Sete motivos pelos quais a cooperação tende a sobrepor a disrupção das Fintechs
Ao que tudo indicada, a cooperação das Fintechs junto às instituições financeiras é um caminho mais viável que o da disrupção promovida por Fintechs isoladas, competindo no desenvolvimento de novos mercados e serviços

Estive,
recentemente, em uma reunião na BM&FBOVESPA com André Demarco,
diretor de Produtos da Bolsa. Também estava presente um especialista de
tecnologia da Cedro Technologies, Thiago Reis, conversando conosco sobre
blockchain, disrupção do ensino de finanças e mercados, experiência de
usuário (UX) e novos modelos cooperativos entre startups e empresas
financeiras tradicionais. Nesta conversa, como em dezenas de outras
reuniões e apresentações que realizamos, ou ainda em qualquer bate papo
sobre empreendedorismo e inovação, sempre surge a discussão em torno da
experiência do usuário (UX) e também em torno de disrupção.
Há
muita discussão em torno de disrupção e também muita confusão no uso do
termo. Mas afinal de contas o que é a disrupção? Quando podemos dizer
que de fato há uma disrupção? De acordo com o dicionário Dicio,
disrupção significa “Ruptura, rompimento e fratura”. Em outras
literaturas podemos encontrar simplesmente o significado de disrupção
como sendo a “interrupção do curso normal de um processo”.
Quando
falamos em disrupção precisamos ter em mente que um novo produto ou
serviço é disruptivo quando cria um novo mercado com rompimento de um
mercado já existente, com processos e funcionamento mais simples. É
disruptivo quando há um custo/benefício estritamente melhor e, em geral,
é socialmente inclusivo, permitindo assim que pessoas que até então não
tinham acesso a determinado produto ou serviço, passam a tê-lo.
Um
forte exemplo de disrupção é o proposto pela Uber, que possibilitou o
transporte de pessoas com um menor custo, mais simples e rápido,
permitindo que milhares de pessoas pudessem ter o seu próprio emprego
(dirigindo um Uber) como também que centenas de milhares de pessoas não
transportadas por um serviço de Táxi, em função do custo, então
passassem a utilizar um serviço de transporte com muita praticidade e
custo acessível, sem falar no impacto positivo ao meio ambiente,
retirando milhares de veículos das ruas. A Uber é um excelente exemplo
de rompimento e ruptura dos tradicionais serviços providos pelos taxis
em todo o mundo.
Neste
sentido de disrupção, muito se fala nos últimos anos sobre as Fintechs e
que estas novas startups de serviços financeiros chegariam ao Brasil
para acabar com o reinado das instituições financeiras tradicionais
oferecendo melhores serviços, menor custo e mais acessibilidade. Seria o
fim dos bancos? De fato, acredito em determinado grau que tudo isto
possa acontecer em certos nichos e serviços. Todavia, acredito mais
no movimento da cooperação das Fintechs junto às instituições
financeiras do que necessariamente nas Fintechs isoladas, competindo no
desenvolvimento de novos mercados e serviços até então dominados
amplamente por instituições financeiras como bancos e seguradoras.
Neste
artigo listo alguns motivos pelos quais acredito mais no sucesso quando
há cooperação das Fintechs e instituições financeiras do que na
disrupção do mercado:
1. Regulatório e exigências legais.
No Brasil há uma forte estrutura normativa, regulatória e de
fiscalização do sistema financeiro nacional, dos participantes e
serviços providos. Estes processos regulatórios custam caro,
investimentos e tempo. Desta maneira, se uma Fintech permite se associar
à uma instituição financeira, esta fica responsável pelos processos
regulatórios e backoffice e a Fintech pode focar na experiência do
usuário (UX).
2. Cultura e segurança.
A cultura do brasileiro é, em geral, pela busca por segurança. Neste
sentido, os serviços que tenham uma excelente usabilidade, mas que
também estejam cobertos por uma sensação de segurança tendem a ser
melhor aceitos no mercado e pelos brasileiros.
3. Time to market.
A implementação de um excelente aplicativo, portal e tecnologia requer
um tempo de desenvolvimento ou tempo para tropicalização. No caso de
tropicalização cito as Fintechs e Startups estrangeiras que estão
desembarcando no Brasil e precisam ajustar seus sistemas ao mercado
brasileiro. Todavia, seja o esforço para desenvolver a Fintech ou para
tropicalizar algo já existente, este tempo é mínimo se comparado ao
tempo exigido para ter determinadas aprovações ou licenças de entidades
ligadas ao sistema financeiro nacional como o Banco Central. O tempo
para apresentar um projeto e aprová-lo pode causar o fracasso e a perda
do time (tempo) para lançamento da solução.
4. Investimento. Embora
a associação de uma Fintech à alguma instituição financeira (ou a
várias) possa traduzir na divisão da receita (em maior ou menor escala),
a Fintech pode se aproveitar da instituição financeira para prover
determinados investimentos ou até mesmo reaproveitar determinado
investimento já realizado pela instituição financeira em pessoas,
processos, serviços de backoffice e tecnologias. Por exemplo, uma
Fintech poderia prover o melhor Mobile Banking sem ter a necessidade de
criar um banco ou então criar uma excelente plataforma de investimentos
sem a necessidade de criar uma corretora de ações ou distribuidora de
títulos.
5. Base de clientes.
Começar do zero é um trabalho árduo e custa investimentos em
comunicação, publicidade, desenvolvimento de uma cadeia de parceiros de
negócios e outros. A cooperação das Fintechs com instituições
financeiras permite a essas herdar uma base de clientes já existente na
instituição financeira e talvez até a associação da marca da instituição
financeira, já conhecida no mercado, à Fintech.
6. Garantias.
Conforme apresentei no item 1 – sobre os aspectos regulatórios – além
do citado lá, para diversas atividades financeiras há a exigência de
garantias reais, fianças e depósitos iniciais que garantam as operações.
Em maior ou menor grau, dependendo do tipo de atividade, essas
garantias são na casa de milhares de reais. Baseado no cenário
brasileiro, de alta taxa de juros, a cooperação permite que a Fintech
possa se aproveitar das garantias já providas pela instituição
financeira sem que tenha que fazer os devidos depósitos.
7. Multi-instituições.
Há Fintechs que provêm serviços cooperados à uma única instituição
financeira, porém caso o modelo de negócios permita, uma Fintech poderia
ser associada a diversas instituições financeiras, podendo trabalhar
com um público e base de clientes maior e já existente. Em nosso exemplo
de Mobile Banking, um Fintech poderia prover este serviço para dezenas
de instituições financeiras em modelo não exclusivo, desta maneira
poderia alcançar mais clientes e deixar o usuário escolher em qual
instituição ele se sente mais confortável em utilizar, embora o front end seja o mesmo.
Certamente
veremos nos próximos anos a disrupção de algum serviço financeiro,
todavia tudo me leva a crer que empresas de tecnologia, startups e
fintechs nacionais e estrangeiras tenderão a se associar mais às
instituições financeiras do que travarem uma competição com estas.
(*) Leonardo dos Reis Vilela é CEO da Cedro Technologies