A Inteligência Artificial já é realidade. No nosso dia a dia já a usamos muitas
vezes sem perceber. Praticamente 80% dos vídeos vistos no Netflix o foram por influência dos
algoritmos. Apenas 20% foram vistos após uma busca ativa por parte dos usuários. A IA não é mais
uma questão de “será que vai acontecer”, mas de “em quanto tempo
acontecerá”.
Qual será o papel da IA na sociedade? Os robôs substituirão
pessoas? Sim e não.
Certamente, as pessoas que executam tarefas repetitivas terão suas
tarefas substituídas por robôs. Mas, o mais provável é que a IA venha a
aumentar o desempenho humano, automatizando certas partes de uma tarefa,
permitindo que os indivíduos se concentrem em aspectos mais “humanos”,
que exijam habilidades empáticas, sociais e inteligência emocional. No futuro
próximo, trabalhadores e máquinas trabalharão em conjunto, cada um
complementando os esforços do outro.
Ótimo, mas o departamentos de RH terão que
desenvolver novas estratégias e ferramentas para recrutar, gerenciar e formar
uma força de trabalho híbrida humano-máquina. É uma mudança significativa nas
formas de como RH seleciona, contrata e avalia profissionais. Demanda uma
redefinição das funções atuais e a acomodação de novas funções, que nem existem
hoje no vocabulário de RH.
Dado a forma como os modelos de trabalho tradicionais, definições
de carreira e o setor RH estão arraigados, a reengenharia do trabalho em torno
da IA será um grande desafio. Vai demandar novas formas de pensar sobre
empregos, cultura empresarial, tecnologia e, o mais importante, pessoas.
Não existem mapas prontos. Mas, alguns fatores são críticos,
como a cultura organizacional, a demanda por novas formas de educação e as
mudanças regulatórias.
De maneira geral, a cultura de uma empresa baseia-se em funções bem definidas, com profissionais realizando tarefas específicas
dentro de processos já estabelecidos e consolidados. Os funcionários têm concepções
definidas sobre a natureza do seu emprego, suas carreiras, e usam tecnologia como
apoio à algumas tarefas. Mas o que acontecerá com essa cultura se você mudar
alguns papéis e tarefas tradicionalmente realizadas por pessoas para serem executadas pelos chabots? Sairemos
de um trabalho essencialmente humano, com uso de tecnologia como apoio, para um
trabalho colaborativo, onde pessoas e chatbots interagirão para resolver
uma determinada questão. O robô passa a ser um colega de trabalho. Enquanto o
bot se concentra nas atividades rotineiras, a pessoa passa a atuar de forma que
sua criatividade, empatia e sociabilidade façam a diferença. As métricas de
avaliação passam a ser outras.
Os profissionais nas novas funções deverão estar tão
acostumados com uso de tecnologias como IA que nem pensarão nela como
tecnologia, mas como parte integrante e indissolúvel de sua atividade. Por
exemplo, hoje nem imaginamos qualquer atividade sendo realizada sem a onipresença
da energia elétrica. Computador também estão se tornando invisíveis. Há uns
quinze anos atrás era comum ouvirmos “vou para o computador”. Hoje ele está no
nosso bolso.
Será o mesmo com IA, um termo que tenderá a desaparecer.
A futura atividade do que chamamos hoje de RH passará por
mudanças profundas. Quando vemos atividades repetitivas sendo substituídas por
máquinas, vemos o perfil de qualquer profissional mudar radicalmente. Por exemplo, quando
algoritmos vencem advogados na análise de contratos de NDA (An
AI just beat top lawyers at their own game) tanto em precisão,quanto em tempo (contra os 92 minutos gastos em média, pelos advogados,
para revisar contratos, o algoritmo resolve em 26 segundos) este tipo de
tarefa passará a ser realizado cada vez mais pelas
máquinas. Não há o que discutir. Os advogados terão que realizar tarefas mais
sofisticadas e talvez não precisemos de tantos deles quanto hoje.
Quantos
estão preparados para desempenhar as tarefas mais complexas? Qual será o perfil
destes novos advogados? Um alerta surge deste exemplo: as tarefas executadas por
profissionais mais juniores serão as mais afetadas. Este artigo, “New
Study: Artificial Intelligence Is Coming For Your Job, Millennials”, propõe
que as tarefas mais simples tendem a ser executadas por profissionais em início
de carreira e, portanto, são as mais vulneráveis.
