Cinco lições que o comportamento dos macacos pode nos ensinar sobre inovação

Eis algumas observações específicas no campo de gestão de inovação nas empresas

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3:38 pm - 04 de dezembro de 2015

Você já deve ter lido  em vários blogs e artigos na Internet a famosa história sobre “os macacos e a banana”. Se não leu, com certeza vale a pena ler. A história fala sobre cinco macacos, uma escada e uma banana, na qual o principal argumento diz respeito ao comportamento humano de não contestar suposições.

O pano de fundo sobre a realidade e a ficção por trás desse conto pode ser lido em um artigo publicado na revista Psychology Today: “O que os macacos podem ensinar sobre o comportamento humano: dos fatos à ficção”, de Dario Maestripieri, professor de desenvolvimento humano, biologia evolutiva e neurobiologia da Universidade de Chicago.

Então, o que os macacos podem nos ensinar sobre a conduta das empresas com base em seu próprio comportamento?

Eis algumas observações específicas no campo de gestão de inovação nas empresas.

Evoluir ou morrer
Sim, os macacos fazem isso há bastante tempo. Hoje, existem aproximadamente 260 espécies vivas conhecidas. Você também pode ter ouvido recentemente o mantra “evoluir ou morrer” em relação às empresas e à transformação digital. Curiosamente, isso não é uma grande novidade. O bordão “evoluir ou morrer” existe desde a era das empresas digitais no final da década de 1990, e até antes disso. O que é novo e diferente na versão atual é o ritmo das mudanças com que estamos lidando em termos de velocidade de inovação e agilidade com que os novos modelos de negócios superam os mais antigos.

Como as previsões visionárias de Kurzweil sobre o crescimento exponencial da inovação tecnológica, o ritmo da inovação nos negócios está seguindo uma trajetória semelhante, talvez não exponencial, mas acelerada. Por exemplo, ao passo que 89% das empresas da Fortune 500 saíram do mercado entre 1955 e 2014, nos últimos anos, de acordo com R “Ray” Wang, da Constellation Research, 52% passaram por fusões, aquisições, falências ou saíram da lista apenas a partir de 2000. Para acompanhar esse ritmo de mudança, é preciso evoluir o programa de inovação da empresa e adaptar-se às novas exigências da transformação digital. O meu artigo “5 ideias para adaptar os programas de inovação à transformação digital” descreve cinco maneiras importantes pelas quais um programa corporativo de inovação deve mudar ou ser ajustado para apoiar da maneira mais eficaz a transformação digital, tanto agora como nos anos futuros.

Comer devagar
Podemos achar que os macacos passam o dia todo sentados comendo muita banana, mas na verdade eles comem poucas. Em estado selvagem, as bananas representam uma pequena parte de sua dieta e, em cativeiro, muitos jardins zoológicos restringem a ingestão de bananas a duas por dia, ou até nenhuma, devido ao seu elevado teor de açúcar. Em termos de inovação empresarial, para lançar uma nova iniciativa global de gestão da inovação é importante tentar não fazer muita coisa em pouco tempo. É preciso dar à empresa algumas bananas de cada vez, em vez de jogar a cesta inteira sobre ela.

Uma organização que adota novos processos de inovação só pode assimilar uma determinada quantidade de mudanças por vez. Então, em vez de tentar implementar um novo programa de ponta como um grande acontecimento, é importante introduzir diversas iniciativas a partir de uma abordagem gradual, dando tempo para a empresa digerir as mudanças. Por exemplo, é possível dar início aos processos internos, como comunidades de inovação, metodologias, repositórios, painéis de controle e métricas, antes de levar a inovação colaborativa aos clientes e parceiros (ou vice-versa).

Ser sociável
Um dos padrões de grupo social dos macacos é a sociedade de fissão-fusão demonstrada pelos chimpanzés. Segundo um tutorial do Dr. Dennis O’Neil sobre comportamento dos primatas,”uma sociedade de fissão-fusão é aquela em que o tamanho e a composição do grupo social mudam ao longo do ano, com diferentes atividades e situações”. 

