representar dificuldade quando houver a necessidade de escalonamento.

Para ele, a tecnologia também está no auge da exploração e, como todo novo investimento, há a possibilidade de que muitos casos de uso não se concretizem. “Mas essa tecnologia não pode ser ignorada”, ressalta.

Quem também vem acompanhando de perto o tema é a Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), uma sociedade civil sem fins lucrativos criada por bancos em 2001 e que fornece soluções com foco no desenvolvimento do mercado financeiro. Na opinião de Joaquim Kavakama, presidente da instituição, o blockchain “é uma solução com grande potencial para resolver alguns problemas”, disse ele durante apresentação, ressaltando que ainda há muito a ser feito. “Todos estamos aprendendo, então não temos respostas específicas”, disse.

Kavakama cita, no entanto, que colaboração é crucial para o desenvolvimento dessa tecnologia de forma sustentável. “Se as regras não forem as mesmas para todos, não irá funcionar”, ressalta. E, por isso mesmo, é possível que demore um tempo para que a tecnologia se consolide. “Acredito que soluções que precisam que toda a cadeia se adeque [a elas] para que funcionem pode demorar mais de cinco anos [para adoção em massa]”, opina Osório. Para Alban-Salas, ter consenso é importante nesse caso, “porque é um esforço computacional”, complementa.

O item colaboração também é ressaltado por Rony Sakuragui, gerente de pesquisa e inovação do Bradesco, que comenta que, por ser recente, muitas empresas podem ter medo de investir. “É natural a tecnologia precisar de alguns anos para amadurecer, igualmente quando se fala de regulamentação. Não sabemos os próximos passos”, completa ele. 

No caso do blockchain, no entanto, ficar na fronteira entre investir ou não tem seus riscos. “Espero até o final para ver o que acontece? Mas essa não é uma tecnologia que vou lá e adoto [e fim]”, argumenta. “[O processo de evolução da tecnologia] tem a ver com colaboração e ecossistema. Quanto antes entrar, maior a chance de influenciar e ajudar a criar esse ecossistema. Qual o preço para entrar depois? Não sabemos”, encerra.

No Brasil
Apesar de ainda parecer uma tecnologia insipiente, Robert Sagurton, diretor da R3 CEV, afirmou que o País está preparado para ser líder em blockchain. “Blockchain já é uma realidade, é o novo mundo, é trabalhar junto e fazer cada vez melhor”, observa.

A R3 é um consórcio de empresas financeiras que trabalham em uma iniciativa chamada Corda, que visa trazer uma solução baseada em blockchain para implementar infraestrutura de serviços oferecidos por esse segmento.

Para o executivo, o Brasil possui características únicas que o ajudarão a assumir posição na vanguarda da tecnologia, como redes de contatos, as quais já foram construídas e estão ativas; papeis e responsabilidades, que já estão definidos; trabalho em conjunto com entidades governamentais e órgãos reguladores, que já estão envolvidos e há colaboração entre setores público e privado – características essas que ele cita como faltantes em outros países, como Estados Unidos, onde a empresa tem sede.

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