Como avalia Sandy Andelman, cientista-chefe da Convservation International (CI), a TI tem transformado todo o setor que é passível de mensuração. No caso da organização ? que trabalha em 16 países ao redor do mundo na tentativa de colaborar com a preservação de espécies, sobretudo, em florestas tropicais como a Amazônia ?, o desafio estava em coletar informações de diversas fontes, com dados estruturados e não estruturados, vindo de mais de 80 associações e governos com quem a CI mantém convênio, além de sensores climáticos que enviam dados a cada cinco segundos e câmeras que monitoram animais nas florestas.
A especialista lembra que 193 países são signatários da Convenção de Biodiversidade da Organização das Nações Unidas (ONU), contudo, no geral, eles falham na publicação de seus relatórios por não tratarem as informações da forma correta ou mesmo por falhas nos sistemas de monitoramento.
?Em 2010, esses países não podiam falar como estavam em termos de proteção ambiental. Hoje, não podemos imaginar uma situação como essa. Minha visão é a de cobrir o planeta a partir de dados, colaborando com várias instituições e ultrapassando fronteiras?, comentou. Juntamente com Jorge Ahumada, diretor-executivo e técnico da ONG, Sandy concedeu entrevista à IW Brasil em Barcelona, durante o HP Discover, evento da fabricante para clientes e parceiros.
Aliás, é com esta fabricante que a organização firmou parceria recente para lidar com esses dados e gerar relatórios mais inteligentes possíveis. ?Para ter sucesso, precisávamos ser mais inteligentes e a HP está nos ajudando nessa jornada, estamos ficando mais rápidos e podendo entender melhor as mudanças ambientais a fim de garantir um futuro melhor?, pontuou Ahumada.
A seguir, você confere os principais trechos da conversa.
IW Brasil – Quando vocês começaram a usar tecnologia para capturar e distribuir informações sobre mudanças climáticas e até mesmo monitorar diversas espécies de animais?
Jorge Ahumada – O projeto começou em 2002 e levou muito tempo até construirmos nossa rede. A coleta real de informações começou em 2007 e, desde então, temos investido muito nisso, especialmente no monitoramento dos animais. Com relação às mudanças climáticas, conseguimos coletar os dados desde 2002.
IW Brasil – Você comentou antes da entrevista que precisa de mais inteligência, quando você chegou a essa conclusão?
Ahumada – Começamos com o que que chamamos de tropas de câmeras, tínhamos 69 câmeras espalhadas por 60 localidades. Ninguém fazia isso na época e ninguém sabia que tipo de informação teríamos. Mas isso foi crescendo. E como você sabe, leva muito tempo para analisar esse amontoado de dados.
Sandy Andelman – O que aconteceu é que começamos com pequenas áreas, 20 quilômetros quadrados, colocamos as câmeras e calculamos. Para sermos capazes de monitorar a mudança da população de animais, quantas imagens precisamos? Iniciamos uma série de cálculos e chegamos à conclusão de que precisaríamos cobrir 200 quilômetros quadrados. Quando conversávamos com cientistas e outros parceiros nos países, eles achavam tal missão impossível. Não há como colocar essas câmeras, mantê-las e usar as informações delas. Ao final, todos nós acompanhamos. Isso se tornou um grande desafio. E parte do desafio era até proteger esses equipamentos das pessoas, já que as câmeras atraem pessoas. Quando evoluímos, começamos a trabalhar com uma câmera por quilômetro quadrado. É como design, as pessoas caminham, precisam medir e escolher os pontos mais adequados para instalação dos equipamentos. E como a cobertura de rede nas florestas é baixa, pode levar muito tempo. Temos um GPS especial para essas situações.
IW Brasil – Como tem sido o trabalho no Brasil?
Ahumada – Não encontramos nada fora do comum, temos dois pontos na Amazônia brasileira, um em Belém e outro em Manaus.
Sandy – Usando os dados dos time e das árvores e de outros cientistas, percebemos que o impacto do desmatamento em 2009 foi grande. Em vez eliminar carbono, a floresta estava emitindo carbono e isso é importante, já que o mundo precisa da Amazônia e da floresta do Congo para eliminar carbono. Então, se o desmatamento cresce, teremos mais CO2 na atmosfera. E para ter isso em mãos, é preciso um sistema de monitoramento consistente ano a ano, só assim poderemos responder a todos os desafios.
IW Brasil – Falando um pouco sobre as câmeras, como vocês lidam com as fotos que são geradas? Os arquivos são muito pesados?