As comunidades de inovação também precisam ser altamente adaptáveis. É importante conhecer as comunidades-alvo e os papeis de inovação. Embora alguns fóruns de ideias sejam abertos a todos os funcionários, como um fórum de sugestões gerais, é essencial conhecer o público-alvo, os tipos de ideias que deseja solicitar e os resultados específicos de negócio que deseja obter de cada um.

Pensando na estratégia de inovação aberta, é possível desenvolver um plano para promover o envolvimento dos clientes e parceiros de negócios, além dos funcionários. Também se pode explorar o conceito de olheiros e corretores de inovação para saber se esse modelo funciona na sua organização. Basicamente, os olheiros e corretores são recursos formalmente atribuídos que buscam por oportunidades e depois as encaminham às partes competentes da empresa. Para que todos falem a mesma língua, já que inovação normalmente significa coisas diferentes para pessoas diferentes, é importante também apresentar uma significação precisa para o termo.

Seguir um ritmo natural
Assim como os primatas e macacos seguem ritmos naturais diários e sazonais, é importante que os processos de inovação se alinhem às necessidades táticas e estratégicas da empresa e as apoiem. Isso significa que provavelmente haverá necessidade de uma combinação de dois tipos de processos de criação, como parte da estratégia geral de inovação da empresa: um contínuo e outro com base em eventos.

* Geração de ideias por eventos: varia entre eventos de inovação de grande porte, como “sessões de inovação” de um ou mais dias para concursos e parcerias com laboratórios de inovação, até oficinas extremamente focadas no assunto, com um grupo seleto de especialistas.

* Geração contínua de ideias: varia entre distribuir caixas de sugestões pela empresa e bancos de dados de inovação com vários níveis de sofisticação, até processos de criação mais dirigidos, geralmente alinhados com as comunidades estratégicas, ou ciclos de planejamento estratégico corporativo.

Implementando uma abordagem de geração multimodal de ideias com processos de criação contínuos e sazonais, a empresa estará em boa situação para maximizar o potencial de inovação em todo ambiente de funcionários, clientes, fornecedores e parceiros de maneira sistemática e igualmente capaz de mobilizar sessões de geração de ideias como, onde e quando as oportunidades surgirem.

Usar as ferramentas certas
Os chimpanzés usam várias ferramentas e também as projetam e fabricam para fins específicos. Por exemplo: cupins estão entre seus alimentos preferidos e, de acordo com a OneKind.org, os chimpanzés são famosos por “pescar” os insetos retirando as folhas de um galho, colocando-o em um cupinzeiro e depois o retirando lentamente com os cupins presos.

Uma ferramenta em especial, muito bem-sucedida ao longo dos anos nas empresas, é o software de apoio às decisões em grupo, utilizado em sessões de criação e workshops de inovação. Além de permitir a coleta de um número muito maior de ideias, é muito mais eficaz do que utilizar papeizinhos colantes. Também é uma maneira mais democrática de coletar ideias de todo um grupo, em vez de apenas as dos “machos alfas” na sala, e ainda cria um registro eletrônico de toda a sessão, que pode também incluir os resultados de votações.

Além das ferramentas para geração de ideias, é útil examinar todo o programa de inovação corporativa. Para transformá-lo digitalmente, pode-se instaurar o mesmo raciocínio aplicado às suas atividades de inovação com foco externo. Por exemplo, pense em como as tecnologias SMAC podem viabilizar uma maior colaboração social, acesso móvel, análise aprimorada, uma distribuição econômica e ágil pela nuvem. Pense em como os processos de inovação podem ser reprojetados para serem mais voltados ao cliente e gerarem resultados em ciclos mais rápidos.

Como é possível ver, os programas de inovação empresarial precisam ser entidades vivas, que respiram e que estejam socialmente conectadas. Eles precisam adaptar-se constantemente ao ambiente, evoluir com os resultados de inovação esperados para os negócios, seguir ritmos naturais em processos de criação contínuos e por evento, além de estarem altamente sintonizados com a cultura corporativa e a disposição de assimilar as mudanças.

 

(*) Nicholas D. Evans lidera o Programa Estratégico de Inovação da Unisys

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