Os critérios de avaliação também mudarão. Hoje são muito
baseadas em métricas de desempenho numérico, típicas de produtividade industrial,
como número de contratos analisados por dia ou número de atendimentos por hora.
Mas com as atividades repetitivas sendo automatizadas, os profissionais estarão
mais envolvidos com as atividades que exigem sociabilidade, empatia,
criatividade e imaginação, que não podem ser mensuradas da mesma forma que
atendimentos por hora.
E quanto à novas profissões? A possibilidade de surgirem
novas atividades, a ritmo acelerado, é grande e isso vai nos levar ao desafio
de como fazer descrições de tarefas para algo que não dominamos.
Uma questão interessante é que, à medida que a tecnologias
como a robótica e IA se entranham no dia a dia, as fronteiras entre TI e RH
tendem a desaparecer. Integrar tecnologias e pessoas será uma tarefa
multidisciplinar.
A IA vai possibilitar uma integração entre pessoas e
máquinas muito mais intensa que hoje. Esta nova maneira de trabalhar afetará
a forma como interagimos uns com os outros. Hoje é comum os funcionários se
comunicarem com seus colegas por e-mail, Messenger ou WhatsApp. A troca de
ideias pode gerar inovações e novas percepções de como fazer o trabalho. Mas,
e quando companheiros de equipe forem bots? Uma interação com eles para resolver
uma questão seria compartilhada com os outros de que forma? Tanto o funcionário
como os bots poderiam aprender com a resposta encontrada, mas é fundamental
que as demais pessoas envolvidas também usufruam dessa nova solução.
Um questionamento que irái acontecer, inevitavelmente, será em
relação à privacidade. Como é perfeitamente possível que toda interação com
bots seja capturada e armazenada, seria algo como ter toda e qualquer conversa
que as pessoas fazem hoje em uma empresa sendo automaticamente filmadas e gravadas.
Pode gerar desconforto, ao menos no início.
Os princípios e modelos organizacionais que usamos hoje,
baseados nos conceitos da sociedade industrial, não serão mais adequados. A automação e o uso intenso de IA vai
desagregar as atuais funções em tarefas e subtarefas que poderão ser
automatizadas. A questão em aberto é como agregar de uma nova forma as tarefas que não poderão
ser automatizada. Provavelmente, o
conceito do que entendemos como uma profissão ou função, hoje, mudará por completo. Recomendo, para
aprofundar o tema, a leitura do artigo “Thinking
Through How Automation Will Affect Your Workforce”, publicado pela Harvard
Business Review.
Por onde começar? Antes de mais nada é essencial ter uma
estratégia de IA. Não é mais opção, mas questão e sobrevivência. IA será a nova
eletricidade, e da mesma forma que hoje todos os negócios funcionam com eletricidade, os negócios
do futuro serão motorizados pela IA.
A implementação da estratégia passa por um planejamento
adequado. Máquinas e os seres humanos podem trabalhar muito bem juntos, se
anteciparmos os desafios e procuramos ter uma visão de futuro da nova organização. Isso passa por uma revisão das funções e
tarefas atuais, sua desconstrução e identificação de quais serão exclusivamente
humanas, e quais e quando poderão ser automatizadas, além de como o trabalho colaborativo
com as máquinas vai será realizado.
Devemos ter em mente que os computadores não substituirão os
humanos. Substituirão suas funções. Serão complementos para os humanos e não seus
substitutos. Os negócios mais valiosos do mundo, nas próximas décadas, serão
desenvolvidos por empresas que usarão a IA para fortalecer as pessoas e não
para torná-las obsoletas. Serão vencedoras as empresas que souberem fazer
com que os sistemas de IA ajudem os humanos a fazer o que antes era
considerado inimaginável, com maestria. A IA não envolve uma equação de soma zero, humanos
versus IA, mas sim de complementaridade, humanos mais IA gerando mais
inteligência.
(*) Cezar Taurion é head de Digital Transformation da Kick Ventures e
autor de nove livros sobre Transformação Digital, Inovação, Open
Source, Cloud Computing e Big Data
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