Andy Weir, o programador que escreveu a história de “Perdido em Marte”
Escritor fala sobre a carreira de desenvolvedor e diz duvidar que Nasa conseguirá mandar missão tripulada a Marte em 2030

O autor do livro “The Martian”, que inspirou o filme “Perdido em Marte”, tem suas dúvidas de que a Nasa atingirá seu objetivo de enviar astronautas ao planeta vizinho até meados de 2030. Mas uma coisa o escritor Andy Weir tem certeza, ele definitivamente não seria corajoso o suficiente para ele mesmo ir na missão.
O filme, dirigido por Ridley Scott e estrelado por Matt Damon, conta a história de um astronauta americano que fica isolado no Planeta Vermelho e precisa descobrir como sobreviver até – e se – outra missão da Nasa resgatá-lo.
Weir já foi programador do Sandia National Laboratories, grande laboratório de pesquisa e desenvolvimento dirigido pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos.
Seu pai foi físico de partículas e sua mãe engenheira elétrica, então Wier nunca foi um estranho à ciência e tecnologia. Ele cresceu lendo ficção científica e era questão de tempo para um dia combinar seu conhecimento em ciência, exploração espacial à escrita.
Em entrevista a Computerworld EUA, Weir fala sobre o que sente falta na programação, do trabalho no Sandia National Lab, por que não conseguiu um emprego na NASA e quais tecnologias têm o intrigado atualmente. E sim, ele dá algumas dicas sobre o seu próximo livro.
Observação: a entrevista foi dada antes da NASA anunciar que havia descoberto evidências de água em estado líquido na superfície de Marte.
Computerworld EUA – O que você achou do filme?
Andy Weir – Eu gostei. Eles fizeram um trabalho fantástico.
Computerworld EUA – Como você entrou na programação?
Weir – Eu brincava com computadores quando era criança e eu gostava. Eu comecei no Sandia aos 15 anos e trabalhei durante todo o colégio.
Eles tinham um programa onde contratavam adolescentes locais para serem assistentes do laboratório, limpando tubos de testes e esse tipo de coisa. O laboratório em que eu fui colocado não precisava de limpadores de tubo, eles precisavam de alguma ajuda com computadores. Eles queriam que eu descobrisse como programar computadores. Eles disseram: ‘há um computador e há um livro sobre como programá-los’. Foi assim que comecei uma carreira de 25 anos em programação.
É difícil dizer como minha vida poderia ter sido se eu não tivesse indo para o Sandia. Foi isso que me deu vantagem na programação.
Computerworld EUA – Você sente falta de programar?
Weir – Sinto falta de ter uma equipe e eu sinto falta de ir ao trabalho todas as manhãs e trabalhar com pessoas. Como um escritor, eu meio que sento num canto com meu gato sentado no meu colo. Essa é toda a companhia que eu tenho recebido nos últimos dias.
Computerworld EUA – Por que você deixou a programação para se tornar um escritor?
Weir – Eu entrei na programação como uma carreira. E eu gostava muito. Eu nunca tive um problema com isso. Quando chegou a época para eu deixar o meu emprego e começar a escrever, não foi como “pegue o seu emprego e vá embora”. Eu gostava do meu trabalho.
Eu era um cara de tecnologia, mas eu sempre quis ser um escritor. Eu considerei isso como um caminho para a carreira, mas eu gosto de ter refeições regulares… Meu sonho principal era ser um autor, então agora que eu encontrei meu caminho para isso, eu vou ficar.
Computerworld EUA – Seu livro tem como foco a Nasa e a exploração espacial, você já quis alguma vez trabalhar na Nasa?
Weir – Eu já tive interesse em trabalhar na Nasa, mas eu desisti da faculdade por que acabei ficando sem dinheiro. E a maioria das vagas na agência exigiam um diploma da faculdade, então eu simplesmente não conseguiria chegar lá. Eu converso com pessoas na Nasa agora. Quando eu escrevi o livro, eu não conhecia ninguém por lá. Mas agora sim. Quando eu tenho alguma dúvida agora, eu posso ligar para alguém lá.
Computerworld EUA – Por que focar seu primeiro livro em Marte?
Weir – Eu acredito que tenha um grande interesse público nisso e eu não estou imune ao assunto também. É o próximo lugar a ir. É a próxima coisa da lista. E está a nossa espera, nos tentando. Há algo de profundo na natureza humana. Nós temos o desejo de ir a lugares que a natureza nos diz não vá.
Computerworld EUA – A Nasa planeja enviar humanos a Marte em 2030. Você acha que ela conseguirá?
Weir – Eu acredito que é um pouco otimista. Eu acredito que será mais provável em 2050. Realisticamente, eu acho que a primeira missão tripulada a Marte será um esforço global. Vai ser um grande, velho esforço global.
É um palpite aleatório, mas 2035, vamos dizer, é apenas daqui a 20 anos. Quantos avanços espaciais nós tivemos nos últimos 20 anos.
Nós construímos a Estação Espacial Internacional e nós cancelamos o programa de ônibus espacial. Eu simplesmente não vejo todos os avanços necessários para uma missão tripulada para Marte nos próximos 20 anos.
Computerworld EUA – O que você pensa a respeito das descobertas que rovers estão trazendo sobre Marte, encontrando evidência de água no solo e outros elementos de vida?
Weir – Marte, nós sabemos, tem tudo que você precisa para ter vida. Isso significa que se houver uma colonização humana em Marte, eles teriam chances de crescer a colônia sem ter de importar coisas da Terra. Há literalmente tudo que você precisa lá.
Computerworld EUA – Você pessoalmente deseja ir para Marte?
Weir – Nãoooo. Nem sonhando. Eu escrevo sobre pessoas corajosas. Eu não sou uma delas.
Computerworld EUA – Que tecnologia tem interessado você agora?
Weir – Eu realmente estou interessado em tecnologia direcionada por íon. Eu penso que é uma questão crítica para exploração interplanetária. Também estou interessado em habitats infláveis que consigam ter um peso menor com um volume grande. Seria leve, mas sólido e quando você lançá-lo, não precisará ser tão grande. Isso reduziria os custos de lançamento.
Computerworld EUA – E sobre o que é o seu próximo livro?
Weir – Por enquanto, eu o estou chamando de Zhek. É mais uma ficção científica tradicional com alienígenas e mais rápido que a viagem a luz.
(A expectativa é que o livro seja publicado no final de 2016, disse Weir)