Ahumada – As imagens têm, em média, um megabyte. Não são grandes, mas quando você pensa no todo, são 15 mil imagens geradas por cada site por mês, isso dá três ou quatro gigabytes de dados no formato imagem enviados por cada site. Essas imagens são transferidas de um cartão de memória para um computador localmente e enviadas a um servidor central. Cada câmera custa, em média, US$ 500, mas elas são especialmente feitas para locais onde chove e faz muito calor. Monitoramos absolutamente tudo que cruza na frente delas. Como desafio, fica o fato de não termos informação sobre a maioria das espécies.
IW Brasil – Com quantas fontes de informações vocês trabalham, já que contam com 83 parceiros ao redor do mundo?
Ahumada – A maior parte dos dados são estruturados. Temos mais de mil câmeras instaladas, 260 sensores de clima que enviam informações a cada cinco segundos, cinco mil espécies de árvores monitoradas e 70 mil árvores monitoradas individualmente.
IW Brasil – Como tem sido o trabalho de tratamento de imagens com o sistema de analytics?
Ahumada – Tratamos as imagens como informação dentro do Vertica e calculamos como a espécie muda ao longo do tempo. Para fazer isso, preciso rodar modelos muito sofisticados e caros, e isso leva tempo, poder computacional, assim aliamos o Vertica com outras soluções estatísticas.
IW Brasil – Quando vocês começaram de fato a parceria com a HP?
Ahumada – Começamos essa parceria há um ano e agora estamos com muita coisa rodando. Antes, usávamos os super computadores instalados na Universidade de San Diego para armazenar e analisar informações. Para o trabalho que fazemos, precisamos de poder computacional e ?paralelizar? o código. É complexo explicar, mas pense num supermercado com um só caixa e muitas pessoas com compras para pagar. Para não ficar muito tempo na fila, os supermercados usam vários caixas, ou seja, tendo paralelos, leva menos tempo.
IW Brasil – No site de vocês consta um trabalho forte com pequenas comunidades nos 16 países de atuação. Como é a dinâmica? Essas pessoas ajudam na coleta de dados e como vocês distribuem essas informações depois de processadas?
Sandy – Primeiro é importante dizer que eles não ajudam, eles integram nossa rede e nós os ajudamos depois. A ausência de ferramentas e treinamento para gestão e análise de dados são as principais deficiências. Quando nossos times estão em zonas afastadas, eles oferecem treinamentos em análise, por exemplo, mostrando que eles podem fazer muito com o que já possuem.
Ahumada – No caso da distribuição de dados, temos um portal centralizado com todos os dados lá. Temos um sistema complexo de monitoramento, temos uma ferramenta que programam alguns momentos de coleta e quando não acontece, alguém recebe mensagem. Uma vez que recebemos o dado no banco de dados, processamos tudo.
IW Brasil – Como vocês lidam com a conexão de internet nesses locais?
Ahumada – Conversamos com os nossos sites para buscar a melhor alternativa e em muitos casos não há muito o que fazer. Por vezes, nosso pessoal precisa viajar até outra cidade para enviar os dados pela falta de conexão.
Sandy – E não podemos lançar mão de um satélite, os custos são muito elevados. Mas pense como a tecnologia mudou nos últimos dez anos. Estou segura de que mudará muito nos próximos anos e essas localidades provavelmente terão conexão com internet.
IW Brasil – Quais os próximos passos do projeto?
Sandy – Existem outras instituições fazendo trabalhos parecidos, mas os dados são muitas vezes inacessíveis. E o que temos feito, desde o ano passado, é federar as informações. Não estamos colocando tudo em um banco de dados imenso, mas algumas pessoas podem buscar online e ter uma noção do que está acontecendo. É preciso federar a informação, com os meus dados sendo combinados com os de outras pessoas. Já temos essa possibilidade hoje.
IW Brasil – Como está a relação de vocês com os governos e como a tecnologia pode melhorar isso por meio da qualidade que os relatórios ganharam agora?
Ahumada – Existe uma grande necessidade para os governos na parte de relatar o que realmente acontece nos países. No caso Brasil, especificamente, você sabe que a floresta é monitorada, mas não sabe o que acontece lá dentro. Em outras localidades não há nada, ou seja, vocês estão mais avançados e estamos trabalhando cada vez mais próximos dos governos.
Sandy – Quando olhamos para o governo, há um ponto interessante relativo às câmeras de monitoramento. Elas são uma fonte econômica para coleta de dados. Os países podem usar em áreas protegidas, e nem digo instalar em 100% desses locais, pode ser via rodízio. Com US$ 2,5 mil por ano, um país pode monitorar, dependendo do tamanho da área protegida, até 30% da área e isso não é nada perto do benefício que pode trazer. Estamos tentando demonstrar para alguns países como usar isso como ferramenta e o Brasil é um deles.
*O jornalista viajou a Barcelona a convite da HP